quinta-feira, 28 de junho de 2012

Vale soberano

A névoa alva nivela os montes no vale soberano
Torna-se  uma imensidão de algodão desfiado
Como se Deus o tivesse num sopro criado
Para que os anjos pudessem caminhar sobre o  plano.

O Rio do Peixe  se oculta calmo e sinuoso
Até o  ruído das aves some , esconde-se nas plantas
As mães protegem  seus filhotes com as asas  santas
A natureza repousa seu  concerto mudo, silencioso.

Vale encantado de nosso Rio do Peixe, que orgulho!
Venho do planalto e te contemplo  em todas as  manhãs
Mergulham  em ti os vindos  das paisagens  chãs
E eu também mergulho,  nesta tenra manhã de julho.


Euclides Riquetti
28-06-2012


quarta-feira, 27 de junho de 2012

Conhecendo melhor...

         Ao logo da vida, vamos formando conceitos sobre pessoas segundo o que lemos sobre elas ou delas ouvimos falar. Na verdade, somos induzidos a preconceitos por alguma razão e, sem que percebamos, acabamos por fazer um juízo nada verdadeiro, nada correto sobre pessoas, principalmente quando somos jovens e ainda muito influenciáveis. Há pessoas que imaginamos serem magníficas, pois de alguma forma nos seduzem e, com o tempo, nos decepcionamos por atitudes que vemos nelas e partindo delas. Mas, da mesma forma, há pessoas que, por não as conhecê-las, imaginamos que elas detenham determinado um tipo de personalidade, tenham características pelas quais foram ou são rotuladas e, na verdade, são diferentes disso. Hoje, em minha razoável maturidade, aprendi a admirar pessoas pelo que elas me mostram ser quando tenho contato pessoal com elas. Vou pela minha percepção e minha lógica, que me permitem fazer um melhor juízo de valor. .

          Quando conheci a Dra. Zilda Arns, lá em Brasília, e ela me perguntava como era minha cidade, Ouro, e me dizia sobre a sua, Forquilhinha, fiquei pasmo com a simplicidade daquela médica denentora de muitas honrarias, que não era famosa  por ser irmã de Dom Paulo Evaristo Arns, mas pelo que pensava e o que fazia pela criança brasileira. Encantei-me com aquela figura humana  humilde, simplória,  querida, que até me  deu ser cartão, ditou-me o número do seu celular para por nele, para ligar quando precisasse. Perdi-o com minha carteira, mas ficou em meu coração aquela expressão de bondade acolhedora que transbordava de seu coração e de seu semblante. Deus a tenha no céu, Lady Arns, mãe das crianças brasileiras.

          Ah, mas onde eu quero chegar é ao endreço de outra pessoa, a quem aprendi a admirar ao longo dos anos, mas  que,  nos "anos de chumbo" tentavam  transmitir uma falsa imagem dela, como se representasse um "perigo" para nós, catarinenses. Ah, quanto engano!

         Certa vez, em Floripa, num barzinho da área central, vi aquela figura de camisa branca, mangas curtas, calça escura, barba espessa, tomando um cafezinho, "na dele". Percebi ser o Professor Sérgio Grando, da Universidade Federal, o "jogador de dominó", muito admirado pelos seus alunos, e fiquei observando-o: era uma criatura tranquila, parecia que seu pensamento andava longe, longe... Depois, vejo-o Prefeito da Capital, Deputado, Diretor da FATMA e, agora, Diretor Geral da Agesan, a Agência de Saneamento de Santa catarina, eleito que foi. E, com os anos se passando, fui aprendendo a conhecer melhor o Grando, lendo sobre sua capacidade intelectual elevada, seu excelente nível de compreensão da cultura, suas posições políticas éticas, sobre seu entendimento "lógico e físico" da vida e das coisas que movem o Universo.

          Mas, o grande conhecimento sobre ele, auferi há uns três meses, quando esteve na Prefeitura do Município de Ouro. Aquele cidadão que eu parecia conhecer entrou em minha sala, foi pedindo licença, estendeu-me a mão, pediu-me onde tomaria um café e, quando fiz um movimento para buscar-lhe um café, perguntou: "Onde fica a cozinha?". Apontei com o dedo indicador e ele foi lá, pegou seu copinho no armário, tirou café da garrafa térmica, e voltou para minha sala. Num átimo pecebi que era ele, o Professor Grando, que tanto vira na TV e nos jornais.  Não havia sido anunciado, veio fazer seu trabalho, à sua maneira. Reunimo-nos com o Dr. Dirceu Andrade, Advogado, e com o Sidney Penso, também Advogado e Diretor do SIMAE, e o Grando passou a dar-nos uma aula sobre Meio Ambiente. Que pessoa admirável! Rápido e objetivo, nos mostrou os caminhos para a filiação dos Municípios à AGESAN e depois começou a falar-nos sobre as pessoas de nossa cidade que trabalharam com ele, outros que foram seus alunos na UFSC, etc. Falou-nos que o Engenheiro Rubens Bazzo trabalhou com ele na Prefeitura da Capital, que eram muito amigos, que o Dr. Clóvis (Castanha) Maliska é um grande estudioso e foi descrevendo muitos de nossos amigos e colegas de infância que foram-se mudando para Florianópolis e com os quais conviveu.

          Bem, na semana passada, novamente esteve conosco, Deixou-nos um documento que será assinado pelo Prefeito Miqueloto e encaminhado para ele e, depois, começamos a falar sobre cultura, história, etc, etc. Ele é uma das pessoas como o Dr. Alexandre Dittrich Buhr, juiz e escritor, que quando conversamos com eles só temos a aprender. E, depois, presenteou-me, autografando, com o livro "Dominó - Meu Sistema", do Fernando Coruja Agustini, prefaciado pelo Esperidião Amin e posfaciado pelo Sérgio José Grando. Em retribuição, dei-lhe o CD que foi gravado pelo grupo "Pìccola Itàlia Del ´Oro", com 12 músicas do cancioneiro italiano.

