Em minha juventude fui um leitor
compulsivo. Encantado pela Literatura Brasileira, viajei pela Portuguesa, pela
Inglesa e pela Norte-americana. Nesta, lia livros de romances em Inglês dos
maiores expoentes da Inglaterra e dos Estados Unidos. Lia até dez vezes mais do
que era minha obrigação como acadêmico do curso de Letras/Inglês na FAFI, a
Fundação, Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras, em União da
Vitória – Paraná. Foi ali que ingressei na atividade político-estudantil,
tornando-me vice-presidente do Diretório Acadêmico da mesma, aos 20 anos, em
1973.
Dentre os britânicos, li muitas obras,
em inglês, de William Shakespeare, Oscar Wild, Lewis Carrol, Charles Dickens; nos
norte-americanos, Edgar Allan Poe, Ernest Hemingway. Também as traduções do
francês Júlio Verne. Na literatura Portuguesa, Camões, Camilo Castello Branco, Fernando Pessoa, Eça de Queirós, Florbela
Espanca. Dentre os brasileiros, Machado de Assis, Jorge Amado, José de Alencar,
Monteiro Lobato, Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino e
o catarinense, simbolista, Cruz e Souza. De todos eles, tirei o que me servia,
ampliei minha concepção de mundo. Duas frases ficaram em minha memória: “O
Petróleo é nosso”, do nacionalista Monteiro Lobato, e a de Macunaíma,
personagem de Mário de Andrade: “Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil
são!”
Macunaíma foi “pintado” para
simbolizar aquilo que era entendido como o legítimo brasileiro, malandrão,
preguiçoso, “herói sem caráter”, egoísta, porém um ser muito astucioso. Escrito
em 1928, seis anos depois da Semana de Arte Moderna, em São Paulo, um dos mais
importantes movimentos políticos e artísticos do Modernismo, que aconteceu em
1922. Andrade foi um dos principais nomes do nosso Modernismo, e ajudou a
organizar a Semana de Arte Moderna, juntamente com Oswald de Andrade, Tarsila
do Amaral, Anita Malfatti e Menotti del Picchia.
Mas antes, em 1816,o Botânico francês
August da Saint´Hilaire passou pelo
Brasil e outros países da América do Sul, e deixou-nos uma frase: “Ou o Brasil
acaba com as saúvas, ou as saúvas acabam com o Brasil”. Isso porque constatou a
existência de muitas formigas saúvas destruindo plantações no Brasil. Um século
depois, Macunaíma, a seu modo, repetia a expressão, mesmo com outras palavras.
Passaram-se 100 anos, depois mais 100, e
continuamos com as duas frases muito atuais e evidenciando o que tem acontecido
em nosso País, tanto em termos de política como de saúde. A política foi
ganhando espaços generosíssimos nos meios de comunicação, educação e saúde
passaram a fazer parte dos discursos de toda a classe, mas continuamos muito
defasados em ambas. As saúvas humanas proliferaram mais que os insetos. Nosso
SUS é um dos melhores programas de saúde do mundo, mas as estruturas
instaladas não são suficientes para comportar grandes adversidades, como é o
caso da Pandemia da Covid 19. E os políticos continuam querendo ser as estrelas
na desgraça, os protagonistas das soluções, quando houve um vacilo geral no
início da desgraceira e um descuido enorme da população, que nem sabe mais em
quem acreditar.
O comportamento das autoridades em nível
federal, não apenas no que diz respeito
à pandemia, mas com as relações internacionais, foi ridículo e muito
prejudicial ao Brasil. Ofender parceiros comerciais é o mesmo que brigar com o
vizinho que mora ao lado de nossa casa. Não sabemos de quem iremos precisar um
dia. E a idolatria de Jair Bolsonaro para com Donald Trump o tornava cego.
