Mais um ano de eleições
presidenciais! Todos os milagres possíveis e impossíveis vão desfilar para os
eleitores. Gosto de política, já fui um político muito partidário. Hoje, depois
de décadas de acompanhamento e de militância, tenho conceitos bem diferentes do
que já tive no passado. Consigo distinguir a realidade da ficção. Nas eleições
para prefeito, vice e vereadores, escrevi, dia 13 de novembro de 2020, o texto
que segue. Reedito, aqui, para que se pense e até se possa divertir com o
assunto. Lá vai:
Na reta
final da campanha às eleições deste domingo, para a escolha de Prefeitos, Vices
e Vereadores, voltaram a correr rios de leite e mel. E a chover leite com
cuscuz, como dizem alguns campeiros por aí. Sim, porque nos estão pintando um cenário
maravilhoso, em que todos os problemas das cidades estão sendo resolvidos. E
que, a partir do ano que vem, todos os moradores das cidades vão viver uma nova
e positiva realidade.
Os
candidatos precisam vender esperanças e os eleitores querem comprar. Pagam,
antecipadamente, com o seu voto. Os candidatos, emocionalmente envolvidos,
passam a vender a ilusão. Não os culpo, pois se assim não o fizerem, não
contagiam a maioria do eleitorado, aquele público que os elege. E, tudo aquilo
que o ser humano repete, exaustiva e insistentemente, parece uma verdade. E
isso se consolida na mente do falante, que passa a acreditar, ele mesmo, no que
diz.
Na
aproximação do dia do pleito, lembro-me de algumas passagens quando de minha
eleição a Prefeito em Ouro. Visitei todas as casas do Município, cidade e área
rural, menos uma, que lá não cheguei porque já estava escuro. E acabei não
voltando lá. Por isso que, na política, bem como na administração pública, tudo
o que se planeja fazer e precisa ser feito, deve acontecer de imediato, porque
podem surgir imprevistos e as coisas não acontecerem como se deseja. Aqui na
minha rua, esperávamos o asfalto há 12 anos. Viria depois do esgotamento
sanitário, e não veio...
O
eleitor escolhe alguém em quem votar. Muitas vezes é amigo de vários candidatos
a vereador e de quase todos os candidatos a prefeito. Então vai escolhendo por
eliminação. E ali, em vez da preferência, passa a contar a rejeição. Ou não
vota no candidato porque acha que a mulher do cara é orgulhosa, porque ele é
rico, porque ele é pobre, porque não sabe administrar, porque só sabe viver de
política, porque não fala bonito, porque vai levar seu time de amigos para
trabalhar com ele na prefeitura, porque passou na casa do vizinho para pedir voto
e não chegou na dele, e assim por diante. Sempre há um motivo para
dar o troco.
Pois fora
eu visitar uma família de companheiros lá na Canhada Funda, no Ouro. Cheguei
sozinho, cumprimentei a senhora que veio me receber, perguntei pelo marido (que
não estava), disse-lhe que era candidato a prefeito e fui expondo
minhas ideias. Ela me disse: - Voto em você se me der uma
geladeira! Falei que era professor, remediado, e que negociar voto
era ilegal. Então ela me disse: -Ah então você é o professor, é? Você reprovou
meu filho lá na escola! Falei que ele foi reprovado pelo Conselho de Classe,
não fora só eu, que lá no Seminário o Frei fazia os meninos trabalharem muito
na granja, então não usavam todo o tempo para estudar, e deu a reprovação,
esperançoso de ganhar o perdão e o voto da família.
Minha
surpresa foi grande quando ela disse: - Vamos votar todos em você. A geladeira
quero ganhar do outro, que é rico. Ainda bem que você ajudou a “rodar” meu
filho. Se ele passasse, ia para o Seminário de Irati, no Paraná, e eu o ia ver
só no fim do ano. Assim, ele saiu do seminário, voltou pra casa,
está nos ajudando muito, vai casar e ficar aqui, para nossa alegria
e felicidade! E ficou muito contente porque eu ajudara a reprovar o
filho. E eu levei os votos...
Um outro
caso, de que tive conhecimento, através do protagonista, o saudoso ex-Prefeito
Ivo Luiz Bazzo, de Ouro, refere-se aos tempos da UDN e do PSD. Ouro ainda
pertencia a Capinzal e Bazzo foi com o candidato da UDN, Deolice Zênere, fazer
campanha lá na costa do Pelotas, numa casa onde havia 11 eleitores. Bem
recebidos, tiveram a promessa de que ganhariam todos os votos. Na apuração das
urnas, Bazzo era fiscal e a urna da comunidade onde votavam havia 11 votos com
o XIS no quadrinho de Deolice Zênere, da UDN, e os mesmos XIS no quadrinho de
Nízio Baretta, do PSD, sendo os 11 votos anulados.
Dias
depois, sendo eleito o candidato apoiado pelo Bazzo, ele foi para aquelas
bandas para agradecer e passou na casa dos amigos e perguntou o que aconteceu
que votaram em ambos os candidatos. O patriarca, muito humilde, um senhor
moreno já com os cabelos brancos, disse-lhe que o outro candidato também os
visitar, era muito simpático e bonzinho, e eles prometeram votar para ele
também. E cumpriram a promessa!
Eleições
guardam surpresas. Eu sei o que quero para minha cidade. Eu tenho uma razoável
compreensão da capacidade de angariar voto de cada candidato a Prefeito de
algumas cidades, em especial de Joaçaba. As pessoas me contam sobre o que
tiveram de positivo e o que tiveram de decepção com os que já ocuparam cargos
públicos e mesmo o de prefeito. Quem deve escolher é o eleitor. Que corram os
rios de leite e mel e que chova leite com cuscuz. Quem teve melhor
mensagem, tem mais credibilidade ou vendeu mais esperanças, pode levar o
resultado positivo. Conta também organização, boa comunicação e equipe
apoiadora. Boa sorte a todos!
Euclides Riquetti – Escritor