segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Pouca saúde e muita política, os males do Brasil são!

 



       Em minha juventude fui um leitor compulsivo. Encantado pela Literatura Brasileira, viajei pela Portuguesa, pela Inglesa e pela Norte-americana. Nesta, lia livros de romances em Inglês dos maiores expoentes da Inglaterra e dos Estados Unidos. Lia até dez vezes mais do que era minha obrigação como acadêmico do curso de Letras/Inglês na FAFI, a Fundação, Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras, em União da Vitória – Paraná. Foi ali que ingressei na atividade político-estudantil, tornando-me vice-presidente do Diretório Acadêmico da mesma, aos 20 anos, em 1973.

       Dentre os britânicos, li muitas obras, em inglês, de William Shakespeare, Oscar Wild, Lewis Carrol, Charles Dickens; nos norte-americanos, Edgar Allan Poe, Ernest Hemingway. Também as traduções do francês Júlio Verne. Na literatura Portuguesa, Camões, Camilo Castello Branco,  Fernando Pessoa, Eça de Queirós, Florbela Espanca. Dentre os brasileiros, Machado de Assis, Jorge Amado, José de Alencar, Monteiro Lobato, Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino e o catarinense, simbolista, Cruz e Souza. De todos eles, tirei o que me servia, ampliei minha concepção de mundo. Duas frases ficaram em minha memória: “O Petróleo é nosso”, do nacionalista Monteiro Lobato, e a de Macunaíma, personagem de Mário de Andrade: “Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são!”

       Macunaíma foi “pintado” para simbolizar aquilo que era entendido como o legítimo brasileiro, malandrão, preguiçoso, “herói sem caráter”, egoísta, porém um ser muito astucioso. Escrito em 1928, seis anos depois da Semana de Arte Moderna, em São Paulo, um dos mais importantes movimentos políticos e artísticos do Modernismo, que aconteceu em 1922. Andrade foi um dos principais nomes do nosso Modernismo, e ajudou a organizar a Semana de Arte Moderna, juntamente com Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Menotti del Picchia.

      Mas antes, em 1816,o Botânico francês August da Saint´Hilaire  passou pelo Brasil e outros países da América do Sul, e deixou-nos uma frase: “Ou o Brasil acaba com as saúvas, ou as saúvas acabam com o Brasil”. Isso porque constatou a existência de muitas formigas saúvas destruindo plantações no Brasil. Um século depois, Macunaíma, a seu modo, repetia a expressão, mesmo com outras palavras.

       Passaram-se 100 anos, depois mais 100, e continuamos com as duas frases muito atuais e evidenciando o que tem acontecido em nosso País, tanto em termos de política como de saúde. A política foi ganhando espaços generosíssimos nos meios de comunicação, educação e saúde passaram a fazer parte dos discursos de toda a classe, mas continuamos muito defasados em ambas. As saúvas humanas proliferaram mais que os insetos.  Nosso  SUS é um dos melhores programas de saúde do mundo, mas as estruturas instaladas não são suficientes para comportar grandes adversidades, como é o caso da Pandemia da Covid 19. E os políticos continuam querendo ser as estrelas na desgraça, os protagonistas das soluções, quando houve um vacilo geral no início da desgraceira e um descuido enorme da população, que nem sabe mais em quem acreditar.

       O comportamento das autoridades em nível federal, não apenas  no que diz respeito à pandemia, mas com as relações internacionais, foi ridículo e muito prejudicial ao Brasil. Ofender parceiros comerciais é o mesmo que brigar com o vizinho que mora ao lado de nossa casa. Não sabemos de quem iremos precisar um dia. E a idolatria de Jair Bolsonaro para com Donald Trump o tornava cego. Bolsonaro precisa aprender que governar, em uma democracia, exige do governante que tenha posturas de estadista. Ou, no mínimo, que aprenda a ficar de boca fechada quando se mete a falar sobre assuntos que não domina. Tanto que seu prestígio está caindo justamente diante do pib bolsonarista. Agora, o foco de interesse político já não é o do âmbito municipal. Começa-se a campanha, antecipada como sempre, das eleições de presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Saber fazer a leitura correta do ambiente político é o fundamental para quem quer se manter no poder. E, sobretudo, o eleitor merece respeito, tanto o vitorioso quanto o derrotado.

       Os brasileiros esperam que os governantes considerem que há muita saúva campeando por aí e que falta muita saúde para todos nós.

Euclides Riquetti – Escritor – 

Minha coluna no Jornal Cidadela - Joaçaba SC 

 29-01-2021

Um comentário:

  1. Richetti, esperar atitudes de estadista de um sujeito como bolsonaro é querer demais..., já se passaram mais de dois anos e a toada é sempre a mesma, ofensas, desrespeito, desinteresse pelo principal, por aquilo que é essencial para o Brasil e para os brasileiros.
    Esse cidadão genocida, que "colocamos" no Planalto, sabe perfeitamente aquilo que está fazendo. Ele é a cereja do bolo, a coroação do golpe de 2016. Dentro desse contexto está a idolatria ao ridículo Trump, a subserviência ao império americano, a completa abdicação à soberania: Destruir/doar nossas principais empresas, provocar a desindustrialização, transformar o país, unicamente, num fornecedor de matérias primas para o centro do capitalismo (EUA, UE,...). (Aqui dá para entender a alegria da Globo quando repete ad nauseam "agro e teck, agro é top). Pobre Brasil!
    Dá para citar um grande elenco de ações tomadas desde Temer:
    - Destruição do Mercosul, Unasul... e tudo aquilo que possa interessar as relações Sul-Sul, suporte fundamental para nossas soberanias.
    - Retirada de direitos trabalhistas
    - Destruição da aposentadoria
    - Congelamento de gastos públicos (Emenda 195)
    - Destruição do Sus
    - Entrega do ensino público ao capital privado
    - Sucateamento das universidades públicas, paralização dos investimento em pesquisa...
    - Sucateamento total do país
    Com relação ao eleitor, concordo em parte com você, claro que ele merece todo respeito, porém, por outro lado, grande parte do eleitorado não se respeita, comprou, sem analisar, o peixe podre que a mídia venal vendeu durante anos, de que lula/Dilma e o PT inventaram a corrupção, Usaram, aquilo no qual são reconhecidamente mestres, para desestabilizar o Brasil, ganhar um monte de dinheiro e entregá-lo recolonizado ao império.
    O povo que se f..., eu quero o meu...
    Daí se pergunta: o Brasil precisa fazer boas relações internas e principalmente externas? Para mim, para você e para um monte de gente sim, mas para a gangue instalada em Brasília não, por tudo o que está dito acima.
    O pior de tudo é que eles têm o total apoio das Forças Armadas, do Congresso, do Judiciário e da mídia hegemônica, tudo sob o comando de Washington,
    Está na internet, e para entender um pouco daquilo que se passa no mundo, inclusive no Brasil, recomendo a leitura do livro ESTUDIANDO LA CONTRAINSURGENCIA DE ESTADOS UNIDOS: Manuales, Mentalidades y usos de la Antropologia, do mexicano Gilberto Lopez Urias.
    Dá um pouco de trabalho fazer essas leituras, mas elas são importantíssimas para a compreensão da realidade que vivemos.
    No mais é aguentar no osso do peito, como diz o caboclo, até 22 - tentar acertar o voto. Não vai ser fácil, já que a impressão que passa é que voltamos a 1964. Dá medo.
    Alguém que pensa como eu disse: "Imposible domesticar el capitalismo; hay que darle fin" (Geraldo Villagran del Corral).
    Grande abraço
    HH





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