sábado, 6 de abril de 2013

Reversos

Reverto meus versos em reversos
Reverto emoções em mais emoções
Acalento ilusões e paixões
Paixões e ilusões
Em meus revertidos versos!

Meus versos traduzem saudosismo
Não há neles vitórias
E muito menos (in) glórias
Somente há palavras simplórias
Não há neles heróis, nem heroísmo!

Meus versos são livres, como livre é a chuva
Como é livre a água que corre
E vai quebrando as curvas.
Como é livre o sol que os montes cobre
Como é livre a noite que vem... quando o sol morre!

Euclides Riquetti
06-04-2013




sexta-feira, 5 de abril de 2013

Os Devaneios do Amílcar

         Reencontrei o Amílcar lá em Canasveiras. Estava sentado numa mureta, ali numa esquina central, defronte àquela em que os vendedores nos oferecem: "Cambio! - Câmbio!". Claro que eu, com aquele boné do Boca, que comprei em Buenos Aires, azul com detalhes em amarelo, sou alvo fácil: Pensam que sou "de fora", portenho. Quando digo meu firme "Obrigado!" é que percebem que, comigo, poucas chances terão de bons negócios.

          Quase não o reconheci, pois o tempo não foi generoso com ele também. Avantajou-se no abdômen e  agrisalhou-se nos cabelos, embora conservando a vasta cabeleira dos tempos de moço. O tênis deu lugar a uma franciscana, a calça e a camisa social deram lugar a uma bermuda jeans e uma polo Pierre Cardin. Os óculos de sol  meio fora de moda, padrão John Lennon (Se é que se pode dizer que os óculos do marido da Yoko algum dia caíram mesmo de moda). Como sempre, perfumadão. O Lancaster, porém,  deu lugar a um fino e suave olor de Paris. Foi um reencontro memorável. Aliás, para mim, todos os reencontros são memoráveis, têm o mesmo efeito, seja o do Mandela com sua África, ou do Zequinha com a Heleninha. A emoção tem nível semelhante, embora as situações e o status de importância, ao olhar externo, sejam diferentes. Não a mim...

         Demorei um pouco para certificar-me de que era o Amílcar. Mas, quando ele me abordou, com aquela voz aguda-preguiçosa, tive toda a certeza de que era ele. Um firme aperto de mão, um abraço e, em segundos, parecia até que nunca tínhamos deixado de nos vermos. Poucas vezes nas últimas três décadas. Quem sabe duas, três vezes. Mas foi uma grande alegria revê-lo.

          Ao cabo de uns vinte  minutos, já tínhamos passado e repassado nossas vidas, nossas venturas e desventuras. Ri muito de algumas que ele me contou: Estava ali, sentado, porque tomara umas latinhas de subzero e esquecera o número do telefone da esposa, que se distanciara para ver as "promoções" de redes, mantas e cangas que os nordestinos estavam fazendo pelo término da temporada. Já havia ligado para três números, educadamente atendidos por senhoras, que eram parecidos com o do fone da esposa, porém  não eram o da patroa. Desperdiçara já setenta e cinco centavos da infinity-pré. Então, liagara, disfarçadamente, para uma filha, lá de General Carneiro, para que ela ligasse para a mãe e lhe dissesse que ele estava a esperar naquela esquina e que não conseguira contato com ela. Esperto, ele!

          Também  contou-me que, quando em férias, desconecta-se do mundo, baixa o volume do celular, só não desliga porque de repente algum dos filhos liga, pode precisar. Mas não gosta daquela música já manjada do toque há muito configurado. Então, deixa o volume no perfil "apenas luzes".  E, desliga-se tanto do mundo que, bem na manhã do dia anterior, no café da manhã, apertava o tubinho do adoçante para colocar umas seis gotas no café, e as gotas do lowçúcar plus, com stevia, não saíam normalmente. Teve que pressionar mais o tubo e as gotas obtidas  eram de um creme abranquiçado. Só então percebeu que, em vez do adoçante, pegara o tubo do protetor solar. Contava e ria, ria muito. Fiquei com uma baita inveja do Amílcar, que acha graça até das desgraças.

          Tomamos um sorvete "cascão" e nos divertimos falando de nossas trapalhadas. Contei-lhe das incontáveis vezes que adocei café com sal e sobre  muitas de minhas gafes, não diferentes das dele. Contei até aquela de que lavei o cabelo com óleo diesel para melhorar a performance!

          Então, toca o seu telefone celular. É sua mulher que o está procurando. Ele a orienta sobre o lugar em que ele está e ela vem ao seu encontro, sacolas cheias. Bah, as promoções... E, "querido, tudo em três vezes no cartão, sem acréscimos".

