Lembro que um dos jovens senhores que vinham até lá era o Vitalino Bazzo, com chapéu de feltro cinza, terno da mesma cor, de um xadrez discreto. (Foi na década de 1970 que os paletós "xadrezão" entraram na moda. Combinavam com aquelas calças boca-de-sino e os cabelos longos das pessoas). E havia o Américo Módena, o Fernande Maziero, o Dirceu Viganó, o Nézio e o Vilson Rech, o Alcides Antonietto, o Nelson Falk, o Itacir Dambrós, o Valdir Baretta, que se misturavam com outros mais jovens e com meus tios. Tinham chapéu de feltro, que eram os chiques. Alguns, de palha. Comprei um aos 9 anos, quando já estava morando na cidade e trabalhava. Lavava louça e lustrava a casa para uma prima. Com meu primeiro salário, comprei um belo chapéu.... Ah, e trabalhar não tirou nenhum pedaço de mim, não me queixo disso, mas me orgulho, pois aprendi a valorizar todas as minhas coisas.
Na época, havia um cidadão que vinha da Estação Avaí, que ficava do outro lado do Rio do Peixe ,o Sérgio Martins, e ia ver a namorada, filha de um dos muitos Barettas que ali moravam, do Serafim. E tinha algo que dava inveja a todos os outros: um par de galochas de borracha, pretas. Era um material bem elástico e flexível, um "sapato maior que envolvia um sapato menor", que não deixava que o de couro embarrasse, nem que nele entrasse umidade. E ainda tinha um guarda-chuva com as varetas de madeira, bem grande. Vinha a pé, passava pela balsa ou bote, vinha de uma distância de dois quilômetros e meio para ver a namorada. Quando passava defronte à bodega, todos o invejavam. Naquele tempo não conhecíamos ainda as capas chuva, de nylon, que apareceram por lá apenas uns cinco anos depois. Imagine o sucesso dele se tivesse também uma capa de chuva. Ter uma, foi um de meus sonhos de adolescência, que não pude realizar, pois só "quem podia" conseguia ter uma. (Só consegui comprar um chapéu...)
Era o tempo em que não havia tratores para trabalhar. Colhíamos trigo com foicinhas, usávamos as enxadas para carpir, as máquinas pica-paus para plantar milho. E trilhadeira alugada para colher o trigo. Havia máquinas acionadas a mão para debulhar ou moer milho. Depois vieram equipamentos a gasolina e os elétricos. Foi uma "revolução na roça".
E, relembrando dessas coisas, das galochas que caíram em desuso, lembrei-me do cinzeiro que meu pai ganhou de uma aluna, lá do Belisário Pena, do 4º ano, a Cássia. Isqueiro era um presente bonito para um aniversário, dias dos pais, formaturas. (Agora, eu não daria cinzeiros ou isqueiros para ninguém). E davam também abotoaduras, algumas combinadas com um filete metálico que prendia a gravata, tudo ornando e combinando. E, antes ainda, as mulheres usavam luvas e chapéus, que as tornavam mais elegantes. Bonitas não, pois bonitas elas já eram, apenas que os ornamentos as deixavam mais atraentes, chamativas, engraçadas.
Hoje os sonhos de consumo são outros, criaram outrs necessidades para nós, encontraram outras formas de nos atrair, contagiar. As máquinas de escrever foram substituídas por computadores com impressoras. Muitos deixaram de fumar e dar um isqueiro ou um cinzeiro de presente é coisa muito brega e deselegante. Luvas, agora, para o trabalho, para pilotar motos, ou proteger contra o frio. As máquinas fotográficas convencionais foram substituídas por digitais. Os filmes de pelícola 35 mm estão dando lugar a sistemas digitalizados. As vitrolas , os gravadores de rolo ou fita, os toca-discos, deram lugar a mídias moderníssimas, chegando-se aos blue rays.
Muitos acessórios clássicos, tão presentes nas novelas e filmes de época e revistas podem voltar à nossa mente nesses dias em que paramos para refletir a chegada de mais um final de ano. Pensar nos chapéus de feltro, nas abotoaduras, nas luvas das senhoras, nos isqueiros, nos cinzeiros, nas galochas, nas agulhas dos toca-discos e nos discos de vinil. Quanta coisa mudou e quanto ainda tudo vai mudar. Até as bodegas das colônias desapareceram, junto com a energia da juventude de muitos amigos que se foram ou que estão aí, resistindo ao tempo. Olhamos para trás e vemos um filme que nos traz simples, mas saudosas lembranças. E nos resta pedir saúde a Deus, e que nossas ideias não caiam de uso, não se tornem obsoletas também!
Euclides Riquetti
Bons tempos aqueles em que, por falta de igreja onde morávamos (Avaí), minha família frequentava a igreja São José na Linha Bonita. Tínhamos uma tia, irmã de meu pai, casada com um filho do sr Teodoro Baretta, que morava ali. Ela sempre nos deu muito apoio e por essa época, eu e minha irmã, ficamos em sua casa, enquanto fazíamos a preparação para a primeira comunhão.
ResponderExcluirQuem nos nos orientou foi o sr. Joaquim Casara, já velhinho, de barba branca.
O rapaz da galocha eu o conheci bem, era nosso vizinho, filho de Estefano e Catarina Martinas e chamava-se Sergio. Namorava, por esta época (1961), una moça chamada Lindamir, que morava, justamente, na Linha Bonita.
Fui várias vezes ver jogos nesse campo que voçê fala e a turma citada não me é estranha (Modena, Maziero, Baretta...).
Eu sempre digo, temos muito em comum, desde o Leãonzinho do tio Joanin e da tia Rachelle, do Estefenito ... até a Linha Bonita, Capinzal (Belizário Pena, Padre Anchieta...).
Que Deus o abençoe.
Desejo a voçê e família um ótimo 2020, com saúde, paz, um pouco de dinheiro e muita inspiração para escrever.
Um grande abraço
H H
Até hoje procuro por um par de galochas, sem sucesso!!! José Augusto Queiroz jotaguto2019@gmail.com
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