Na madrugada para o dia de Corpus Christi, sonhei. E, no sonho, voltei para minha cidade de origem, Ouro, aqui ao lado de Capinzal, Santa Catarina, onde nasci. Sempre digo que os sonhos não se explicam nem se justificam. Mas algo me fez voltar para lá e reviver uma situação muito agradável. Talvez de uns 25 anos no tempo. Foi como se eu tivesse ido para lá rever algo...
No meu sonho, estava ali em nossa casa, um único terreno dentro de uma área maior, a gleba da família Miqueloto, entre as propriedades dos Masson e dos Campioni, ao lado da Rodovia SC 303, mas dentro do perímetro urbano, onde vivemos de fevereiro do ano de 1980 até setembro de 2008. Foram 28 anos de boa convivência e boa vizinhança com essas famílias, Vimos nossos filhos nascerem e crescerem ali, estudarem, indo constituir suas próprias famílias.
Da tropinha de crianças, havia a Michele e a Caroline, nossas gêmeas, e o Fabrício, ainda bem pequeno na época de meus sonho, a quem eu e a Miriam cuidávamos com afinco. Os vizinhos à direita, Felipe, Maxuel, Júnior e Evelyn, filhos do Irenito e da Marta (Soccol). E a Aquidauana e o Thiago, filhos do Neri e da Zanete( Helt), padrinhos da Caroline, de parte dos Miqueloto. Na casa seguinte, a Janaína e a Cláudia, filhas do Rosito e da Amélia (Moschen), pelos Masson. À nossa esquerda, a Márcia, filha do Aldecir e da Vilma (Lovatel), de parte dos Campioni. E, na frente, o Kléber e a Carmencita, filhos do Oradil (Cafuringa) Azevedo, e da Eva. Do outro lado da rodovia, o Renato, filho do Antoninho e da Rosária (Zampieri), pelos Nora. Mais para o centro, a Hanna e a Sheila, da professora Suely (do Prado), e do Gil Lunelli. Depois vieram outros e outros...
Pois, voltando ao meu sonho, vi o Irenito cortando uma baita de uma melancia. Cortava pelo meio e as crianças vinham, iam pondo as mãozinhas e pegando pedaços daquela polpa vermelha deliciosa. Lambuzavam a boca toda, molhavam a roupa, deliciavam-se... E, lá na casa da Nona Ézide, que sempre cuidava de tudo pela janela da cozinha, o tio Neri ria, divertia-se vendo a festa das crianças que comiam melancia... Ele as plantava no sítio deles e colhia centenas, milhares delas. Grandes, pesadas... o que menos fazia era vendê-las. Trazia na caçamba do trator e deixava-as sob uma árvore, defronte o casarão deles. Os amigos passavam por ali, ele os presenteava com melancias, iam embora muito contentes. Não sem antes uma boa conversa, um papo legal. Ao lado do monte de melancias.
Vivemos muitas vezes essas cenas, ao longo dos anos. As crianças conviveram com o abate de animais no abatedouro, com a fabricação de salame, banha e torresmo. Faziam churrasquinho e em espetinho, assávamos pinhão na chapa do fogão ou no fogo de grimpas, colhidos nos pinheiros do potreiro. E comiam goiabas, bergamotas, laranjas, uva-japão... E conviviam com animais domésticos.
Essas crianças foram criadas em contato com a lida diária comum. Aprenderam a "se virar", a criar e improvisar. A andar com carrinhos de rolamentos, andar de bicicleta na rua de chão batido, a rezar terço com a presença da capelinha, a participar de reuniões de grupos de círculos bíblicos.
Como me foi bom ter revivido todo o cenário e os acontecimentos daqueles bons tempos, sem precisar o tempo exato. Na lógica dos sonhos, não há uma lógica cronológica, nem matemática. Há uma lógica situacional, geográfica, mas atemporal. Há a lógica dos sentimentos, das saudades, das lembranças. Especialmente, das boas e memoráveis lembranças... Ah, quantas saudades!
Euclides Riquetti
27-06-2016