          Vou dispensar o (a) leitor (a) dos detalhes daquilo que se seguiu. Agora, esperar que possamos nos reencontrar em breve. Não tem facebook. E esqueceu de me deixar o número do celular. O Amílcar nunca deixou de ser ele mesmo. Mesmo com todos os banhos de lama que já tomou...

Euclides Riquetti
05-04-2013



         

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Vêm as Ondas do Mar

Vêm as ondas verde-esmeralda banhar meus pés
Enquanto o vento atiça as brancas areias das dunas
Lá nas águas jazem as negras galés
Quando as vagas se requebram em alvas espumas.

Nas cinzentas manhãs do pós-verão
As verdades rebatem à minha porta
E uma dor leve açoita meu coração
Que já não tem certeza de que você se importa.

E em cada grãozinho de areia trazido
O despertar de um sentimento já adormecido
Reanimado pelas águas que balançam.

E em cada corpo que baila, bronzeado
Está você em seu presente e seu passado
Enquanto os anos avançam...

Euclides Riquetti
04-04-2013



quarta-feira, 3 de abril de 2013

De Pato Donald e de Madame Mim

          Acordei numa manhã com muito sol adentrando minha janela. Vinha do Mar de Canasvieiras. Na rua,  passando pessoas que conversavam. Uruguaios, argentinos, chilenos. mas, sobretudo, muitos uruguaios, milhares deles. Invadiram as praias de Santa Catarina por ocasião da Semana do Turismo no Uruguai. Os uruguaios são muito educados e simpáticos. Há muita gente bonita. Trazem junto os filhos pequenos e isso me faz voltar à infância, quando costumávamos levar nossas crianças para as férias nessa praia. E, como novidades, africanos do Senegal, alguns com  cabelos jamaicanos, vendendo bojouterias. Mas tem gente de todo o tipo.

          E então  lembrei-me de meu sonho da noite: Sonhei com a "Madame Mim", a simpática bruxa velhinha que vivia incomodada com os Irmãos Metralha e o Mancha Negra.  Isso mesmo, ela mesma, quase  que uma concorrente da "Maga Patalógica", a feiticeira personagem do Walt Disney. E, por conseguinte, comecei a lembrar-me do Pato Donaldo, dos sobrinhos dele,  Huguinho, Zezinho e Luisinho.

         Fazia muito tempo que não lembrava deles, mas foram figuras marcantes na minha, tua, nossa infância. Lembrei-me que meu pai pegava os nossos gibis emprestados para ler. Uma vez ia prestar concurso para Diretor de Grupo Escolar, a prova era em Florianópolis. Disse-me que queria todos os gibis que tivesse,  pois eram para ele estudar para o concurso. Imaginei: "O velho tá doido!" Estudar nos gibis, ora essa!

          O fato é que ele tinha muito conhecimento, lia muito, estudava muito. Aprendeu muito no Seminário São Camilo, em São Paulo, onde chegou ao curso de Filosofia. Passou no concurso, efetivando-se como Diretor no Grupo escolar André Rebouças, da Barra do Leão.

          Só mais adiante entendi da importância de as pessoas que têm uma base de conhecimento  apenas descansarem a cuca antes das provas dos concursos. Tem aquele ditado: "Marmelada na hora da morte, mata". Então a preparação precisa ser prévia.

         E, lembrando de minhas queridas personagens, do Mickey, do Pateta, dos Irmãos Metralha, do Gastão, primo sortudo do Pato Donald, fui para uma livraria, ali na Rua Madre Villac.

          Encontrei uns almanaques do Tio Patinhos, do Mickey, do Pato Donald. Comprei dois e fui para casa ler. Era uma história daquelas padrão: O Tio Patinhas mergulhando no seu rico dinheirinho, perdendo-o, todo ele, diante das armadilhas do rival Patacôncio e recuperando tudo três páginas adiante. E o Donald sempre sonhando, querendo ter a sorte do Gastão.

          Ri muito. E já decidi, vou começar a frequentar os sebos para comprar aqueles almanaques que têm muitas histórias que nos reconfortam e animam. Curtas e sempre com um final feliz, com o bem triunfando sobre o mal. Viva as personagens maravilhosas que o Disney nos deixou!

          Viva o Donald. Viva o Pato mais legal do mundo!

Euclides Riquetti
03-03-2013

terça-feira, 2 de abril de 2013

Verdes Folhas

Verdes folhas
Do ramo da rosa
Flutuam solitárias
Sobre as incertezas.

Pequenas bolhas
Na água inodora
Emergem crisálidas
Em sua leveza.

Nuvens densas
Confundem o dia
Mudam o céu
Escondem o sol.

Tardes imensas
Nos dão nostalgia
Da noite, do véu
Do céu arrebol.

