Aweo Willys 1967: Igualzinho ao do meu sonho...
Releitura, 5 anos depois:
Penso que as pessoas, a maioria delas, têm comportamentos
distintos em si mesmas. Sermos diferentes dos outros já é da conta, mas
sermos diferentes em nós mesmos é algo para uma autoanálise. De repente
que as pessoas não param para ver como é isso, mas neste início de
ano percebo que desenvolvi alguns costumes habituais que se tornaram de
meu efetivo comportamento. Tenho um lado "A" e um lado "B". E isso me
assusta, pois, para minha paz, eu deveria ter somente o primeiro, o que
me soa como algo tenro, suave. Porém uma parte de mim está robotizada e
eu preciso superar isso. Por mim mesmo, sem ajuda profissional.
Segundo meus próprios entendimentos, advindos dos conceitos e
opiniões da galera do ramo, para a cura dos males, o primeiro passo é
reconhecer que se tem um mal. E o meu, pela minha avaliação, é esse
algo que me impele a fazer alguma coisa, em todos os momentos.Não
consigo ficar parado. Agora, por exemplo, enquanto escrevo ouço o
noticiário no rádio e oriento minha netinha a colocar seus livrinhos
numa caixinha.
Há algumas coisas que faço enquanto durmo: roncar,
revirar-me e, sobretudo, sonhar, e esta é um grande ganho de tempo,
pois quando se sonha dormindo podemos ter satisfações que a vida diária
não nos oferece. Por exemplo, quando tinha uns 17 anos e lavava carros
no Posto Dambrós, em Ouro, sonhei que meu pai tinha comprado o Aero
Willys do Oscar Goulart, genro do amigo dele, o Luiz Gonzaga Bonissoni.
Fiquei muito feliz, vivi meus quinze minutos de felicidade.
Quando acordei, fiquei decepcionado, ( a realidade é mais dura e
só seis anos depois a família comprou seu primeiro carro), mas
compensei isso colocando carros na rampa para lavar. Colocava a Kombi do
Chascove, a Veraneio do Dr. Vicente e a do Apolônio Spadini, os fuscas
do Breno Toaldo, da Celita Colombo, do Aílton Viel e do Meneghotto.
(Acho que lembro bem destes porque eram os que me davam gorjetas). Tinha
a F-100 do Doin, mas tinha também o Galaxie do Dr. Celso, o DKW do
Olávio Dambrós, o caminhão do José Andrade, a pick up do Antônio
Biarzi, a do Silvestre Godoy, e o caminhão do Zitro Brum, também alguns
jipes, muitos jipes.
O mais enjoado era o Laurindo Biarzi, com seu jipe "54". Mas
era a forma que eu tinha de materializar meus sonhos. Trabalhosa, é
claro, que me resultou uma pneumonia, um ano depois, curada pelo mesmo
Dr. Vicente da Veraneio, lá no Hospital Nossa Senhora das Dores, quando
já havia passado no vestibular. Fiquei uma semana internado...sonhando!
E tem o "sonhar acordado", que também pratico muito. Quando
meus filhos eram pequenos e percebiam que eu estava sonhando acordado,
pediam-me algo e eu respondia "sim". Depois, vendo o que faziam, eu
reclamava e eles diziam que eu tinha autorizado fazer aquilo. Eu não
lembrava, mas certamente havia permitido. Fiz isso enquanto sonhava
acordado.
Também tenho minha conduta romântica, as minhas inspirações,
meu afeto, minha grande capacidade de sentir, amar, querer, querer
proteger. Tudo no lado "light", o A.
Mas, o que me intriga, é esse meu lado "B". Acordo pensando no
que vou fazer. Sinto culpa se não tiver algo de concreto para produzir.
Quando em feriados, tenho que fazer algum reparo na casa (nova), cortar
grama, ajeitar a rua, lavar um carro, lavar calçadas, a louça...
Parece-me, sempre, que tenho que fazer algo material, braçal.
E, hoje, depois de 48 anos "batendo ponto" em alguma empresa,
escola ou repartição, é o primeiro dia em que estou livre de vínculos
profissionais. Sou apenas um professor aposentado. E isso me intriga.
Vou ver quanto tempo levarei para migrar minha cabeça para uma nova
situação. De repente que me livro desse lado "B". Escrever crônicas e
poemas está no meu "A". Posso começar lavando um carro, organizando um
monte de papéis, fazendo caminhadas, correndo... E ajeitar as malas para
uma bela viagem. E avolumar muito o lado "A" para que ele ocupe todo o
espaço que eu usava para praticar o meu lado robotizado. É, acho que é
por aí: começar um novo ano com uma nova postura, um novo e mais
agradável modo de viver. Não à autorrobotização!!!
E continuar escrevendo para que você leia!
Euclides Riquetti
02-01-2013