Minha antiguidade é relativamente antiga. Já escrevi, em outras
oportunidades, sobre ser antigo. Sou muito, muito, mas nem tanto. Sou
do tempo em que os adolescentes levantavam muito cedo, no domingo, para
ir à Missa das Seis, na Matriz. Primeiro o "compromisso", depois a bola.
Então, a maioria dos amigos (eu ia com o irmão Ironi), levantava às
5,30, quanto tocava o sino, para ir à Igreja, "confessar", escutar bem o
sermão do Frei Gilberto "Fujão", do Frei Lourenço "Brabo", do Frei Tito
"Bondoso" e, depois, comungar. E, comungando, não poderia fazer pecado
no domingo, nem na segunda, nem na terça...
Então, o negócio era não pensar marotezas, nem dar caneladas
nos outros nas peladinhas do campínho, porque tudo isso era pecado,
muito pecado. E havia dos pecados veniais, que eram os mais simples,
mais fáceis de se obter o perdão por se tê-los cometido, que poderiam
ser extinguidos se estivéssemos arrependidos, mesmo sem contá-los ao
padre, bastando para isso declinar um simples "ato de contrição". Tinha o
grande e o pequeno, que era mais fácil de decorar. Se o pecadinho era
um "nadica di nada", podia ser o pequeno. Coisa assim como dar uma
olhadinha numa menina, coisinhas simples. Mas, se fosse uma coisa como
"pegar" uma pera do quintal do vizinho, mesmo que ela estivesse caído
com o vento, isso era roubo, um roubo leve, sim, mas isso era sério,
poderia se acostumar e, mais tarde, tornar-se um contumaz ladrão. Então,
por enquanto, precisava ser um "ato de contrição grande", que tinha no
livrinho de catequese. Era como uma medida liminar judicial, permitia
que você comungasse mesmo assim, mas, adiante, quando tivesse
oportunidade de confessar ao padre, mostrando aparente arrependimento,
após esse julgamento, estaria perdoado, e a alma, que enegrecera,
voltava à brancura. Ficava branca como camisa lavada com "Rinso".
Acho que a alma da Marjorie Estiano deve ter ficado um pouco
cinzenta quando ela casou com o Rodrigo, que era a grande paixão de sua
irmã, Ana, a bela tenista que se encontrava em coma, mãe da Júlia, em "A
Vida da Gente". E deve ter rezado pelo menos uns três "atos de
contrição", daqueles bem longos, quando a mana da Manu acordou, na
novela. Seria um "pecado mortal"??
Os pecados mortais rondavam as mentes perturbadas de minha
geração temente a Deus. Hoje, as pessoas nem sabem mais que pecados
mortais existem, e agridem, roubam, matam...
Quando o Pelé esteve em Capinzal, em 1989, estivemos com ele
lá na Perdigão. Estávamos eu, o Frei Davi, o Celso Farina, o Barzinho, o
Irineu Maestri, o Ademir Belotto, o Jaime Baratto, o Ronaldo Cheiroso
(que trabalhava lá), convidados pelo Altrair Zanchet. Com o "Rei",
viera o ator David Cardoso, o Rei da Pornochanchada, ator e diretor em
quase 100 filmes nacionais, protagonista da novela "A Moreninha",
sucesso da Globo, em que ele era o Leopoldo, e contracenava com a
Lucélia Santos.
Conversei muito com ele, ele havia sido candidato a Prefeito
no Mato Grosso, não lembro se em Campo Grande ou Dourados, perdera, e
queria saber como eu, com 35 anos, havia sido eleito Prefeito. Falei
sobre meu engajamento em causas comunitárias, sociais e culturais, minha
liderança junto a alguns segmentos sociais e profissionais, e que isso
me dera base para a conquista. Ainda, abordei-o sobre o filme Férias no
Sul, filmado em Blumenau e Gramado, em que ele contracenara com a Vera
Fisher, a glamourosa atriz e ex-miss brasileira. Contou-me que teve um
"flerte" com ela, que ela era "o máximo"... Ah, ele e o Pelé vieram
juntos porque estavam filmando no Pantanal, um filme de combate aos
matadores de jacarés, em que o Pelé era o Policial e o David Cardoso era
o mocinho. O ator tivera deliciosos pecados com ela, todos veniais,
compreensíveis...
Mas, como tenho afirmado, sou antigo, muito antigo. Sou do
tempo do Sapeca e da Tia Bena, do João Maria Barriga-de-Bicho, da Nega
Júlia, do Zeca Gomes, do Vinte-quatro... figuras folclóricas de Capinzal
e Ouro que, certamente, sabiam muito bem a diferença entre "pecado
venial e pecado mortal", mesmo que não tenham aprendido o "ato de
contrição", porque eram almas ímpias e puras, negros de alma muito alva,
da estirpe de nosso Cruz e Souza, sem pecados que lhe valessem qualquer
condenação...
Não sou tão antigo quanto o Simbolista, mas sou antigo, sim!
Euclides Riquetti
27-12-2011