Pequenas lembranças
As folhas nos trazem
Do tempo passado
Do longo caminho.

A vida balança
Na verde ramagem
No ramo quebrado
Na ponta do espinho.

E eu
Que sou eu
Que sou teu
Quero o amor que foi meu
E que nunca morreu.

Euclides Riquetti

Republicação do poema que consta no livro:
"Santa Catarina Meu Amor"-
Da ALB-SC em 2010.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Histórias com Torcedores do Vasco e do Arabutã.

          Sabe aquelas pessoas que têm características especiais e que escolhem ter suas paixões, simples paixões, mas as defendem como seu direito mais sagrado e absoluto? Pois elas existem e marcam nossa vida da maneira mais simples, mas são inesquecíveis.

          Quando eu era criança e ia ao campo municipal da antiga Rio Capinzal, torcia por todos os times da cidade. Desde que o jogo fosse contra os times de fora. Mas eu tinha meu time do coração: O Vasco da Gama. E, agora, eu lembro com saudades de cenas que presenciei por causa do fanatismo, da paixão que tira as pessoas de sua normalidade por causa do seu time de coração. E também lembro de torcedores folclóricos, sobre os quais falarei.

          Numa dada oportunidade, havia um jogo dos aspirantes do Vasco contra o Arabutã. O juiz tinha um time de preferência, mas estava atuando com imparcialidade. Chovia e o campo, pelo intenso uso, estava careca de gramado. O árbitro protegia-se com um portentoso guarda-chuva. Um torcedor do Arabutã, Etelvino, inconformado com uma decisão do juiz, pulou a cerca de madeiras, tomou o guarda-chuva do mesmo e deu-lhe na cabeça...

          Pois que havia a Dona Dileta, dona da Barraquinha do Café, onde servia um delicioso pastel  na Estação Ferroviária, vascaína fanática, só não invadiu o campo para entrar na briga deles  porque outros torcedores a detiveram. Os filhos Ico e Binde jogavam no Vasco e ela ficou fula da vida com o Etelvino. Mas com a turma do "deixa disso" os ânimos foram serenados.

          De outra feita, no clássico em que o Arabutã venceu o Vasco por 3 a 1, depois de 10 anos sem se enfrentarem, duas professoras minhas, das torcidas rivais, entraram em "rota de colisão" por causa de seu fanatismo. E, na semana seguinte, na escola, era só constrangimento...

         E não esqueço dos torcedores folclóricos do Arabutã, que iam a pé até a Baixada Rubra, ver os jogos do Arabutã:  o Bugre, que ia ao campo acompanhado de toda a numerosa prole, todos com as suas camisas e bandeira alvi-rubras.  Ficavam na arquibancada, torciam sem alvoroços, ficavam reunidos ali. E, quando a coisa apertava para a Casa, o Bugre fechava os olhos e fazia suas silenciosas orações. Devia ter suas inimagináveis convicções e a inabalável Fé. E davam resultado. Se não davam, dizia: "Deus assim  quis!" ou "Foi a vontade do Pai do Céu".

          Outro  torcedor muito  marcante foi o Mário Borges da Rosa, o "Ferro". Era tão fanático que saía cedo de casa, passava pelos bares, pelas casas, parava os carros, ia a pé. Camisa vermelha, do Arabutã. Levava muitas horas para fazer poucos quilometros. Mas, na hora do jogo, estava lá ele, de pé, ao lado do alambrado, cobrando dos jogadores e reclamando do juiz. Parecia que estava em outro mundo, olhava para a torcida na arquibancada, fazia gestos, erguia os bravos,  mas não perdia a noção do jogo. Depois, ia embora pela estrada, reptindo o método da ida, e resmungando, sabendo que ganhamos ou perdemos. A cidade toda o conhecia.

          O Mário "Ferro", há uns 7 anos, foi para Joinville visitar uma filha, adoeceu e foi pro céu. Pois quando estava construindo minha casa, em Joaçaba, não é que me passa na rua um senhor bem igualzinho ao Mário?! E com camisa vermelha, mesmo tipo de chapéu e calçado. Magro igual, alto igual, pele igual, movimentos de corpo e de mãos iguais.  O perfeito sósia do Mário. Entabulei conversa e descobri que Seu Antônio, o "Pato", era primo do Mário e do saudoso Tchule. Torcedor do Internaciobal e fã da dupla Teodoro e Sampaio, cantores. Que coisa! Viramos amigos, somos quase que vizinhos. E sempre, ao vê-lo na rua, lembro-me do "Ferro".

          Saudades, elemento sempre  presente na vida de todos nós...Saudades das pessoas simples que cruzaram nossa vida!

Euclides Riquetti
02-04-2013