Na sexta, 08, participei de um evento literário-cultural na Escola de Educação Básica Prefeito Sílvio Santos, em Ouro, onde atuei como professor de Inglês, Italiano e Língua Portuguesa, de 1980 até 2009, quando me aposentei do magistério. Fui como convidado da professora Salete Joceli de Freitas, de Língua Portuguesa. Nas atividades, além de alunos do Nono Ano, turmas 901 (24 alunos), e 902 (21 alunos) , dos períodos matutino e vespertino, também participaram as professoras Caroline da Silva, Isabel Andrioni Faé, Graciele Maziero Muraro, e Caroline Macagnan.
Fui recebido às 7,45 pelo Diretor André Martinazzo e me dirigi ao auditório na lateral do educandário, uma edificação executada no inicio da década de 1980 pela Construtora Lunelli, quando era prefeito em Ouro e Sr. Ivo Luiz Bazzo. Versátil para três salas de aula de 6 x 6 metros, ou auditório de 6 x 18 metros. Ali, a partir de 1991, funcionou o Laboratório de Informática do nosso curso de Processamento de Dados, com 10 microcomputadores 286 e um 386. Alta tecnologia para a época. Apenas 3 cursos em Santa Catarina: Joinville, Florianópolis e Ouro. Isso foi resultado de uma negociação minha com o Governo de Santa Catarina: Eu só assinaria o convênio de municipalização do Ensino Fundamental se o Estado nos desse dois cursos de Ensino Médio, um para a Escola Sílvio Santos e outro para a Frei Crespim.. Até então não tínhamos ensino em nível de segundo grau em nosso município. Além desses dois, trouxemos a CNEC para funcionar nas dependências do Seminário Nossa Senhora dos Navegantes.
Entre os dois períodos do dia, foram seis horas de interação com os alunos e professores. Em telão, apresentei poemas e crônicas de minha autoria. Uma ênfase especial foi dada à de título "A Queda Ponte Padre Mathias Micheliza" , em que relato sobre a sua construção, bancada em maior parte pelas comunidades dos distritos de Rio Capinzal e de Ouro (que anteriormente se chamou de Abelardo Luz).
Quando da leitura desta crônica por uma aluna, interrompi num dos parágrafos para apresentar-lhes, ao vivo e presencial, nosso ex-aluno Valmir Inácio, o Tico, que foi personagem verdadeira mas anônima na crônica. No evento de queda da ponte pênsil, em 1984, quatro foram as vítimas, embora na crônica original eu mencione somente duas.
Valmir presenteou os alunos da tarde com um relato preciso, fiel e minucioso do que ocorreu na tarde daquele dia, quando ele e seu colega Flávio José Rodrigues de Almeida, Valderez Federle, filho da professora Elzira, e um funcionário da Empresa Pagnoncelli Hachmann foram envolvidos no acidente da queda da ponte. Quatro décadas depois, aprofundamento na redação.
Relato sintético: A professora Elzira Carleto Federle ia com seu filho pequeno, Valderez, sobre a ponte pênsil, em direção a Capinzal, onde morava. Ao perceber a tormenta que se aproximava, tomaram o rumo de volta. Valmir e Flávio que vinham de Capinzal para treinar no Ginásio André Colombo em preparação aos JECOs (Jogos Estudantis de Capinzal e Ouro), que começariam uma semana depois, correram em direção ao Ouro. Quando o vento começou a atingir violentamente a ponte, o pedal da bicicleta de Valderez enroscou na tela e os dois estudantes tentaram ajudá-lo. A violência deste moveu a madeirama toda, que por si levou junto a tela de proteção lateral e os passantes ficaram presos entre a base e esta, sendo lançados para alguns metros abaixo, mas fora do Rio do Peixe. Alduir Silva, o Binde, que morava perto do Colégio Mater Dolorum, descolou-se em seu fusca azul para o Ouro, pela ponte nova e lá chegando, ao ver que havia somente três pessoas, afirmou que vira, de sua casa, serem 4. Então passou a procurar pela quarta, sendo que Valmir Inácio, o Tico, estava sob o assoalho da ponte destruída, em situação grave, com traumatismo craniano. O pequeno Valderez estava bem e os outros foram conduzidos ao hospital Nossa Senhora das Dores. Posteriormente, os dois estudantes foram conduzidos ao Hospital Santa Terezinha, de Joaçaba, em duas ambulâncias. Valmir ficou cinco dias em coma e um ano em tratamento específico, com uma sequência de cirurgias, para dar a volta e se restabelecer.
Com uma riqueza de detalhes profunda, Valmir Inácio, o Tico relatou aos alunos e professores presentes todo o drama vivido inclusive com a chegada de seus pais ao hospital em Joaçaba e o não reconhecimento do próprio filho, em razão do estado de seu corpo, pelos ferimentos.
Em minha opinião, todo esse detalhamento ainda precisaria ser disponibilizado a leitores, naturalmente que com a participação e autorização de todos os personagens envolvidos.
De qualquer forma, a participação de Valmir valorizou muito o evento e os presentes puderam ter conhecimento de toda a realidade histórica daquele evento acontecido.
Foi uma alegria ter participado do Café com o Autor, agradeço pela oportunidade, e estou sempre à disposição para trabalhar junto a professores e estudantes dentro dos propósitos de socialização de nossa Cultura e nossa História.
Euclides Riquetti
12.11.2024