No domingo, 29, aconteceram as eleições
em 57 cidades brasileiras onde houve a necessidade legal de realização de um
segundo turno para se elegerem prefeitos e seus respectivos vices. Os
candidatos de centro levaram os grandes resultados, inclusive com vitórias em
São Paulo e Rio de Janeiro. Se levássemos em conta o passado dos partidos,
poderíamos até dizer que o PSDB, que reelegeu Bruno Covas, em São Paulo, pela
sua origem, o antigo PMDB, sucessor e predecessor do MDB, seria um partido de
centro-esquerda. E o DEM, que elegeu Eduardo Paes, no Rio de janeiro, para um
terceiro mandato, também pela sua origem, seria um partido de centro-direita,
originário do antigo PDS, sucessor da Arena.
O MDB comandava 1.055 prefeitura, perdeu
251 e comandará 784, sendo o partido que mais municípios governará; o PP 685 e o PSD 654. E, em meio a isso tudo,
temos um bem-sucedido centrão, composto por PP (o legítimo herdeiro do PDS),
PSD (oriundo, como o DEM, do antigo PFL), PL, PTB, Republicanos, Solidariedade,
PSC, Avante, Patriota, e PROS, os quais reúnem políticos vindos de “tudo o que
é lado”, mas a maioria da direita histórica, com doses homéricas de
fisiologismo. O Centrão governará 45% das cidades brasileiras. O PSDB vai
governar para 34 milhões de pessoas; o MDB para 26 milhões; o DEM para 25,5
milhões. Neste segundo turno, o PT participou em 11 cidades e só conseguiu
eleger 4 prefeitos. Nenhum prefeito em capitais. O centro, se bem articulado,
elege com facilidade o próximo Presidente da República.
No
cenário todo, vimos que os institutos de pesquisas erraram de longe, passando
vergonha em alguns lugares. A diferença que era apontada em São Paulo entre
Covas e Boulos foi maior em favor do candidato do PSDB. Erraram bem ao ficarem
em cima do muro em Porto Alegre e Recife. No Ceará, passaram vergonha, embora o
eleito tenha sido o favorito nas pesquisas, mas com um resultado bem aquém do
esperado. Para uma eleição em São Paulo, com mais de 5 milhões de eleitores,
entrevistam a mesma quantia de pessoas que o fazem em médias e pequenas
cidades. Uma amostragem, para ser próximo do real, precisava buscar a opinião
de muito mais entrevistados porque o universo é bem maior.
A leitura dos resultados nos mostra que
Bolsonaro, Dória e Lula não empolgam mais ninguém. Dória fez discurso
vangloriando-se de ter promovido a reeleição de Bruno Covas em São Paulo, o que
mostra que é um arrogante. Todos sabem que o sobrenome Covas, como foi o de
Franco Montoro, são fortes em São Paulo, berço da Social Democracia Brasileira.
E que Dória foi um oportunista que se aproveitou das desgraças de FHC, Alkmin,
Serra e Aécio Neves para chegar ao Governo de São Paulo. Já na segunda, armou
mais confusão com atitudes desastradas e demagógicas em relação à pandemia em
seu estado, quanto às faixas de classificação dos riscos da Covid. Bolsonaro é um desastre político, que não
sabe usar as coisas boas que faz, desafiando a inteligência do ser humano. Como
presidente, age como um vereador encrenqueiro.
A esquerda foi bem representada por
Guilherme Boulos, que mostrou ser mais forte e articulado do que qualquer outro
político da esquerda brasileira. Tem argumentos fortes, é intelectualmente bem
preparado, inteligente e respeitoso, pois antes mesmo do final da apuração das
urnas de São Paulo, telefonou a Covas reconhecendo a vitória deste e
parabenizando-o. Com um discurso moderado, plantou agora para colher no futuro.
Agora, o compromisso dos prefeitos
eleitos e dos reeleitos é atender às expectativas dos que lhes confiaram a
força de seus votos. As cidades têm problemas estruturais que precisam ser
vistos e solucionados. A educação precisa ser gerida com liderança forte e não
conta apenas o discurso dos gestores e as estatísticas. A ação educativa
precisa estar articulada com o social e o humano. Não é a questão de colocar
mais ou menos dinheiro na parada, mas sim de ter programas que deem resultado
em níveis de aprendizado e em melhoria do padrão social do cidadão. Entraves ao
desenvolvimento precisam ser extirpados da administração pública. Governantes
precisam ser bem assessorados, precisam de planejamento claro e exequível,
ótimo nível de organização, clareza e severidade no comando e, quando precisam
dar um soco na mesa, devem fazê-lo sem nenhum receio. O regime político no
Brasil não é o Parlamentarista, os assessores têm que compreender e respeitar o
comando, sem fazer coisas ilegais. Então, agora, mão à obra. Temos menos de um
mês para o início dos novos mandatos. Que é marinheiro velho, já sabe onde não
pode mais errar. E quem vem em primeira viagem, precisa ter muitos ouvidos para
ouvir e filtros bons e limpos para perceber o que é útil e o que é inútil
naquilo que lhes chega.
Euclides Riquetti – Escritor –
Publicação no Jornal Cidadela -
Joaçaba - SC- 27-12-2020
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