sábado, 27 de abril de 2013

Um dia você chorou...

Um dia você chorou, vibrou, vibrou, chorou
Seus belos olhos encheram-se de gotinhas de cristal
Você que calou, sofreu, sofreu, calou
Seu grito de alegria fez explodir, afinal.

Você esteve lá, elegante, glamourosa
De seu rosto moreno brotou um sorriso sensual
De seus lábios saíram as palavras mais carinhosas
Você vibrou com a conquista colossal!

Na madrugada silenciosa me veio seu doce sorriso
As palavras mágicas se embalaram no meu ser
E seu rosto comovido, bonito,  me encantou...

Então, meu coração bateu mais forte, mais preciso
E, no papel, pus este soneto pra dizer:
Você é o algo belo com que Deus nos presenteou!

Euclides Riquetti
04-10-2004

sexta-feira, 26 de abril de 2013

O Mash e o Cabo Maciel

          A Finlândia é um país muito bem desenvolvido. Tem consideráveis indicadores sociais e solidez econômica. Situa-se entre a Suécia, a Rússia, a Noruega  e a Estônia. Dizem que lé existem ruivas de olhos bem azuis...

          O Cabo Maciel servia no 5º BE, em Porto União. Era natural de Concórdia e moramos na República Esquadrão da Vida, em União da Vitória, em 1973. Nessa época, meu Inglês já estava com uma base razoável, pois, além de Letras na FAFI eu estudava no Yázigy, com o Professor Geraldo Feltrin.  Quando o Maciel chegou ao nosso convívio, estava muito interessado em praticar a língua dos britânicos e americanos.

          O Maciel não havia feito nenhum curso de Inglês. Tinha estudado o Técnico em Contabilidade, na CNEC de Concórdia. Mas era um autodidata. Aprendera a chave de pronúncia do dicionário do MEC, aquele verde, que pesava pelo menos uns três quilos, e se afundava nos estudos. Tinha um livro básico, fazia os exercícios, traduzia, verificava a pronúncia, seguindo as orientações que teve de seus professores. No Exército, passara no concurso para Cabo e já estava se preparando para o de Sargento. Pouco saía de casa, ficava estudando.

          Mas o Maciel, moço bem apessoado,  num daqueles anúncios de pessoas que queriam "manter correspondência" com outras, que as revistas de fotonovelas traziam, retirou o nome de uma garota e mandou uma proposta de amizade. Bem mais difícil do que hoje, em que as pessoas se jogam numa ferramenta da internet e arrumam quantos amigos queiram ter. (Não é o meu caso, que aceito as solicitações de amizade,  mas só convido para ser meu amigo pessoas que tenham um pensamento próximo do meu ou sejam meus amigos "na real").

          Mandou carta, pediu-me para ajudar na primeira e, depois, pegou o tranco e seguiu independente. Iam e vinham cartas, em Língua Inglesa. Ele me mostrava as cartas, pedia-me para ajudá-lo em algumas expressões idiomáticas que não entendesse. E me mostrou a foto da sua amiga. Não lembro o nome dela, acho até que era Emmy, mas não tenho certeza disso. Mas, sei, perfeitamente, como ela era, isso ficou muito bem marcado: cabelo ruivo, corte meio chanel, razoavelmente liso, blusinha azul piscina e, o mais importante e harmônico: um belo par de olhos azuis, dois diamantes brilhantes bem da cor de sua blusa. A inveja, lá na Rua Professora Amazília, 322, foi geral.

          Num domingo fomos ao cinema Ópera, íamos assistir ao M.A.S.H. Era um filme que versava sobre a Guerra da Coréia, lançado em 1970, do Diretor Robert Altman, que tinha no elenco, dentre outros, o então jovem Donald Sutherland. O cenário era um bagunçado Posto Médico, em meio ao campo de guerra, onde os médicos militares atendiam os soldados feridos. Havia uma menina, lembro que era amiga de um cabo do Exército Americano, Mac Bee, me parece. E ela chamava: "Corporal  Mac Bee! Corporal  Mac Bee"! E os médicos acudiam, aqueles soldados de maneira muito louca. O filme, na verdade, era uma sátira àquela guerra e à do Vietnã, numa só tacada.

