Neste sábado, à noite, recebi a ligação de um amigo que há muito eu não via ou ouvia, o Diulino Pelizzaro. Então, como diziam meus alunos "me toca" de reprisar, aqui, a história que escrevi sobre ele e os familiares, há uns três nos. Foi uma conversa muito prazerosa. Obrigado por me ligar, amigão!
O Diulino foi meu colega de escola no ensino primário, lá na antiga Rio Capinzal. Sempre tinha uma história boa para me contar. Em algumas ele exagerava, mas, quem não exagera? Pois então eu vou contar uma dele. Propus-lhe amizade virtual e ele aceitou. Mandou-me uns recados e, não foi no primeiro contato que ele percebeu quem eu era. Ele me conhecia pelo apelido e não pelo nome. Depois ele me identificou e respondeu minhas mensagens in box.
O Diula sempre foi uma figuraça. Era doente por carros. Acabou virando comerciante de caminhonetes e se deu bem. Tinha daquelas que só "doutores" conseguem comprar. Mas, antes disso, lá por 1960 e bem poucos, tinha uma bicicleta. E, quando faltava freio, botava a sola do sapato no pneumático para segurar. Tinha uma mania que era só dele: pedalar morro abaixo e frear perto da esquina.Um dia, saiu do Mater Dolorum, passou pela Casa Canônica, até aí sem pedalar. Mas na Rua ao lado de um engarrafamento de bebidas, onde hoje é a Prefeitura de Capinzal, deu uma pedaladas. Para seu azar, quando ia chegando na esquina, ao frear, não sei se quebrou ou caiu a corrente da sua Monark e ele atravessou a Rua Carmelo Zóccoli (naquele tempo eram raros os carros nas ruas), bateu no meio-fio e, com isso, foi alavancado para a altura de uns 2 metros, indo bater com a cabeça na parede de madeira da casa amarela que fora construída pelo Carmelo Zoccoli.
A batida foi tão forte que derrubou um armário que estava num dos aposentos, dentro da casa. Imagine o estrago, não na casa. Nele!
Quando soube da notícia, no outro dia, fui correndo visitá-lo no Hospital Nossa Senhora das Dores, naquela ala em que se vê a matriz São Paulo Apóstolo pela janela. . Estava lá com a cara preta e vermelha. Quem não o tivesse conhecido antes, não conseguiria imaginar como seria seu rosto. E os amigos iam visitá-lo e o faziam rir, pois todos já conheciam a história de sua aventura maluca. O boca-em-boca levava a informação rapidamente. Mas ele não podia rir, pois quando era incitado a isso, doiam-lhe todos os músculos das faces. Se ele risse, día muito. Êta azar!... Nós lhe dizíamos que ele teve sorte porque era um "cabeça-dura". Se fosse um "cabeça-mole" teria se danado. Gostávamos muito dele. Logo ele voltou à vida normal, graças a Deus ( e ao bom tratamento que recebeu). Deu um susto no Seu Antônio Pelizzaro, na mãe, nas manas Angelina e Silvalina. O seu Antônio tinha um cabelão bem arrumado, tipo Elvis Presley, castanho-escuro. Agora está branquinho...
Mas a obstinação por veículos estava apenas começando. Uns tempos depois, quando já tinha idade, comprou um belo carro vermelho e branco. Um daqueles carrões importados. Claro que o dele era bem usadão. E nos falou: "É um hidramático". Nós nem tínhamos ideia do que isso fosse. Então, começaram as piadinhas porque ele deu um dinheiro e mais umas coisas no negócio. E os outros diziam: "O Diulino comprou um hidramático. Deu um cavalo, uma bicicleta, uns boizinhos do pai dele, uma espingarda, um revólver e umas galinhas na troca, um perfeito escambo. Era só gozação nossa, mas bem que ele empurrou um monte de coisas no negócio.
O problema do carro dele é que esse tipo de carro não podia pegar no tranco quando a bateria não tivesse carga, porque não tinha embreagem. Nós achávamos aquilo tudo muito estranho. E a bateria era muito tranqueira e descarregava. E ele tinha gastado todo o dinheiro no negócio e não tinha como comprar uma bateria nova. Então, quando ia a algum lugar e na hora de ir embora o carro não pegava, ele o deixava onde estivesse. Retirava a bateria, colocava dentro de um saco de ráfia, punha sobre o ombro, ia a um eletricista e mandava recarregar. Era um baita sacrifício. Mas ele não desistia. Muito antes da propaganda existir, já poderíamos dizer: "O Diulino é brasileiro. E brasileiro não desiste nunca!"
