Lama proveniente da barragem rompida em Brumadinho - MG
O tempo passa e muitas situações que não desejamos que nos voltem acabam voltando-nos. Em 23 de fevereiro de 2011 , ou seja, há oito anos, tive publicado, na coluna do Ademir Belotto, do Jornal A Semana, de Capinzal/Ouro, um texto em que propunha uma reflexão sobre comportamento ambiental. É um comportamento que relaciona o Homem e a Natureza. Depois disso, várias tragédias já aconteceram. E elas nos mostram que práticas da vida diária das pessoas, em todos os lugares, ocasionam desastres que poderiam ser evitados ou amenizados. Lembro que em 1983, no mês de julho, as enchentes dos Rios do Peixe, Iguaçu e Itajaí assombraram os três vales, causando vítimas e ocasionando prejuízos. E muitos traumas. A ocupação das cidades em suas margens, com muitas edificações e pavimentações das vias, vem impermeabilizando o solo das mesmas e isso é muito preocupante. Na época, escrevi:
"Vivemos em cidades charmosas, colonizadas por descendentes de italianos ou germânicos, com declives e aclives acentuados, numa topografia altamente irregular. É assim nosso Vale do Rio do Peixe. Matas exuberantes cobrem os morros e formam os cílios dos riachos e de nosso majestoso rio, outrora piscoso, cujas águas já foram muito cristalinas, depois tornaram-se turvas (e turbulentas).
Ouro e Capinzal não fogem à regra. São belas e prósperas. Por aqui já aconteceu "de tudo", coisas boas e muitas barbaridades. São cidades onde acontecimentos tristes têm ocupado as notícias no âmbito microrregional ou até estadual. Tivemos perdas humanas que jamais serão compensadas, até porque a vida é irrecuperável. Coisas insignificantes, recorrentemente, ocupam os noticiários.
Mas os temas verdadeiramente sérios e importantes não têm sido debatidos. Meio ambiente e mobilidade urbana têm ficado em plano secundário. Deveriam ser discutidos à exaustão. Nas conferências das cidades estiveram na pauta, mas a participação popular não foi expressiva.
Os eventos adversos da segunda semana deste ano, em cidades da serra e do litoral carioca, nos remetem a uma reflexão profunda: De quem é a responsabilidade pelas catástrofes?
As catástrofes naturais podem acontecer a qualquer tempo e em qualquer lugar. No entanto, algumas delas podem e devem ser previstas e evitadas, ou minimizadas, e isso é responsabilidade dos governos e da sociedade. Note-se que as catástrofes que ocasionam a perda de vidas humanas são decorrentes de danos que o próprio homem já causou à Natureza. E elas podem, então, ser evitadas. Acima das leis, deve haver o bom senso e o conhecimento histórico do que já aconteceu em cada cidade”.
Há cerca de onze anos, realizamos em Ouro um Seminário Regional do Meio Ambiente. Na oportunidade, um dos palestrantes referiu-se ao Furacão Katrina (ou Catarina), que ocorreu no litoral sul de Santa Catarina, e que causara muitos prejuízos materiais. E sobre as Tsunâmis, na Indonésia. Estudantes presentes indagaram se isso poderia se repetir, quando e onde, e se ia morrer muita gente. O palestrante disse que sim, e que "morreria muita gente, sim". No intervalo, foi censurado pelo dito. Houve divisão de opinião sobre o que ele disse. Intelectuais a favor e intelectuais contra.
Passados poucos meses, a história nos mostrou algumas verdades: A Tragédia de Ilhota, Gaspar e Blumenau; a Tragédia de Angra dos reis. E, agora, a maior delas: a das cidades do Rio de Janeiro.
Numa palestra que proferi para acadêmicos da UNOESC, em Capinzal, apresentei imagens sobre algumas áreas de risco de Ouro Capinzal, algumas incoerências que causam danos ambientais, e relatei um pouco das histórias das anormalidades climáticas dos últimos 35 anos por aqui: As enchentes de 1983, os vendavais que ocasionaram a queda da ponte pênsil, os vendavais que destruíram parte das instalações de uma agroindústria em Capinzal, bem como dezenas de residências no Bairro São Cristóvão. As estiagens que ocasionaram prejuízos nas lavouras, as enxurradas que destruíram (e continuam destruindo) pontes e estradas, o granizo que destruiu casas em Linha Sagrado, e outras calamidades.
"Vivemos em cidades charmosas, colonizadas por descendentes de italianos ou germânicos, com declives e aclives acentuados, numa topografia altamente irregular. É assim nosso Vale do Rio do Peixe. Matas exuberantes cobrem os morros e formam os cílios dos riachos e de nosso majestoso rio, outrora piscoso, cujas águas já foram muito cristalinas, depois tornaram-se turvas (e turbulentas).
Ouro e Capinzal não fogem à regra. São belas e prósperas. Por aqui já aconteceu "de tudo", coisas boas e muitas barbaridades. São cidades onde acontecimentos tristes têm ocupado as notícias no âmbito microrregional ou até estadual. Tivemos perdas humanas que jamais serão compensadas, até porque a vida é irrecuperável. Coisas insignificantes, recorrentemente, ocupam os noticiários.
