Quando eu tinha uns doze anos, eu ouvia falar que nas grandes cidades as pessoas tinham em sua casa um aparelho parecido com um rádio, maior, onde se viam outras pessoas que falavam, longe, até em outros países. Era o televisor e ele possibilitava que víssemos até jogos de futebol através de seu vídeo. Claro que o futebol, o jogo de domingo ä tarde, as pessoas conseguiam ver ali pela segunda-feira ä noite, bem tarde, quase terça. E com muitos grilos pulando na tela. Diziam que eram os chuviscos.
Lembrode quando e trabalhava com o Clarimundo Bazzi, ali em Ouro, no predinho do João Zaleski, e apareceu por lá o Leonardo Goelzer, que soube que o Bazzi tinha um desses aparelos, pois viera de São Paulo e se estabelecera com comércio em Ouro, em 1966. Estava mentalizando um projeto de instalar uma antena receptora/repetidora que possibilitaria assistirmos TV. O Bazzi se comprometeu a emprestar o aparelho para os testes, mas constatou-se que o mesmo estava "queimado".
O Goelzer aliou-se ao Alcedir Bebber, que junto com os irmãos tinha uma oficina de consertos de rádios, localizada sob a loja do Celso Farina, na Rua XV de Novembro, em Capinzal, ali onde fica o prédio do Cartório do Maliska. Iniciaram o arrojado projeto e instalaram a antena repetidora, como chamavam, nos altos do morro de Capinzal, aquele mesmo que abrigava o Colégio Mater Dolorum, mas num ponto bem mais alto, onde já havia a antena da antiga Rádio Sulina, provavelmente nas terras dos Lagni, ou pelo menos nas suas imediações.
Foram tempos de glória para nossa cidade. Os bares do Arlindo Henrique e do Canhoto tinham, num canto, ao fundo da sala, ao alto, um aparelho de TV, e os clientes assistiam à programação da época, o Telecatch Montilla, o Jota Silvestre, o Flávio Cavalcanti, a Hebe Camargo, em programação gerada pela Excelsior e pela Tupi. E havia filmes, noticiários, mas nada era em tempo real como agora.
As lojas do Farina, em Capinzal, e do Parizotto, em Ouro, passaram a vender televisores, além das geladeiras, rádios, máquinas de costura. E instalavam antenas com hastes de alumínio, nos telhados das casas. Conforme a localizacáo das casas se tinha melhor ou pior qualidade de imagens.
Durante 20 anos convivemos com isso. Nesse tempo, transferiu-se a antena para o morro de Nossa Senhora dos Navegantes, em Ouro, o que faciltaria a qualidade das imagens para Capinzal. E os que tinham aparelho, pagavam uma taxa de TV, nas prefeituras, que era para manter a torre e substituir as válvulas "Phlips"quando queimavam. E quem cuidava da antena e do aparelho retransmissor? O Alcedir Bebber, da Eletrônica Bebber, que recebia muitas ligações de reclamacão quando a TV não estava no ar. E lá subia com o seu fusca cinza para ver do que se tratava.E não foram raras as vezes em que vendavais colocaram a antena no chão.
Lembro bem que num domingo pela mannhã, em 1982, procurou-me para que fôssemos a Sede Sarandi, em Herval D 'Oeste, onde ficava a antena grande, que retransmitia a imagem recebida por satélite das geradoras até a repetidora de nossa cidade. Pegamos a rural azul e branca da Prefeitura, junoto com o Luciano Baretta, e lá fomos para ver o que acontecia. E o Alcedir, na época com seus 39 anos, subiu na torre e consertou o aparelho, substituiu válvulas, e ä tarde pudemos ver jogos de futebol. Nos domingos em que havia grenal, então, não podia faltar a imagem na TV. Nem quando era Vasco e Flamengo, ou Palmeiras e Corínthians. E, na semana, havia as mulheres que queriam ver as novelas...
Mas o auge de seu trabalho foi em 1986, quando trouxe as parabólicas da Amplimatic, fabricadas em São José dos Campos, e passou a vender. Lembro que ele e o José Dambrós foram os primeiros a terem a parabólica. Era um antenão, um círculo parabólico de almínio, com um pequeno aparelho receptor, que possibilitava receber mas de 20 canais de TV em casa. E custava uma fortuna. Era o mesmo valor que um autmóvel 1.6, de luxo, um Chevete ou um Gol.
E, posteriormente, o valor foi baixando, apareceram muitas marcas no mercado, vieram as TVs por assinatura, HDTV, essa evolução toda que você, leitor, leitora, bem conhecem.
O Alcedir nos deixou na manhã do dia 11 de outubro de 2012, véspera do Dias das Crianças e de Nossa Senhora Aparecida, o mesmo dia que o Sr. Ivo Luiz Bazzo. Deixou, como este, a marca de seu nome e de seu trabalho registrados em nossa história. E sua esposa, filhos, noras e netos, podem orgulhar-se del`. Não foi uma folha de papel em branco. Foi uma página com muitos registros no meio social, empresarial e cultural de nossas cidades. Nossa sincera homenagem ao amigo com quem convvemos muitos anos.
Euclides Riquetti
20-10-2012