Li, recentemente, o livro "José Maliska Sobrinho - Biografia". Valeu a pena ter lido!
Conheci o Sr. José Maliska Sobrinho quando ele vizinhou
conosco no Distrito de Ouro, pouco antes de este emancipar-se de
Capinzal. Mas ouvira falar dele no inverno de 1960, quando sua esposa,
Pierina Motter Maliska veio a falecer e eles moravam nas proximidades da
Prefeitura Municipal. A Sede da Prefeitura de Capinzal se localizava em
Ouro, seu distrito, e não no local onde hoje há a sede daquele
município. Coisas da política, das velhas rivalidades entre UDN e PSD.
Meu primeiro contato com os Maliska veio na semana seguinte ao
falecimento de Dona Pierina, que deixou nosso mundo ao dar à luz uma
filha, a Maristela, em 10 de julho de1960. Um parto muito difícil, em
que as opções do médico eram entre a de salvar a mãe ou a filha. Dona
Pierina, com 36 anos, sugeriu que salvassem a bebê. Achava que tinha
vivido bastante e que a menina é que precisava ser contemplada com a
vida. Apesar de todos os esforços do médico e das auxiliares, naquela
madrugada de sábado para domingo, nasceu a Maristela e sua mãe foi pro
céu. Eu e o Moacir Richetti, meu primo, fomos entregar os convites para a
missa de sétimo dia de casa em casa. A saudosa Tia Maria Lucietti,
segunda esposa do Tio Victório, era amiga deles e fomos atender a um
pedido de pessoas ligadas à família Maliska.
Quando eles vieram morar no casarão que fora construído pelo
Sr. Marcos Penso, na Rua Senador Pinheiro Machado, e que hoje pertence
aos herdeiros de Idalécio Antunes, fiz amizade com os filhos,
especialmente o Rui. O Rui era um menino educadíssimo e que parecia
frágil, mas muito inteligente. Ensinou-me o que era um estádio de
futebol, quando fazia um deles num monte se serragem que havia perto do
casarão, na rua, onde brincávamos ao final das tardes. Naquele tempo,
era normal que, num dia inteiro, nenhum carro passasse pela rua, uma
vez que estes eram raros. Antes, era utilizada pelos caminhões da
família Penso. Depois, poucos por ali transitavam.
A História de José Maliska Sobrinho e toda a sua família é
contada pelos filhos de seu segundo casamento, com Celina Miqueloto, os
amigos Marcos Augusto Maliska e Maurício Eugênio Maliska, num livro
biográfico que publicaram através da Juruá Editora, de Curitiba, em 2012
e que no ano seguinte passou a chegar às mãos dos amigos da família.
Fui presenteado pelo meu ex-aluno Marcos e pelo seu mano Maurício.
Agradeço de coração!
Emocionei-me diversas vezes ao ler a história dos Maliska. Já
considerava o Sr. José pela fineza e amabilidade com que tratava as
pessoas na época em que eu era um adolescente. E eu admirava aquela
caligrafia dele, inconfundível, nos documentos em que escrevia no seu
Cartório, em Capinzal. Um verdadeiro gentleman, elegante no vestir-se,
no andar e no falar calmo, equilibrado e pausado. O Maliska, além de
todas as virtudes e atributos como bom pai e marido, também cidadão
muito responsável nas suas atividades públicas e profissionais, era
ainda um exímio atirador. O amigo Nelito Francisco Colombo sempre me
contava das façanhas do "Venho Maliska", com seu 38.
José era um dos melhores amigos de meu pai. Formavam um
grupinho de amigos em que ele, meu velho Guerino, o Luiz Gonzaga
Bonissoni, o Werner da Silva, o Giavarino (Bijuja) Andrioni e meu primo
Rozimbo Baretta se reuniam num bar, ali defronte à Ponte Irineu
Bornhausen, no Ouro, e ficavam tomando umas pinguinhas e contando
histórias e causos. Agora, lendo o livro, pude reviver algumas das que
meu pai nos contava... E passei a entender o porquê de seu entendimento
fácil com o Maliska e o Bonissoni, pois tinham o mesmo perfil cultural e
intelectual, foram grandes leitores e pesquisadores, aprendiam a fazer
as coisas com facilidade, tinham ótima expressão oral e escrita. Tudo
beirando à perfeição!
Toda a vida da família Maliska, começando pela narração da
vinda deles para o Brasil, quando o pai de José, Francisco, veio
da Polônia, e casou-se no navio com Júlia Romanowski, alemã, que nele
conheceu está relatada no livro biográfico. As dificuldades desse casal e
dos filhos, se aventurando por terras do Rio Grande do Sul, as cartas
trocadas entre a parentada e seus descendentes, tudo é informação digna
do maior crédito e constam nas paginas da edição.
Não vou aqui fazer uma resenha de tudo o que está na obra, mas
li cada linha, observei e analisei cada detalhe do que está escrito.
Tenho muitas lembranças do José, da Isabel, da Eleonor (que mora aqui em
Joaçaba e que seguidamente a encontro na rua) do Luiz, que é advogado
aqui em Joaçaba e com quem costumo me deparar na fila de um banco, do
Aliomar que andava com aquele Corcel branco de 4 portas, em 1970, e
vinha com o Rui para abasctecer no Posto Dambrós, e da pequena
Maristela, que foi criada pelo tio Dr. Antônio Maliska e pela Delfa,(
irmão e cunhada de José). Da Carmen, que foi embora quando eu era
criança, poucas lembranças tenho.
Descobri, no livro, o lado poético do Sr. José. Um romântico
autêntico, que escrevia palavras bonitas, que sabia amar e fazer-se
amar. Retirei, da página 85, parte do que escreveu numa carta à amada
Pierina, quando ela tinha ainda 15 anos:
"Para mim, apesar de ser pequenino, tenho o coração
grande para te amar; eu julgo que tu terás pena de mim, sem teu amor a
flor logo há de morrer: conforme florescem as plantas, e a lua vai se
ostentando cada vez maior, uma força poderosa em mim vai se alastrando.
Qual será o coração que vendo as maravilhas da natureza não sinta
vontade? Alta noite enluarada, minha alma triste e abandonada vive
sempre a pensar!... Moreninha, tu és uma jabuticaba, madurinha a valer.
Enquanto não proseamos, meu coração não para de bater..."
Que bom constar isso e poder me referir de maneira carinhosa
a uma pessoa que nos deixou em 23 de junho de 1979, e que seus filhos
hoje resgatam sua história de generosidade e cidadania através de um
livro, onde se resgata a história de um cidadão honrado e que nos deixou
belos exemplos.
Parabéns!
17-01-2016