Bolsonaro precisa aprender que governar, em uma democracia, exige do governante
que tenha posturas de estadista. Ou, no mínimo, que aprenda a ficar de boca
fechada quando se mete a falar sobre assuntos que não domina. Tanto que seu
prestígio está caindo justamente diante do pib bolsonarista. Agora, o foco de
interesse político já não é o do âmbito municipal. Começa-se a campanha,
antecipada como sempre, das eleições de presidente, governadores, senadores,
deputados federais e estaduais. Saber fazer a leitura correta do ambiente
político é o fundamental para quem quer se manter no poder. E, sobretudo, o
eleitor merece respeito, tanto o vitorioso quanto o derrotado.
Os brasileiros esperam que os
governantes considerem que há muita saúva campeando por aí e que falta muita
saúde para todos nós.
Euclides Riquetti – Escritor –
Minha coluna no Jornal Cidadela - Joaçaba SC
29-01-2021
Richetti, esperar atitudes de estadista de um sujeito como bolsonaro é querer demais..., já se passaram mais de dois anos e a toada é sempre a mesma, ofensas, desrespeito, desinteresse pelo principal, por aquilo que é essencial para o Brasil e para os brasileiros.
ResponderExcluirEsse cidadão genocida, que "colocamos" no Planalto, sabe perfeitamente aquilo que está fazendo. Ele é a cereja do bolo, a coroação do golpe de 2016. Dentro desse contexto está a idolatria ao ridículo Trump, a subserviência ao império americano, a completa abdicação à soberania: Destruir/doar nossas principais empresas, provocar a desindustrialização, transformar o país, unicamente, num fornecedor de matérias primas para o centro do capitalismo (EUA, UE,...). (Aqui dá para entender a alegria da Globo quando repete ad nauseam "agro e teck, agro é top). Pobre Brasil!
Dá para citar um grande elenco de ações tomadas desde Temer:
- Destruição do Mercosul, Unasul... e tudo aquilo que possa interessar as relações Sul-Sul, suporte fundamental para nossas soberanias.
- Retirada de direitos trabalhistas
- Destruição da aposentadoria
- Congelamento de gastos públicos (Emenda 195)
- Destruição do Sus
- Entrega do ensino público ao capital privado
- Sucateamento das universidades públicas, paralização dos investimento em pesquisa...
- Sucateamento total do país
Com relação ao eleitor, concordo em parte com você, claro que ele merece todo respeito, porém, por outro lado, grande parte do eleitorado não se respeita, comprou, sem analisar, o peixe podre que a mídia venal vendeu durante anos, de que lula/Dilma e o PT inventaram a corrupção, Usaram, aquilo no qual são reconhecidamente mestres, para desestabilizar o Brasil, ganhar um monte de dinheiro e entregá-lo recolonizado ao império.
O povo que se f..., eu quero o meu...
Daí se pergunta: o Brasil precisa fazer boas relações internas e principalmente externas? Para mim, para você e para um monte de gente sim, mas para a gangue instalada em Brasília não, por tudo o que está dito acima.
O pior de tudo é que eles têm o total apoio das Forças Armadas, do Congresso, do Judiciário e da mídia hegemônica, tudo sob o comando de Washington,
Está na internet, e para entender um pouco daquilo que se passa no mundo, inclusive no Brasil, recomendo a leitura do livro ESTUDIANDO LA CONTRAINSURGENCIA DE ESTADOS UNIDOS: Manuales, Mentalidades y usos de la Antropologia, do mexicano Gilberto Lopez Urias.
Dá um pouco de trabalho fazer essas leituras, mas elas são importantíssimas para a compreensão da realidade que vivemos.
No mais é aguentar no osso do peito, como diz o caboclo, até 22 - tentar acertar o voto. Não vai ser fácil, já que a impressão que passa é que voltamos a 1964. Dá medo.
Alguém que pensa como eu disse: "Imposible domesticar el capitalismo; hay que darle fin" (Geraldo Villagran del Corral).
Grande abraço
HH