          A milicada, lá da nossa república, foi toda: Os Cabos Godoy, Figueira, Maciel, Frarom, Backes... E nos levaram. Até o japa, Mineo Yokomizzo, que também nos influenciou e  levou a ver "Tora Tora" deve ter ido.

          Chegamos em casa, o Maciel foi para o dicionário, pesquisou, procurou, bateu na porta do meu quarto, meu e do Osvaldo Bet, e perguntou-me: "Riquetti, como é Cabo, em Inglês". Falei-lhe: "Bem Cabo é cable, mas, dependendo do que você quiser significar,  pode ser outra coisa. Você viu que menina do filme chamava o personagem de Corporal Mac Bee?"  -  E o Maciel: "Tô frito!!! Que vergonha!!! Cara, não é que escrevi para a ruiva  da Finlândia que eu era "Cable of the Army" e agora você diz que cabo do Exército é Corporal? Bah, será que ela entendeu? O que ela vai pensar de mim?..."   - Disse-lhe: "Calma, colega, tem uma pequena chance de ela pensar que você seja o encarregado de mandar "cabogramas" do Exército, uma prática muito comum em tempos de guerra...

          Desde 1975 não mais tive notícias dele. Como nunca aprendi o seu primeiro nome, não sei localizá-lo. Pela dedicação aos estudos e sua disciplina, certamente que fez bela carreira militar Vou ter que pedir para o Leoclides Frarom que me informe sobre ele pelo facebook. Muito mais fácil do que escrever o manuscrito, por no envelope, selar e, ainda arrumar lugar para estacionar lá perto do Correio!

Euclides Riquetti
26-04-2013




         

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Uma Janela Entreaberta

Uma janela entreaberta
Uma porta fechada...
Haverá uma  hora certa
De sair para a calçada?

Um coração aberto
Uma alma delicada!
Qual será o seu pecado
Morena da pele bronzeada?

Uma lágrima sentida
Um olhar muito distante.
Por que assim, desiludida
Se a vida é tão importante?

Um pensamento guardado
Uma voz suave e bonita.
O seio me incita ao pecado...
Haverá uma palavra não dita?

Uma atitude que falta
O temor a uma paixão...
Por que não tirar a alça
Que prende o seu coração?

Uma manhã de sol quente
Uma tarde de verão.
Por que não ficam noite sempre
Noite de amor e paixão?

Um jardim com poucas plantas
Poucas flores, poucas rosas...
Por que não cultivá-las, tantas
Iguais a você, tão formosa???


Euclides Riquetti
Composta em 14-03-1995, no
Dia da Poesia.



quarta-feira, 24 de abril de 2013

Olha o trem....

          As pessoas de minha geração certamente que tiveram muitos contatos com trens. Lembro de quando, em minha infância, ficávamos com meus amiguinhos, subidos nos barrancos, gritando: "É meu! É meu! Aquele azul é meu! O vermelho é meu!"  - É que o trem passava, do outro lado do Rio do Peixe, levando luxuosas lemousines e jipes, com destino ao Rio Grande do Sul. Carrões  importados que costumávamos ver nas revistas, e que eram transportados nos vagões abertos, para nosso encanto. Vinham do Norte para o Sul, destino provável Porto Alegre e Caxias do Sul. Diziam os mais velhos: Vão pro Rio Grande! E iam as Mercury Monterrey, Os Buick Skylark, os Jeep Willys, as Pick ups, os DKW e Vemaguetes,  Os Ford Mustang e Thunderbird, os Chevrolet Cadillac, Bel Air e Impala, as Aero Willys. As Simca, acho, eram de menor custo, porque passavam muitas delas: as Chambord, Jangada e Presidence. Diziam que essas eram uma dor-de-cabeça...

          Mas também vinham e iam os trens de carga, traziam areia de Porto União, levavam madeiras da Santos Almeida, da Pagnoncelli Hachmann e da Zortéa Brancher para os grandes centros, principalmente São Paulo, e para as exportações via Paranaguá, São Francisco, Itajaí e mesmo Santos. E gado bovino para Sorocaba, porcos para Ponta Grossa. Bergamotas e laranjas que os irmãos Teixeira levavam da Linha Bonita e do Avaí para Caçador. O trem, realmente, fez parte de minha história, de nossa história. Até mudanças de gente que ia embora.