Mas os temas verdadeiramente sérios e importantes não têm sido debatidos. Meio ambiente e mobilidade urbana têm ficado em plano secundário. Deveriam ser discutidos à exaustão. Nas conferências das cidades estiveram na pauta, mas a participação popular não foi expressiva.
Os eventos adversos da segunda semana deste ano, em cidades da serra e do litoral carioca, nos remetem a uma reflexão profunda: De quem é a responsabilidade pelas catástrofes?
As catástrofes naturais podem acontecer a qualquer tempo e em qualquer lugar. No entanto, algumas delas podem e devem ser previstas e evitadas, ou minimizadas, e isso é responsabilidade dos governos e da sociedade. Note-se que as catástrofes que ocasionam a perda de vidas humanas são decorrentes de danos que o próprio homem já causou à Natureza. E elas podem, então, ser evitadas. Acima das leis, deve haver o bom senso e o conhecimento histórico do que já aconteceu em cada cidade”.
Há cerca de onze anos, realizamos em Ouro um Seminário Regional do Meio Ambiente. Na oportunidade, um dos palestrantes referiu-se ao Furacão Katrina (ou Catarina), que ocorreu no litoral sul de Santa Catarina, e que causara muitos prejuízos materiais. E sobre as Tsunâmis, na Indonésia. Estudantes presentes indagaram se isso poderia se repetir, quando e onde, e se ia morrer muita gente. O palestrante disse que sim, e que "morreria muita gente, sim". No intervalo, foi censurado pelo dito. Houve divisão de opinião sobre o que ele disse. Intelectuais a favor e intelectuais contra.
Passados poucos meses, a história nos mostrou algumas verdades: A Tragédia de Ilhota, Gaspar e Blumenau; a Tragédia de Angra dos reis. E, agora, a maior delas: a das cidades do Rio de Janeiro.
Numa palestra que proferi para acadêmicos da UNOESC, em Capinzal, apresentei imagens sobre algumas áreas de risco de Ouro Capinzal, algumas incoerências que causam danos ambientais, e relatei um pouco das histórias das anormalidades climáticas dos últimos 35 anos por aqui: As enchentes de 1983, os vendavais que ocasionaram a queda da ponte pênsil, os vendavais que destruíram parte das instalações de uma agroindústria em Capinzal, bem como dezenas de residências no Bairro São Cristóvão. As estiagens que ocasionaram prejuízos nas lavouras, as enxurradas que destruíram (e continuam destruindo) pontes e estradas, o granizo que destruiu casas em Linha Sagrado, e outras calamidades.
Há três anos, vimos a tragédia ocorrida em Mariana, Minas Gerais, onde houve o rompimento de uma barragem, com 19 mortos e significativos danos ambientais no Rio São Francisco. Na época, muito proselitismo, indignação, multas pesadas e a promessa de que tudo ia ser reparado e indenizado pela Samarco, empresa responsável pela barragem que se destruiu. E poucas providências foram tomadas com relação às outras em Minas Gerais, onde são depositados milhões de metros cúbicos de rejeito de minérios das extrações das muitas minas ali existentes. É multa pra isso e aquilo e, na prática, nem sequer as famílias prejudicadas receberam, adequadamente suas indenizações. Agora, o filme se repete, com muito mais gravidade, em Brumadinho. Serão uma três centenas de mortos, considerando o corpos que possivelmente não serão localizados.
Um mês depois da tragédia de Mariana, estive por lá. Fora da área atingida, tudo parecia normal, apenas havia a queixa de que as notícias ruins estavam atrapalhando sua economia do turismo.
Imagino que a repetição desse tipo de avento adverso mudará o comportamento de autoridades e empresas com relação a isso, porém as vidas perdidas não voltarão. Indenizações vultosas ajudarão a compensar a dor das perdas nas famílias, mas nunca totalmente. Seria bem mais barato um programa de remoção das famílias dos locais à jusante das barragens. Em fatos do gênero, apenas haveria a compensação ambiental. A paisagem de Minas é horrível, com tanta buraqueira nas áreas de mineração. E aqui, temos sorte de que não se repetiu um volume de chuvas igual ai de 1983. Imaginem quanto desabamento de barrancos das encostas, quanto risco de morte às pessoas que aqui vivem!
Tudo isso é muito preocupante: temos áreas de risco, altamente vulneráveis, e há de se retomar um debate necessário, em que surjam proposições e ações para minorar impactos ruins que poderão efetivar-se sobre nós. É preciso dizer... E é preciso assustar-se, sim!!!
Tudo isso é muito preocupante: temos áreas de risco, altamente vulneráveis, e há de se retomar um debate necessário, em que surjam proposições e ações para minorar impactos ruins que poderão efetivar-se sobre nós. É preciso dizer... E é preciso assustar-se, sim!!!
Euclides Riquetti – Escritor – Membro da ALB/SC www.blogdoriquetti.blogspot.com
Escrevi há 5 anos!
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