Num e-mail falei-lhe de seu "hidramático" e ele respondeu-me: "Agora até os tratores agrícolas são automáticos". O automático, hoje, equivale ao tal de hidramático de nossa época.
Encontrei-o algumas vezes nos últimos 20 anos. Sempre com belos carrões. Fico contente que ele não aparece mais por aí de bicicleta. Vai que caia, de novo, a corrente dela quando estiver descendo um dos nossos morros...
Euclides Riquetti
03-05-2013
O Diula sempre foi uma figuraça. Era doente por carros. Acabou virando comerciante de caminhonetes e se deu bem. Tinha daquelas que só "doutores" conseguem comprar. Mas, antes disso, lá por 1960 e bem poucos, tinha uma bicicleta. E, quando faltava freio, botava a sola do sapato no pneumático para segurar. Tinha uma mania que era só dele: pedalar morro abaixo e frear perto da esquina.Um dia, saiu do Mater Dolorum, passou pela Casa Canônica, até aí sem pedalar. Mas na Rua ao lado de um engarrafamento de bebidas, onde hoje é a Prefeitura de Capinzal, deu uma pedaladas. Para seu azar, quando ia chegando na esquina, ao frear, não sei se quebrou ou caiu a corrente da sua Monark e ele atravessou a Rua Carmelo Zóccoli (naquele tempo eram raros os carros nas ruas), bateu no meio-fio e, com isso, foi alavancado para a altura de uns 2 metros, indo bater com a cabeça na parede de madeira da casa amarela que fora construída pelo Carmelo Zoccoli.
A batida foi tão forte que derrubou um armário que estava num dos aposentos, dentro da casa. Imagine o estrago, não na casa. Nele!
Quando soube da notícia, no outro dia, fui correndo visitá-lo no Hospital Nossa Senhora das Dores, naquela ala em que se vê a matriz São Paulo Apóstolo pela janela. . Estava lá com a cara preta e vermelha. Quem não o tivesse conhecido antes, não conseguiria imaginar como seria seu rosto. E os amigos iam visitá-lo e o faziam rir, pois todos já conheciam a história de sua aventura maluca. O boca-em-boca levava a informação rapidamente. Mas ele não podia rir, pois quando era incitado a isso, doiam-lhe todos os músculos das faces. Se ele risse, día muito. Êta azar!... Nós lhe dizíamos que ele teve sorte porque era um "cabeça-dura". Se fosse um "cabeça-mole" teria se danado. Gostávamos muito dele. Logo ele voltou à vida normal, graças a Deus ( e ao bom tratamento que recebeu). Deu um susto no Seu Antônio Pelizzaro, na mãe, nas manas Angelina e Silvalina. O seu Antônio tinha um cabelão bem arrumado, tipo Elvis Presley, castanho-escuro. Agora está branquinho...
Mas a obstinação por veículos estava apenas começando. Uns tempos depois, quando já tinha idade, comprou um belo carro vermelho e branco. Um daqueles carrões importados. Claro que o dele era bem usadão. E nos falou: "É um hidramático". Nós nem tínhamos ideia do que isso fosse. Então, começaram as piadinhas porque ele deu um dinheiro e mais umas coisas no negócio. E os outros diziam: "O Diulino comprou um hidramático. Deu um cavalo, uma bicicleta, uns boizinhos do pai dele, uma espingarda, um revólver e umas galinhas na troca, um perfeito escambo. Era só gozação nossa, mas bem que ele empurrou um monte de coisas no negócio.
O problema do carro dele é que esse tipo de carro não podia pegar no tranco quando a bateria não tivesse carga, porque não tinha embreagem. Nós achávamos aquilo tudo muito estranho. E a bateria era muito tranqueira e descarregava. E ele tinha gastado todo o dinheiro no negócio e não tinha como comprar uma bateria nova. Então, quando ia a algum lugar e na hora de ir embora o carro não pegava, ele o deixava onde estivesse. Retirava a bateria, colocava dentro de um saco de ráfia, punha sobre o ombro, ia a um eletricista e mandava recarregar. Era um baita sacrifício. Mas ele não desistia. Muito antes da propaganda existir, já poderíamos dizer: "O Diulino é brasileiro. E brasileiro não desiste nunca!"
Num e-mail falei-lhe de seu "hidramático" e ele respondeu-me: "Agora até os tratores agrícolas são automáticos". O automático, hoje, equivale ao tal de hidramático de nossa época.
Encontrei-o algumas vezes nos últimos 20 anos. Sempre com belos carrões. Fico contente que ele não aparece mais por aí de bicicleta. Vai que caia, de novo, a corrente dela quando estiver descendo um dos nossos morros...
Euclides Riquetti
03-05-2013
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