          Essa alegria acabou em 1983 quando, após a grande enchente, houve a paralisação desse tipo de transporte no Vale do Rio do Peixe. A América Latina Logística, que adquiriu a "Rede", não cumpriu com aquilo a que se propôs, não melhorou a ferrovia, e nossa Estrada de Ferro está uma vergonha. Em algumas cidades, poucas, onde há muito interesse na promoção da atividade  turística, as Prefeituras até ajudam a conservar a via férrea. Em outras, só a lamentar... Ah, não esqueçamos: De vez em quando ficamos sabendo dos tais de "Trens da Alegria", mas esses só levam gente privilegiada, não os mais simples mortais...

          Saudades do Trem. Porém, algumas pessoas, sabiamente, dizem que "quando as coisas não acontecem pelo amor, acontecem pela dor". E, parece-nos, a dor vai salvar o transporte ferroviário. Bendita a dor que Deus manda para acordar algumas pessoas que não se movimentam apenas pelo combustível do amor! Então, que lhes venha o método pelo qual melhor entendem as coisas.

          Com a expansão das atividades da agroindústria em todo o Oeste e Meio Oeste Catarinense, acrescido  o  fato de muitos agricultores terem abandonado o trabalho na lavoura, mais a impossibilidade de trabalhar na terra por questão das declividades, das áreas de preservação, etc. etc., e também porque o investimentos em insumos,  maquinários e mesmo mão-de-obra ficaram impraticáveis, nossa produção de milho parou de crescer. Melhorou a produtividade,  mas não temos suficientes áreas disponíveis para o plantio mecanizado. Todos esses fatores e outros que qualquer técnico em agropecuária enumeraria e justificaria bem melhor do que eu, fizeram soar o sinal de alerta: Temos grande capacidade industrial instalada, temos conhecimento, vocação, mercado,  disposição para o trabalho, dominamos as melhores tecnologias, mas nos falta o milho.

          Assim, depois de muita enrolação e embromação, no país onde todos podem comprar carros mas poucos conseguem comprar uma casa para morar, descobre-se que "dormimos em berço muuuuito esplêndido", e precisamos reativar as existentes ou costruir novas ferrovias. E as auspiciosas notícias: Vem aí a Ferrovia Norte Sul, que nos permitirá trazer milho e soja do Mato grosso e Goiás. E vem aí a Leste/Oeste, que ligará o Porto de Itajaí a Dionísio Cerqueira, cortando todo o Grande Oeste. Em discussão, duas alternativas: Restabelece-se a ligação de São Francisco do Sul/Mafra/Porto União/Herval D ´Oeste,  com a substituição dos trilhos e dormentes existentes, ampliando-se a bitola para 1,60 metros e se constrói o trecho a partir de Herval em direção à  Argentina; ou constrói-se novo leito, vindo pelo Vale do Itajaí, cortando Curitibanos, Campos Novos, Herval D´Oeste/Jaçaba, até atingir a fronteira Oeste, passando por Chapecó.

           Cara, não é que perceberam que nosso Oeste, aqui onde tem bastante gringo grosso, é importante!!

          Estamos felizes. Antes tarde do que nunca. Os governos Estadual e Federal estão tentando entender-se. E vão. Pelo amor (interesse político), ou pela dor (necessidade efetiva e inadiável), irão entender-se. Isso mesmo: antes tarde do que nunca! O Oeste merece isso! Que venha o trem! E quem sabe as cegonhas também sejam substituídas pelos vagõs de trem e as crianças possam embarranquear-se e ficar gritando: "É Meu! Aquele branco é meu!...

Euclides Riquetti
22-04-2013

terça-feira, 23 de abril de 2013

Pioneiros do Navegantes

          O Bairro Nossa Senhora dos Navegantes, em Ouro, surgiu em decorrência de o ex-Prefeito de Capinzal, Sr. Sílvio Santos, através de sua Urbanizadora Nossa Senhora dos Navegantes, tê-lo idealizado. O loteamento, em si, já existia na década de 1960, com as ruas longitudinais abertas, porém com um mínimo de habitantes.

