O últtimo domingo amanheceu muito frio. As pessoas não se encorajavam em sair de casa. Mas eu estava determinado, tinha planejado participar da ação "Pela trilha dos trilhos"! Tinha compromisso ao meio-dia, um almoço. Podia conciliar as duas coisas e assim o fiz. A alegria e a satisfação de encontrar pessoas que podem tornar-se novos amigos e reencontrar outros, faz parte de meu ser. Sou inquieto, gosto de buscar a satisfação de minhas curiosidades.
O desconhecido me amedronta. O misterioso me desafia e me fascina. Andar, a pé, por um lugar onde, há meio século costumava passar de trem, me traz belas e deliciosas recordações. E emoções...
Como fora marcado, cheguei alguns minutos antes da hora da saída: 9 horas, defronte à desativada Estação Ferroviária de Herval d´Oeste, com o objetivo de seguir rumo ao Norte, até onde se situava a antiga Estação Luzerna. Soube que, bem cedo, antes de clarear o dia, o Ninho e mais dois havia partido, devendo chegar em Ibicaré. Como nos fora recomendado pela amiga Edna Faganello, calçados com proteção por causa da relva úmida. Na verdade, havia chovido muito nas horas anteriores e os trilhos e dormentes, que há mais de 30 anos ali repousam praticamente sem uso, estavam cobertos de água, barro, capins e muito "beijos". Uma das aventureiras, a Sandra (Emmerich), natural de Erechim, relatava que, quando foi construída a ferrovia, foram jogadas toneladas de sementes de "beijos" ao longo da obra. E suas sementes, após a devida dormência, em cada ano, reflorescem maravilhosamente.
O Elias Zampirão e a esposa, Suzete Mott, têm conhecimento da história de cada lugar por que passávamos: "Ali é o Poço Rico", e contava uma história de que era um lugar fundo e que dizem que há uma espécie de "pote de ouro" ou algo assim, que ali uma vez foi jogado. Mais adiante, mostra um lugar e se posiciona sobre ele: "Aqui, há 32 anos, tirei uma foto!" Nascido em Herval d ´Oeste e filho de ferroviários, conhece muito de nossa estrada-de-ferro. O professor Rogério, que serviu no 5º BE - em Porto União, fala de suas idas de treem para aquela cidade. A esposa, Célia Reni (Barcella), que sempre o acompanha nessas aventuras, lhe dá total apoio. Sabem, ambos, da importância deste bem. De qualquer forma, uma caminhada em que se experimentou o medo ao atravessarmos uma ponte danificada, o riso pelas histórias e causos que a turma contava, e a emoção refazermos um caminho que fiz, há 4 décadas, pela última vez, no trem.
O Henrique Glaser, que foi Gerente da Caixa em Capinzal, é um entusiasta de causa e até levou uma faixa alusiva, com a inscrição: REATIVAÇÃO FERROVIA DO CONTESTADO JÁ!, de cujas fotos estamos repercutindo no facebook. Lembramos de quando nos conhecemos, em 1977, ocasião em que me atendeu na agência de Joaçaba, em que eu fora transferir uma conta da agência de União da Vitória, uma vez que viera morar em Zortea e esta era a agência mais próxima. A Fátima de Souza, dizia que gosta de escrever poesias, que é do Barro Preto, ali de Capinzal. A Mercedes do Nascimento esteve lá para apoiar nossa saída. As irmãs Sinclair e Maria Helena Biazotti, que são naturais nde Tangará, muito entusiasmadas, eram crianças quando o trem parou de andar por aqui. Através delas, fico sabendo que meu colega de Letras da Fafi, em União da Vitória, Lodovino Pilatti, está morando em Tangará. Não o vejo há exatos 40 anos...
Quase duas horas admirando os paredões de pedras, os muros de contenção e as artes correntes que foram confeccionadas pelos trabalhadores na primeira década do Século XX. Muitos conflitos, mortes, desentendimentos e entendimentos. Uma obra com derramamento de sangue e secundada pela Guerra do Contestado. Um ferrovia que foi privatizada e que foi desativada. Uma estrada abandonada que corta todo o Vale do Rio do Peixe, desde a divisa com o Rio Grande do Sul, em Marcelino Ramos, para nos levar a União da Vitória. Uma ferrovia que originou histórias e romances. Algo que marcou a vida de milhares, quem sabe de milhões de pessoas que por ela transitaram nos mais de 70 anos em que esteve em operação.
Agora, a pergunta: "Por quê? Por que, em tempos em que as BRs estão apinhadas de veículos, não de recupera para finalidades turísticas ou então se moderniza para o transporte da produção regional?" Certamente que a resposta, alguma hora virá. É uma patrimônio histórico, cultural e econômico fantástico.
Sabemos que já há decisão judicial irrecorrível de que os proprietários devem recuperar a ferrovia e deixá-la em condições de operação comercial. Sim, porque quando a adquiriam, essa era a condição legal. Se deixaram que chegasse à condição atual, é problema deles que não cuidaram do que era seu de direito mas também de dever. De nossa parte, estamos juntos para defender nossa história e nossa cultura. Muitas vidas foram sacrificadas e muitos conflitos gerados para sua implantação. Entendemos que, agora, não é justo que todo esse sacrifício fique relegado a "não ter importância".
Euclides Riquetti
26-05-2014
- Nos olhos do filho verei o futuro
mesmo inseguro, mesmo assim
nos trilhos do tempo dormentes ao relento
num olhar sem fim e falo pra mim
sera possível deixar no abandono
um rei sem o trono um vaso ser flor
trilhos sem trem, o amor que não vem
quem sabe um dia retorna meu trem....
Quantas historias contadas sob a luz de um fogão, estão se perdendo por algum motivo, mais o mais provavel e a valorização, diga falta, a aqueles que tem o dom da curiosidade de descobrir causos e historias vividas por nossos ancestrais... tu amigo Riquetti faz parte deste grupo que quer contar pras proximas gerações... abraço..tamo junto!
ResponderExcluirassinando o comentario assima
ExcluirElias Zampirão dezembro 2020