          É, foi muito bom ter compartilhado bons momentos com o Professor Grando, amigo de tantos amigos da gente, um bom exemplo de ética a ser seguido!

Euclides Riquetti
27-06-2012

       

domingo, 24 de junho de 2012

Voltando a Porto União

          Nesta sexta-feira, 22, estivemos em Porto União da Vitória para cumprir tarefas  da atividade pública, juntamente com o prefeito Miqueloto. Eram 12 Prefeitos da microrregião da AMMOC que estiveram recebendo retroescavadeiras doadas pelo MDA para  ações de agricultura nos Municípios inclusos no Programa Território da Cidadania. O evento aconteceu na Praça Hercílio Luz, a mais antiga e central de Porto União. Cursei letras e morei do início de 1972 ao de 1977 nas duas cidades gêmeas do Iguaçu.

          Voltar a uma cidade onde se viveu parte de nossa juventude, a melhor de nossa vida, é muito gratificante, para qualquer pessoa, de qualquer idade, e isso  nos devolve ao saudosismo, um sentimento sempre muito presente na minha vida, em particular.

          Conheci aquela cidade ao final de 1971, quando fiz minha inscrição ao vestibular para o curso de Letras/Inglês, na FAFI, hoje Universidade do Vale do Iguaçu. Fui levado pelo professor Teófillo Proner, de História, que era nascido em Lacerdópolis, fora seminarista e viera para lecionar no Belisário Pena, no Sílvio Santos e, parece-me, no Mater Dolorum. Hospedamo-nos no Hotel Central, ali próximo à estrada de ferro, apenas uma rua separando-nos. Do outro lado da via férrea, outra cidade, outro estado, fronteira entre Porto União e União da Vitória, Santa Catarina e PARANÁ.

          Apenas meia dúzia de horas e muitas lembranças na cabeça. Almoçamos no Restaurante X-Burger, que já em 1972 era o point da galera que saía da Faculdade para comer o "X-salada", uma novidade para a época. O "X" foi pioneiro no Sul do Paraná em termos de "fast-food". O Sérgio Ghidini, filho da Dona Honorina, com mais o Luiz Fernando, hoje marido da Iradi, minha irmã, era o "chef". Naquele tempo,o Sérgio andava com um Opala preto, coupê, zero quilometro, fazendo inveja para todos nós, que andávamos de bicicleta e que, no máximo, os acadêmicos que trabalhavam no Banco do Brasil, na Caixa ou na Petrobrás podiam andar com fuscas e, nos anos seguintes, com Brasílias, chevetes ou corcéis. Esses, sim, eram uns verdadeiros privilegiados, tinham bom emprego, carros bonitos, e muita moral junto às moçoilas. Quantas belas lembranças tenho disso. Ainda escreverei um texto apenas sobre isso.

           Mas, voltando à Praça Hercílio Luz, ali se situavam o Cine Odeon, o Cine Ópera, o Bar e Lanchonete do Bolívar, um grande salão de jogos de mesa, que ficava aberto a noite toda, e as damas da noite  faziam ponto, o Bradesco na esquina, e o primeiro supermercado de que tive notícias e era novidade, aí por 1973, o Supermercado Passos. Não era de acreditar que as pessoas podiam pegar as próprias mercadorias nas gôndolas e depois passar no caixa e pagar. E que havia muitas marcas de sabonetes, desodorantes, cremes dentais, balas, biscoitos, chocolates, que eram os produtos que os jovens das repúblicas de estudantes costumavam comprar. E, do outro lado dos trilhos, o Cine Luz, aquele em que passsavam os filmes de bang-bang. O  Ópera, era o cinema da elite, entrava-se pela frente, enxergando o rosto de quem chegara primeiro.

          E, ali bem à frente da bela Praça, numa esquina, o Hotel Lux. Mais adiante, defronte à Estação Ferroviária, o Hotel Internacional, onde, daquela sacada acanhada, bem ao seu centro, o revolucionário Getúlio Vargas, em 16 de outubro de 1930, proferiu inflamado discurso para milhares de trabalhadores. Afinal, ele era o "Pai dos Trabalhadores Brasileiros", venerado e idolatrado pelos mesmos.

          Hoje, a estação do trem, magnífica edificação que cobria o leito das estrada de ferro, e que tinha uma frente para o Paraná e outra para Santa Catarina, abriga a Câmara de Vereadores, e um Departamento de Cultura da Prefeitura de Porto União. Nas galerias da Câmara, fotos de seus ex-vereadores: Lá vi, com saudades a foto o Professor Abílio Heiss, que me lecionou literatura; do Álvaro Gaspre, (que morreu no domingo passado), e que foi nosso adversário nas lutas pelo controle do Diretório Acadêmico Alvir Riesemberg, da FAFI; o Frederico Slomp, hoje advogado bem sucedido, que foi meu aluno em1976, quando estava no último ano do Ensino de Segundo Grau, e já nos mostrava que tinha talento para a política e era um verdadeiro líder. Ainda, o Alvir Galle, que foi meu companheiro de Diretório na FAFI, quando tínhamos o saudoso Munir Cador como Presidente.

          Ah, certamente escreverei muito ainda sobre aquelas duas cidades históricas, sobre a "República Esquadrão da Vida", ali da Rua Professora Amazília, sobre meus colegas de faculdade, de trabalho e de república.

Ah, quantas saudades...


Euclides Riquetti
24-06-2012