           Uma descrição simplificada nos remete a dizer que, onde hoje se situa a Rua Formosa, que faz sua ligação com a Felip Schmidt, havia basicamente duas famílias residindo:  a primeira, Família Scapini, ocupava uma casa de madeira no lado direito no sentido sentido de ida do Centro para o Bairro, defronte à propriedade da família do Sr. Biaggio Spada, ali onde há atualmente o casarão azul, com janelas brancas, que foi construído lá atrás, como casa do Cartorário David Cruz. A segunda, após o entroncamento com a Rua Brasil, também do lado direito, onde funcionava um misto de residência e clube de bailes do Sr. João Fontoura. Pejorativamente, os populares o denominavam de "Sete Facadas", embora o nome oficial fosse Salão do Fontoura. Mais adiante a família do Sivo Molitetti veio para ali e está até hoje.

          Ali próximo da Capela de Nossa Senhora Aparecida, logo abaixo, onde reside a família Ribeiro e outros  descendentes, havia a residência do Sr. José Ferreira, que tornou-se conhecido como o "Zé de Amargá". O Vovô Zé  obteve esse apelido porque, para tudo o que as pessoas lhe falavam, dizia: ´"É de amargá" (amargar)!  Era um moreno escuro bem alto, magro,  simpático, forte, e muito trabalhador. Foi trabalhador da Prefeitura Municipal de Ouro, emprego pelo qual se aposentou. Antes, trabalhou para os padres na construção do Seminário Nossa Senhora dos Navegantes.  Foi um dos primeiros funcionários da Prefeitura. Ajudava na confecção de calçamentos e conservação de estradas, tinha muita energia e habilidade para com a pá, a marreta  e a picareta. Após aposentado, continuou a realizar serviços de escavações e remoção de terras, sendo excelente cavador. Com cerca de 80 anos ainda trabalhava como um gigante. Dizia-me: "Preciso trabalhar para comprar carne. Comer feijão, arroz, carne, polente e radici, que isso me dá forças para continuar trabalhando". Morreu com idade avançada e sempre foi um digno pai de família, religioso e  muito respeitado.

          Bem ao centro do morro, próximo de onde se situa a Escola Professor Guerino Riquetti e o Centro de Educação Infantil Raio de Sol, residia o Sr. Sebastião Félix da Rosa, conhecido como "Véio Borges" e também por "Champanhe". Tinha muitos filhos, que eram exímios roçadores de matos e capoeiras. Tinham grande habilidade no manejo das foices e  enxadas. Faziam empreitadas em todas as bandas, tinham resistência para o trabalho. De descendente direto dele ainda temos a Dona Lurdes, casada com o Francisco da Silva, que está ali, rodeada de sobrinhos e netos, até hoje. É uma senhora muito simpática, trabalhou muito em sua Juventude. Quando ofendida, por causa de sua cor, partia pra cima do mal educado e o fazia correr. Não levava desaforo pra casa. Numa casa ao lado, residia o Alípio, conhecido como "Rancheira", um pedreiro entroncado, que cultivava um bigidão. Sua irmã, Dona Jandira Pedroso, é que ficou morando ali na casa da família.

          E, ao final da Rua Agenor Jacob Dalla Costa, morava o Sr. Abílio de Oliveira, com dois filhos, o Nereu e o Irineu, que foram embora para Porto União. Uma filha, antes ainda de ele ir  morar ali, fora dada em adoção, no Engenho Novo, Capinzal. O Nereu era um bom jogador de futebol, tanto na linha como no gol.  Hilário da Rosa, o Chuchu, filho do Sebastião da Rosa, também era um verdadeiro craque de futebol. Era muito habilidoso mas gostava de jogar sem chuteiras. Com estas  nos pés, tinha dificuldades, pois acostumara-se a driblar nos campinhos, sempre de pé no chão. No início da década de 1960,  veio a família do Sr. Olino Lucietti, fixando residência na mesma propriedade, onde até hoje está sua esposa e descendentes.

