Ambiente muito acolhedor, além de vinhos e espumantes de alta qualidade, na Villágio Grando, aqui e Água Doce - SC. Vale a pena visitar
Quem não gosta de um bom vinho? A resposta vem, naturalmente,
de cada um de nós, e é difícil encontrar alguém que não aprecie um bom
produto, seja ele de uvas americanas ou de europeias. Aqui no Vale do
Rio do Peixe, duas cidades se destacam na produção de vinhos e
espumantes: Pinheiro Preto e Tangará. Produtos bons, em marcas que
ganharam fama nacional e internacional, com uvas americanas ou
europeias. Em Campos Novos, com a supervisão de técnicos da Epagri, são
produzidos bons vinhos de viníferas de altitude, bem como em São
Joaquim, que vem conquistando nome no mercado nacional e internacional.
Passei a interessar-me por vinhos, tentando entender os
processos de fabricação, as varietais e a qualidade, lendo muito sobre o
assunto, vendo reportagens televisivas e mesmo participando de
degustações. Apenas degustar, por si só, não nos ensina muito. Porém,
quando a degustação vem acompanhada da avaliação e opinião de enólogos,
você passa a perceber a diferença que há em cada um. Tenho aprendido
gradativamente sobre eles.
Quando criança, ajudei a fazer vinho lá no Leãozinho, no sítio
de meu padrinho, João Frank, na casa de quem fui morar com apenas um
ano, um mês e dezessete dias. (Nasceu minha irmã Iradi, que mora hoje em
União da Vitória, e meus padrinhos João e Rachel,
levaram-me gentilmente para morar com eles, onde permaneci até os oito
anos de idade, quando voltei para a casa de meus pais, em Capinzal.)
Lá, ajudei, desde tenra idade, a produzir vinho, com a função de pisar a
uva nas tinas de carvalho, amassando os grãos de uvas americanas
brasileiras, a Bordô, a Isabel e a Francesa. Esta, por ter a casca fina,
é mais recomendada para o consumo in natura. As outras, para a produção
do vinho colonial, como o chamamos por aqui.
A primeira vez que tive contato com gente que entendia de
vinhos aconteceu na cidade de Catanduvas, na casa do colega Prefeito
Saul Leovegildo de Souza, numa reunião de prefeitos, há 22 anos. Nosso
colega Faustino Panceri, Prefeito de Tangará e produtor de bons vinhos,
pegava garrafa por garrafa dos vinhos que o anfitrião nos oferecia e
dava o veredicto: "Este Niágara (branco), que é de produção de minha
vinícola, pode jogar fora. É "vinho morto!" Todos olhavam, não
entendiam por que se haveria de dispensar um vinho de uma garrafa que
ainda não fora sequer aberta. Então, ele a colocava diretamente junto a
um facho de luz e nos mostrava. Não havia transparência no líquido.
Depois, abria a garrafa, colocava numa taça. Abria outra, da mesma marca
e variedade e comparava: "Vejam a diferença: o vinho morto está turvo. O
outro está com sua cor natural, mas límpido, transparente". E
constatávamos a grande verdade.
A partir de então, comecei a ler tudo o que me aparecia à
frente em termos de literatura sobre vinhos, de todas as procedências e
de todas as qualidades. Frequentei as Vinícolas Cordelier, Aurora e
Miolo, na Serra Gaúcha, participei de degustações com enológos
experientes, aprendi a entender o porquê de haver astronômicas
diferenças de preços entre uma garrafa e outra, muitas vezes da mesma
varietal e marca. Na Miolo, em Bento Gonçalves, um enólogo me disse que
os vinhos da América do Sul produzidos em 2000 e 2002 eram os "medlha de
ouro"; os produzidos em 2004, "medalha de prata"; e os de 2005,
"medalha de bronze". Isso foi em 2007.
Então, passei a analisar melhor os vinhos produzidos em
Capinzal e Ouro, com uvas americanas: Casca Dura, Isabel, Bordô e
Niágara. O Casca Dura da marca Monte Sagrado, produzido pelos meus
primos Alceu e Josenei Rech, lá na Linha Sagrado, é de ótima qualidade.
Assim como sabem produzir bom vinho colonial o Jamir Dambrós, o Ariston
Lanhi e os Molin. em Capinzal. O Niágara, do Hilário Rech, com a marca
Nono Saule, também lá no Sagrado, vale a pena ser consumido. E o
Cabernet Sauvignon Bertolla, do amigo Joair, com uvas europeias, de
altitude, sempre é muito bom! Mas há outros produtores que fazem vinho
para o consumo próprio de muito boa qualidade. Conta para isso colherem a
uva no tempo certo, com grãos saudáveis. E nos períodos de pouca chuva a
uva é mais doce e gera vinho de melhor sabor. O cuidado na confecção e,
sobretudo, a sua armazenagem, são fatores fundamentais para sua boa
qualidade.
Nos últimos anos, fui duas vezes à Vinícola Villaggio Grando,
no Distrito de Herciliópolis, em Água Doce. Em ambas participei de
degustações de seus vinhos de altitude. Ali ele tem parreirais com
videiras que ele mesmo desenvolve, promove sua evolução genética.
Maurício Grando era madeireiro e, segundo ele, quando ser madeireiro
passou a significar "inimigo do meio ambiente", foi à Europa aprender
sobre vinhos e parreirais. Aprendeu e trouxe suas ideias inovadoras para
Água Doce. Fez parreirais e todos o chamavam de louco. Substituiu a
serraria por uma cantina. Hoje, produz vinhos dos melhores do país,
como o Canernet Sauvignon, o Sauvignon Blanc, o Chardonnay, o Tannat e
outros. Também seu exclusivo "Innominabile".
A fazenda do Maurício Grando é algo difícil de descrever pela
beleza paisagística e organização singulares. O capricho mora ali! .
Seu projeto, que está implantando gradativamente, é fabuloso. Seus
vinhos e espumantes são de altíssima qualidade e só são encontrados em
algumas casas especializadas. Podemos afirmar, com toda a certeza, que o
Sul do Brasil produz vinhos de qualidade igual às melhores marcas da
França, Portugal e Itália.
Então, você que gosta de um bom vinho, procure ler muito na
literatura especializada e converse com enólogos ou bons apreciadores.
Não com aqueles que compram uma garrafa porque é cara, mas com aqueles
que sabem identificar, realmente, o que é um bom vinho.
Euclides Riquetti
30-10-2013