No ano das
maiores incertezas de nossa história conhecida aqui no Sul do Brasil, há a
necessidade de uma análise reflexiva, mesmo que um tanto superficial, sobre
como temos nos situado, comportado, e reagido em relação à Administração
Central, em Brasília. Somos importantíssimos na composição do PIB nacional, na
exportação de soja e de produtos naturais ou industrializados, quer de nossa
indústria alimentícia, quer na produção de equipamentos de alta tecnologia.
Temos um povo que frequenta a escola, um capital humano em termos de
conhecimento muito forte, uma massa crítica muito ativa.
Aqui em Santa
Catarina, a presença da corrupção no meio do serviço público existe, (embora em
menor índice na comparação com outros lugares), os traços culturais são
intensamente vivenciados, nosso potencial de produção é elevadíssimo. As
belezas naturais fortalecem a atividade turística como fator gerador de
trabalho e renda, além do lazer. O trabalho dos órgãos de segurança pública é
exemplar, nossos policiais têm curso superior e são muito bem treinados. A
preservação do Meio Ambiente já é parte de nossa conduta normal, o respeito ao
cidadão idoso e às crianças pode ser considerado acima da média. Temos
excelentes universidades, profissionais altamente qualificados na Saúde, na
Educação e na prestação de serviços. Nossas plantas de manufatura estão
recheadas de profissionais competentes e muito sérios.
Toda a força de
produção e o bom exemplo exalado por nosso estado, todas as nossas condutas
positivas, todas as riquezas que geramos para nosso País, no entanto, não têm
mão dupla: levam muito embora e nos devolvem bem menos do que merecemos. Será
que nossos representantes, em Brasília, são muito educados, ou não conseguem
agir com firmeza diante de sucessivos governos que pouco nos têm prestigiado?
No exato momento, busque as rodovias que cortam nossa Santa Catarina, em
qualquer ponto, de Sul a Norte ou de Leste a Oeste, e vice-versa, e verá o
movimento de caminhões transportando a produção como se não houvesse crise em
razão da pandemia.
No comércio
local, alguns setores estão operando com movimento até 30% maior do que em maio
e junho do ano passado. As pessoas estão, em sua maioria, se ocupando de
maneira a se protegerem e a protegerem os demais. No setor da construção civil,
em todas as cidades as pessoas estão tocando seu trabalho, as lojas estão
vendendo muito. Mesmo no comércio de artigos para o lar e decorações,
verifica-se crescimento. O dinheiro gasto em viagens e em despesas não
essenciais vem sendo gasto em investimentos que ocasionam a melhoria do
bem-estar humano dentro das próprias casas.
Nossas
fraquezas, no entanto, são bem evidentes. Tivemos pouquíssimos investimentos em
melhorias de nosso sistema viário, nossas rodovias estão já há pelo menos duas
décadas esquecidas, as ferrovias ficaram no discurso e nas promessas. Estamos
sujeitos à ocorrência de eventos climáticos adversos, como o caso do
ciclone-bomba que causou sérios danos à população catarinense, uma hora é
estiagem, outra é enchente, e assim vamos levando nossa vida. O sistema hospitalar tem recebido migalhas,
os hospitais pequenos fecharam suas portas, os que restaram sobrevivem de
auxílios dos municípios, da comunidade e da venda de rifas. Na segurança
pública, os fatos narrados nos noticiários mostram, diariamente, as apreensões
de drogas e o combate a outros ilícitos, há muito violência doméstica
ocorrendo, acidentes nas estradas e ruas têm levado a vida de jovens. O ser
humano que muito pode, acha que tudo pode!
Nosso ativo é enorme, temos muito em que
melhorar, temos que exigir o respeito que merecemos, pois costumamos respeitar
e agir com disciplina. Procuremos ser mais positivos. Vamos trabalhar a mente e
a política para que Santa Catarina, especialmente, continue com avanços em
alguns setores onde isso possa ser possível, de maneira que se possa compensar
as perdas que vamos ter no setor do turismo, que vai ser o último a se
recuperar. A não ser que venha o sumiço do vírus e uma onde de euforia possa
contagiar as pessoas.
Euclides Riquetti – Escritor
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