          Nos primeiros anos da década de 1980 já havia outras famílias morando no Bairro: Os Freitas, lá próximo da casa do Zé Ferreira, os Esganzela, vizinhos do Lucietti, a Dona Aurora Tonini, o Caetano Rech, a Família dos Anjos. O Agnaldo de Souza, que trabalhava como Agente da Estação Ferroviária, tinha uma casa ali, mas estava alugada para um terceiro.

          Como algumas dessas famílias estavam desmembradas, no recenseamento de 1980 contei ali 16 domicílios, pois em algumas unidades havia uma família no pavimento principal e outra no porão das casas. Em 1981 não havia ainda  rede de fornecimento de água nas residências. Nos períodos de estiagem, um caminhão da Prefeitura levava água para as famílias. Esta era despejada nos poços, caixas, tonéis  ou fontes. Na época, o Sr. Vilson Surdi organizou um documento manuscrito, com a assinatura de um representante de cada uma das famílias que ali moravam, menos de 20, solicitando a consrução de rede de águas, sendo que foi atendido pelo Prefeito Ivo Luiz Bazzo. O Sr. Sílvio Santos cedeu um terreno para que o SIMAE instalasse ali o primeiro reservatório de águas. Também doou o terreno para a construção da Capela e de uma cancha de bochas, o que foi possível com o apoio do Prefeito Domingos Antônio Boff. Boff também iniciou a construção da creche local, que foi concluída pelo Prefeito Euclides Riquetti. Este construiu a escola Professor Guerino Riquetti.

          Hoje o Bairro é muito bem estruturado, tendo um bom comércio instalado, bom nível de ensino na Escola, um ginásio de Esportes construído na gestão do Prefeito Sérgio Durigon. A pavimentação de suas ruas foi realizada, gradativamente, por todos os prefeitos que atuaram a partir de 1983. Também comporta, em sua parte mais elevada, as torres repetidoras para retransmissão local das imagens dos principais canais de TV brasileiros. Uma emissora de rádio Comunitária, a Rádio Cidade FM, perrtencente à Associação de Difusão Comunitária Prefeito Luiz Gonzaga Bonissoni ali se situa.

          Do alto do Bairro Nossa Senhora dos Navegantes é possível avistar-se toda a cidade de Capinzal. Uma paisagem encantadora, com o Rio do Peixe dividindo os dois pequenos Municípios. Vale a pena fazer-lhe uma visita.

Euclides Riquetti
23-04-2013
         



         

segunda-feira, 22 de abril de 2013

O Breda, o Buick e o Smith & Wesson

          O Horácio Heitor Breda era gaúcho de Flores da Cunha. Veio para Videira bem jovem  e, depois, foi convidado a trabalhar nas Indústrias Reunidas Ouro, na antiga Rio Capinzal. Era um excelente moço de escritório, entendia de tudo, um autêntico contabilista. Trabalhou uns anos por aqui e depois foi embora, lá para Maringá. Era bom administrador e empreendedor, foi trabalhar por conta em sociedade com um irmão.

          No início da década de 1950 o recém emancipado Município de Capinzal tinha uma forte divisão política. Na margem esquerda do Rio do Peixe, onde havia o principal núcleo populacional e a melhor infraestrutura, inclusive com dois hospitais, hotéis e a estação do trem, situava-se a sede municipal e havia a predominância política do partido PSD. O PTB também tinha sua força. Mas, à margem direita, o Distrito de Ouro, antigo Abelardo Luz, tinha a predominância política da UDN. E os udenistas pensaram numa estratégia para ganhar as eleições. Ivo Luiz Bazzo, jovem militante desta, foi de jipe, com um amigo, até Maringá e convidou o Breda para voltar à cidade e  concorrer a Prefeito do Município de Capinzal.

          Para a época, bastava que o candidato e estivesse residindo cidade há seis meses do dia da eleição. Então, trouxeram o Sr. Breda para residir na casa do Ivo Luiz Bazzo, ali na Rua do Comércio. Ficou ali morando, candidatarm-no e  elegeram-no Prefeito de Capinzal. Em seu mandato foi inaugurada a Ponte Irineu Bornhausen, que ligou as duas margens do rio, e ainda adquiriu da família Sartori uma edificação de alvenaria, no Distrito de Ouro, onde instalou a Prefeitura. A sede municipal era na margem esquerda e a Prefeitura na margem direita do Rio do Peixe. Breda fez grandes realizações no município que governou de 1954 a 1959.

