sábado, 11 de abril de 2015

Primeiras Lembranças do Mater Dolorum

          O Mater Dolorum chegou há 6 décadas e pouco...  Chegou antes de mim. E, quando me dei por gente, estava ali, no alto do mesmo morro, impondo-se, sutilmente, sobre Capinzal. Um casarão de madeira com dois pavimentos, um sótão e um "porão". Um edifício muito estiloso, de elevado padrão de arquitetura para a época.

          Em 1961,  adentrei pela primeira vez pelas portas do Mater. Conhecia muitas histórias sobre ele. Meu irmão mais velho e meus primos me contavam sobre isso. Era um educandário particular, de posse e administração das Irmãs Servas de Maria Reparadoras. Justamente naquele ano, iniciara convênio com o Governo Federal, e eu pude entrar ali como aluno, com 8 anos feitos já. Viera de "Linha Leãozinho", que na época ainda pertencia a Capinzal. E, tão logo aprendi a ler, identifiquei uma placa enorme, em que se podia ver: "Plano de Metas do Governo''. Era o plano do Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, que tinha como slogan "50 anos em cinco", ou seja, estava dando uma sacudida no País para que deixasse de "dormir em berço esplêndido". Atacava na indústria e na educação. Começavam a fabricar carros e nós a frequentar boas escolas, gratuitamente.

          Minha primeira professora foi Judite Marcon, uma interna do Convento das Irmãs, que havia em anexo. Ela foi embora para continuar seus estudos e veio, em seu lugar, Noemia Zuanazzi. Adiante, passei pelas mãos generosas de Marisa Calza,  Marlene Matos, Tarsila Boff, Marli Sartori,  Marilene Lando e outras. Pelo menos estas foram as mais presentes, pois as outras atuavam temporariamente. Havia a Almeri Pasin, que lecionava para outra turma, onde estudava um primo.

          Algumas lembranças tenho bem claras na memória: Ao lado do casarão de madeiras, edificava-se o prédio do  Mater Dolorum  em seu corpo principal. Lembro-me bem que um dos mestres da obra era o Sr. Valdomiro Viganó.  Adiante, o casarão deu lugar ao auditório, que na nossa memória ficou registrado como "palco". Daquele velho casarão, os medos que vinham com os rumores: No sótão, numa sala bem aos fundos, haveria o fantasma de algumas freiras já falecidas. As histórias que nos contavam eram horripilantes. E nós nos pelávamos de medo das assombrações. Acho que queriam assustar-nos para que não fôssemos meter o nariz onde não devíamos. E nós éramos tão xeretas quanto são os adolescentes de hoje, talvez piores que eles.

          Uma grande expectativa na cidade foi com a chegada do Caminhão "Caçamba" das Irmãs para ser utilizado na remoção de terras das escavações, que foram muitas e geraram grande volume de material a ser retirado para a construção do prédio novo e os pátios, inclusive o a quadra, que exigiu muito trabalho. Trator e carregadeira de esteiras da Prefeitura, que davam apoio. E o caminhão com carroceria basculante, amarelo, Ford F 600 novinho e brilhoso, enfim chegou. Eu nem era aluno ainda quando isso aconteceu. Dizia meu irmão Ironi, que ali estudava, que seria dirigido pela Irmã Terezinha. Mas, na verdade, o motorista acabou sendo o Sr. Loid Viecelli. Este, além de motorista do caminhão, muitas vezes animava as festas juninas com sua gaita para que dançassem a quadrilha.

         Irmã Fermina, Irmã Marinella, Madre Prisciliana são algumas das freiras que muito marcaram a minha vida e a história dali. A primeira, moreninha , franzina, delicada. Marinella, alta, jeito de italiana, dócil. Prisciliana era chamada somente de "Madre", uma mulher magra, de média estatura. e a Irmã Terezinha tinha fama de "braba".  Era bonitona, pele do rosto bonita, usava óculos clássicos. Bem, nunca ninguém viu nenhuma que não estivesse envolta em seu hábito preto e branco, que deixava mostrar apenas o rosto e as mãos. Sapatos pretos com meias. Ninguém nunca lhes viu os pés. Ficávamos imaginando como podiam passar calor nos dias de verão. Mas, não muito tempo depois, mudaram as convenções da Igreja católica e padres e freiras passaram a vestir-se como os cidadãos comuns. Aliás,  a população ficou dividida em relação a isso, pois uns achavam que estavam certos e outros de que deveriam manter-se com as vestimentas características, para facilmente serem identificados e não serem confundidos.

          Muitas histórias boas de meus quatro anos de estudos no Mater Dolorum ainda estão em minha cabeça. E também de minha atuação como professor de Inglês nos seus últimos anos de funcionamento enquanto escola particular, da Congregação Servas de Maria Reparadoras. O educandário legou-me uma educação de alto nível. Aprendi muito do primeiro ao quarto ano, entre 1961 e 1964.  E, sobretudo, aprendi muito em termos de educação e formação pessoal. Mais do que aprender a ler, escrever e calcular, aprendi a ser gente ali! E isso me orgulha muito!

Parabéns, Mater Dolorum, palco de grandes acontecimentos, memórias, eventos, lembranças!

Euclides Riquetti
31-08-2014

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