Muito mais pessoas do que possamos
imaginar não estão nem aí pra democracia. Mais de metade dos eleitores
brasileiros, segundo pesquisas, pouco se importam com ela e dizem que têm
motivos para acreditar que a sociedade possa viver melhor sem ela. Diante de
tantas barbaridades que costumam ver e de negociatas para que políticos se
garantam no Poder, isso se torna compreensível.
Um instituto de pesquisas brasileiro
classifica os democratas como “sólidos” ou “instrumentais”. Os democratas
instrumentais existem há muito tempo, não é coisa de agora. Ora, em tempos de
pandemia, boa parte destes acham que os executivos devem, inclusive, passar por
cima de leis e normas para resolver os problemas causados pela pandemia do novo
coronavírus, ou em momentos de outras crises. Mais de 80% de um grupo pesquisado se enquadra
no de “democratas instrumentais” e cerca de 12% se consideram “democratas
sólidos”, aqueles que creem na “democracia acima de tudo”. Os instrumentais
querem viver num Estado prático e flexível. Nesse contexto, os chefes de
executivo, em todos os níveis, foram eleitos para resolver os problemas da
população e devem fazê-lo, nem que tenham que sobrepor-se às leis.
Mas nem só de democracia e política
vivem os homens e as mulheres. Há coisas muito importantes que precisam ser
preservadas, como ter emprego e renda, gozar de boa saúde, ter comida à mesa,
poder andar nas ruas seguro e e ter
acesso aos estudos. Então, o cidadão comum, aquele que precisa labutar,
diariamente, para poder ter satisfeitas as suas necessidades básicas, tem um
pensamento próprio e engana-se quem pensa que as pessoas simples são
“teleguiadas” ou mesmo alienadas. Bem que as mulheres, que têm opinião muito
clara sobre os assuntos e que têm uma biografia respeitável, podiam ir para o
embate eleitoral e começar a ocupar um espaço maior, proporcional ao número de
eleitoras cadastradas. Seria bom para a política que as mulheres conquistassem
mais postos no Executivo e no Legislativo.
No momento, enquanto se discute o que é
melhor para nos prevenirmos contra a Covid 19, o contrabando continua em alta,
o comércio de drogas idem, e os feminicídios acontecendo. As agressões contra a
mulher podem ser em número bem maior do que mostram as estatísticas oficiais.
E, vergonhosamente, muitos gestores da saúde, inescrupulosos, continuam tirando
do dinheiro sagrado que deveria ser bem aplicado na saúde das pessoas.
Enquanto isso, nos municípios, os
acertos e desacertos nas coligações para o executivo municipal vão acontecendo.
Há, sempre, um jogo de interesses na pauta, há quem detenha votos e se coloca
como cabo eleitoral. Como não há mais a possibilidade de coligações para o
Legislativo Municipal, os partidos que não tiverem um time razoável (não em
quantidade de candidatos, mas sim em número de votos), acabarão por não
elegerem nenhum vereador. Também, por ser uma eleição atípica em virtude da
ocorrência da pandemia do novo coronavírus, o acesso do candidato ao eleitor
também será limitado. Isso favorecerá quem já é muito conhecido e contará a
maneira como será o seu contato com o que vota.
Mantive contato com políticos de algumas
cidades e o pensamento deles continua o
mesmo que vem pautando as eleições há algumas décadas. Chovem candidatos ao
cargo de prefeito, em partidos que se apresentam como alternativa aos
tradicionais MDB, PP, PT, PSDB, DEM/PSD. Neste pleito, seria o momento de os
partidos mais fortes elegerem um bom número de representantes nas câmaras municipais, mas, diante do quadro
atual, tudo é muito imprevisível. Dado o quadro atual, um mesmo partido que
venha a eleger 3 vereadores numa câmara com nove cadeiras, é uma demonstração
de muita força política.
Euclides Riquetti – Escritor –
Minha coluna no Jornal Cidadela - Joaçaba - SC - 28-08-2020
Minha coluna no Jornal Cidadela - Joaçaba - SC - 28-08-2020
Aqueles que acham, que a sociedade pode prescindir da democracia, são os poucos que estão se dando bem no capitalismo neoliberal, aqueles que nunca pensam a nação onde, normalmente, impera individualismo, ganância, discriminação, soberba...
ResponderExcluirEntendo que no brasil, nunca houve democracia de verdade, e quando houve foi de baixíssima intensidade. As poucas vezes que isso ocorreu a "sociedade" (mídia, poderes constituídos, igreja, Forças Armadas, elites econômicas...) não permitiram, porque acham que contraria seus interesses e o do Império. Cito três momentos apenas da realidade brasileira: 1954, 1964 e 2016.
Democracia é o exercício do contraditório previsto no códio de processo civil 2015.
A democracia exige do cidadão, além de sua intuição natural, conhecimento mínimo de seu país: sua cultura, sua gênese enfim.
Ao sul do mundo onde vivemos, abaixo do Rio Grande, a coisa nunca foi fácil. Exemplos não nos faltam: a Pátria Grande de Bolívar, Cuba de Marti e Fidel, a Venezuela de Chaves, o Chile de Allende, o Brasil de Getulio, Jango, Lula/Dilma, só para citar alguns.
Entender para exercitar a democracia implica, primeiro - estudar nossa história, a história da América latina e Caribe e EUA...
Isso dá um pouco de trabalho, quase sempre dificultado por razões econômicas e ideológicas.
Para virar craque mesmo precisa ler: Simón bolivar, Simón Rodrigues, Marti, Fidel, Chaves, Chomsky, Scorza, Vargas Lhosa, Mariategui, Garcia Marques, Eduardo Galeano, Luiz Alberto Muniz Bandeira Celso Furtado, Paulo Freire, entre outros. Citei apenas um lado da medalha o outro é amplamente divulgado pelo sistema vigente, o famigerado neoliberalismo.
O Brasil hoje, para mim, parece três coisas:
a. um quartel/delegacia (parte-se do principio que todo mundo é culpado até prova em contrário) contrariando a Constituição;
b.um templo de orações (onde os teólogos, principalmente os neopentecostais barbarizam contra a educação e a ciência penalizando toda a sociedade, além de assaltar o povo com suas coletas via conta bancária);
c. um ambulatório médico (em função da pandemia).
A pandemia, por incrível que pareca, é a que menos atrapalha a democracia, o que mata mesmo, é o quartel/delegacia e o templo.
Penso que essa turma que não gosta da democracia tem preguiça de pensar, prefere os dogmas a procurar o entendimento social.
O mundo só vai melhorar quando se submeter á vontade dos mais humildes, daqueles que conseguem dividir seu prato de comida...
HH