          Entrevistei o Breda, por telefone, há 5 anos, no estúdio da Rádio Capinzal, com o apoio do Ademir Pedro Belotto. Produzimos um vídeo em DVD com meu texto e a narração do Belotto. Colhi imagens em álbuns fotográficos e escutei do Ivo Luiz Bazzo, do Nélito Colombo  e do Pedro Zaleski mutas histórias sobre o Breda. Então, eu tive os argumentos para fazer-lhe as perguntas, a que ele habilmente respondeu.  Foi muito amável e mantenho o material comigo, vou preservar.

          Mas as boas partes da história não são as da política. Era conhecido como exímio atirador. Costumava passar (a pé) pela Ponte Pênsil Padre Mathias Michelizza e  observar as águas então límpidas do Rio do Peixe. E, lá de cima, via os peixes na água. Mirava seu reluzente revólver "38 Smith  & Wesson" e acertava o exemplar que escolhesse. Amigos iam retirar os peixes da água e dar-lhes o melhor destino, a grelha ou a frigideira.

          O Kurt Brecht, também conhecido como Fritz, foi um dos melhores latoeiros/funileiros de automóveis da história da cidade. Agora aposentado, sempre que o encontro nosso "Chapeador", levo com ele um bom papo. Pois ele me contou que, na época em que era Prefeito, o Breda levou um Buick, carro formidável e fabricado em Detroit, para que fizesse uns reparos, deixasse "nos trinques".  O moço Fritz abriu o porta-malas e descobriu, enrolado numa manta, um reluzente rifle. Disse-lhe o Breda que era para caçar "bichos grandes". Ficaram muito amigos. O Breda deixou fama como atirador.

          Ao término do mandato, Breda voltou para Maringá, onde continuou a trabalhar com negócios próprios e, em 2007, foi morar na Agronômica, em Florianópolis. Em muitos encontros promovidos pelo SEBRAE em que participei, conversei e obtive informações sobre ele com um rapaz casado com uma de suas netas. Até lhe mandei um CD do Grupo Píccola Itália Del Oro, para que escutasse. Há um ano não tinha mais notícias dele. No sábado, 13 de abril, recebi a informação de que ele havia falecido. Aguardei que sites regionais trouxessem notícias sobre o fato, mas nada descobri. Apenas o site de uma Funerária da Capital indicava a hora do sepultamento, no Jardim da Paz, em Florianópolis. Também não soube que tivessem decretado Luto Oficial na cidade onde foi Prefeito. Ontem, o DC trouxe em seu obituário uma nota sobre seu falecimento, colocada por familiares. E vi no facebook uma postagem do Dr. Lourenço Brancher mencionando isso. E comentários de amigos que lamentam que as pessoas que fizeram a história das cidades sejam facilmente esquecidas.

          Aos amigos e familiares do Breda, aquele rapaz alto e elegante, chapéu de feltro, paletó cinza, que governou Capinzal e se constituiu num  dos grandes pilares de sua História, manifesto minhas mais sinceras condolências. Foi muito gratificante ter ouvido das pessoas que o conheceram sobre seus feitos e sua habilidade como administrador público. Sempre o admirei. E, nas vezes que falei com ele ao telefone, senti a firmeza de uma pessoa de sentimentos nobres, humilde, bom caráter, e com alto espírito público: "Grande Horácio Heitor Breda"!

Euclides Riquetti
22-04-2013



         

 

         

       

      

domingo, 21 de abril de 2013

Bons Exemplos

          Vivemos um dos momentos mais conturbados da História da Humanidade. Não é o pior porque temos os registros de duas Grandes Guerras, a de 1914 a 1918,  e a de 1939 a 1945. Não fosse isso, poderíamos,  com facilidade, afirmar que estamos num momento dos piores ou, no mínimo,  muito delicado.

          Diariamente,  os noticiários nos trazem notícias de barbaridades, como o que acontecem em Boston, no início da semana, durante uma competição esportiva.  Nos meios brasileiros, confusões  de toda a sorte, algumas que poderiam ser evitadas facilmente,  como é o caso daquele Deputado, Marco Feliciano,  que não quer abrir mão do direito de presidir a Comissão que trata dos direitos humanos na Câmara dos Deputados. Direito ele adquiriu, tem o legítimo direito de ter suas convicções, mas teimar em estar num posto de relevância como este ao qual foi alçado é muito ambição ou pura burrice.  E portar-se da maneira como se porta, uma canalhice!!!

         Os tempos atuais não permitem que pessoas radicais e que falam tudo o que lhes vem em mente possam liderar situações polêmicas. Se fosse intligente, nem teria  assumido o cargo. Na condição de presidente, deveria propor o equillíbrio, atuar num nível de magistrado, e não tomando partido de posições como as que defende. Pode defender suas ideias e ideais, mas não da maneira como o faz. Aquela em que ele faz alusão, num vídeo, sobre o assassinato do John Lennon,  é a coisa mais louca que já vi na minha vida.

          Mas meu propósito, hoje, é falar de bons exemplos. Não muitos, embora haja muitos deles, em todas as cidades. Vou apenas lembrar de minha professora Wanda Meyer, que mantinha um lar para meninas abandonadas, em sua própria casa, em Capinzal, dando-lhes abrigo, proteção e encaminhando-as na vida. Vou falar do Joanin Serena, que vendia bilhetes de loteria, no centro de Capinzal, em sua cadeira de rodas, juntamente com o Sr. Frizo, que sem nenhum dos braços, fazia o mesmo ofício. E que, ambos, jogavam dominó no Bar do Canhoto, ou no do Arlindo Henrique, onde também ia o Sr. Erny Edgar Fleck, com suas muletas, ele que fora Delegado de Polícia e  empresário, convivendo com sua deficiência, escorado num par de muletas. Vou mencionar o Egídio Balduíno Bazzo, o "Titi Primeiro", que quando o Tite do Corínthians nem havia nascido ainda, já treinava o Sneakes, ensinava a jogar xadrez , e fazia locução na Rádio Clube de Capinzal. Todos esses, indistintamente, conseguiram dar sentido à sua vida e não se tornaram farodos para suas famílias.

          Nelson da Silva, o Nelsinho, que mora no Parque e Jardim Ouro há duas décadas, teve um acidente pela queda de uma árvore sobre si e foi parar na cadeira de rodas. Tentou todas as formas de recuperação, mas isso não foi possível. Já há muito tempo liedra uma Associação de Portadores de Ncessidades Especiais e atua como emnpresário de bandas e músicos regionais. De sua casa, com o telefone, liga para as entidades e oferece os serviços de seus artistas. É o mais forte no Baixo Vale do Rio do Peixe, tendo em sua carteiras as melhores bandas regionais do Sul do Brasil.

          Também vou-me referir ao Neto Baretta, que em sua cadeira de rodas era uma ótima companhia para os que o visitavam, sabia de tudo, tinha informação sobre tudo e, quando morreu, não faz muito, seus órgãos foram doados e permitiram que 5 pessoas os recebessem e dessem normalidade a sua vida.

          Ora, exemplos bons temos em todos os lugares, ainda bem. E bobos e loucos também, infelizmente. Então, lembro mais uma vez da frase socratiana que está na lápide do túmulo de meu pai e da qual ele era fâ: "In medio virtus", ou seja, No meio, no equilíbrio, a virtude!  Vejam, leitores (as), que citei pessoas que, mesmo com as limitações impostas por acidentes, encontravam meios de serem úteis, ao contrário de muitos malas que há por aí. A Professora Wanda Meyer, buscava dar um equilíbrio na vida de jovens desfavorecidas, repartindo sua casa,  seu alimento e seus conhecimentos (muitos, muitos...), com elas. Atletas com deficiências, aqui em Joaçaba, integram uma entidade, a ARAD, que os tem treinado e conduzido até a participar, com muito êxito, de competições em nível nacional.

Enquanto isso, um montão de gente fazendo confusão no mundo todo. Como diria o Totó, naquela novela: Figurate!

Euclides Riquetti
21-04-2013