domingo, 10 de janeiro de 2021

Dorival Grígolo (Perozin), um benfeitor comunitário

 



       Em Capinzal e Ouro, dos anos de 1970 até recentemente, viveu uma personagem muito simpática e prestativa, que conhecíamos como o "Perozin". Herdou o apelido do nome da empresa em que trabalhava, uma loja que havia em Capinzal e vendiam máquinas e implementos agrícolas e os proprietários eram o Perozin, uma família de empresários da vizinha cidade de Concórdia. O nome dele era Dorival Antônio Grígolo, um cidadão de média altura, tez clara, cabelos castanhos  e detentor de um bigode distinto, à la Freddy Mercury, do Queen. 

       Inicialmente, eu o conhecia do início da década de 1980, pois ele fundara uma empresa própria, com sua loja em frente ao Banco BESC, na Rua XV de Novembro, em Capinzal, em sala de prédio de sua propriedade, que ele construíra. Adiante, ali funcionou a Livraria Central do amigo Odilon  Pizzamiglio e de sua esposa Lílian Clarice Hachmann Pizzamiglio. 

       Com sua pick up Willys, ele vinha até próximo a minha casa, ali no Ouro, na então Rodovia SC 303, hoje alcunhada de Avenida Felip Schmidt, um prolongamento dela. Encostava o veículo em frente à oficina de conserto de motores do Zenor Faccin, pai dos meus alunos Jaison e Marcieli, que eram pequenos, ainda. Trazia motores estacionários acionados a óleo diesel ou gasolina. Faccin também sabia converter os motores para funcionarem com gás GLP. Também construía jericos, uns veículos montados sobre plataformas de pick ups e rurais da Willys Overland, baixados do Detran e utilizados nas propriedades rurais.  O Perozin trazia muito serviço para o Xennor, que era o mais experiente e habilitado mecânico na área. 

       Em nossas conversas, ali, fomos formando uma amizade de respeito mútuo, tínhamos diferenças políticas, ele tinha admiração por um partido que era adversário do meu. Contava suas histórias e eu as minhas. O Zenor apenas ouvia e dava umas risadinhas comportadas...

       Os ano foram passando e, ao final de 1987 eu,  que era vice-Presidente do Conselho Administrativo da Paróquia São Paulo Apóstolo, de Capinzal, a qual abrangia, então, 47 capelas da Igreja Católica Apostólica Romana, localizadas em Capinzal, Ouro, Zortéa e parte de Campos Novos, integrava as equipes de promoção da festa de nosso Padroeiro, acontecidas sempre no domingo mais próximo ao dia 25 de janeiro, dia que lhe é consagrado fui eleito Presidente do Conselho Administrativo, formando uma equipe com diversos casais de nossa comunidade católica, encabeçados por Valêncio José de Souza, Sérgio Scarton, Ademir Romani, Osvaldo Federle, Elói Correa, Pedro Beviláqua, Reinaldo Durigon, Sérgio Riquetti, Nelson Luvison e outros, formais ou informais. Eu tinha como vice Nadilce Dambrós, que fora meu colega dos tempos de Ginásio padre Anchieta, em em 1965 e 1967. 

       Dorival Grígolo, os Lagni (ou Lanhi), Alduino Silva Amora, Alduir Silva (Binde), Tito  Carelli, Adelmo Queratti, Olivaldo Helt, Elói Lanhi, Sílvio Scalsavara, Edvino Dacás, Rogério Toaldo, Breno Toaldo, Eurides Gomes da Silva, Celso Farina, Oneide Andrioni, Severino Andrioni, Jandir Coronetti, Zeferino Tonini, Arno Kalsing,  Vilson Farias, Irenito José Miqueloto, Neri Luiz Miqueloto, com suas esposas, e outros. Além de suas senhoras, Ivone Benetti e Ladir Dorini, que junto com a Nair Andrioni tocavam a cozinha da festa. A paróquia tinha Frei Luiz Wolf como pároco e ainda Frei Nélvio Davi Cole,Victorino Antônio Prando e Frei Orlando Moreira. Prando era diretor do Seminário Nossa Senhora dos Navegantes. 

       No mês de janeiro, vários desses colaboradores nos auxiliavam no serviço de arrecadar prendas. Saíamos pelas comunidades do interior, utilizávamos as caminhonetes de alguns deles e uma da própria paróquia. O Grígolo, com sua pick up, muito nos ajudava, não cobrando sequer o combustível. Era muito conhecido no meio rural e quem o acompanhava era muito bem recebido. As festas que promovíamos tinham grande público presente e vendíamos mais de 2.000 Kg de carne, entre churrasco de gado bovino, suínos e galinhas recheadas. Todas as equipes se dedicavam muito. Um grupo de senhoras matava e limpava as galinhas na casa de Dona Ézide Miqueloto. 

       Numa feita, o Frei Davi tombou o Gol CL 1.6 quando de uma ida a Joaçaba, numa curva na Serra da SC 303, entre a comunidade de Santa Bárbara e São Cristóvão, no município de Lacerdópolis. Um carro daquele modelo valia dez mil dólares, mas um modelos similar, hoje, está em torno de R$ 60 mil reais. Pois o custo para recuperação estava orçado em metade desse valor e o carro não tinha seguro algum. Fizemos uma reunião de emergência e o Dorival Grígolo se propôs a doar uma trilhadeira de cereais nova, do estoque de sua empresa, para que fizéssemos uma rifa e obtivéssemos o dinheiro para cobrir as despesas. Ele justificou que sua esposa, que era uma senhora religiosa e que estivera doente havia superado seus problemas e, então, em agradecimento, doaria um bem para ajudar nossa Igreja. O projeto foi exitoso, foram expedidos 100 bilhetes, que foram vendidos e com isso tudo ficou resolvido. 

       Outro fato acontecido com ele, dizem respeito a minha pessoa e ele e refere-se à politica partidária.  Encontram-nos, no curso de meu mandato de Prefeito em Ouro, possivelmente em 1991, numa festa de casamento realizada em Leãozinho, comunidade em que eu nasci, em que casava-se um filho do Arcênio Andrioni.  A pauta política entrou na conversa em uma roda de amigos, lá, e se falava sobre a pavimentação da Rodovia Ouro-Jaborá, que havia sido implantada dez anos antes e ainda não fora asfaltada. Pois fizemos uma aposta, que foi proposta por ele e eu aceitei. Governava Santa Catarina o engenheiro Vilson Pedro Kleinubing. Ele dizia que a obra não seria construída por aquele governador e que, nas eleições de 1994 o partido dele, PMDB, elegeria Paulo Afonso como governador e este asfaltaria a Rodovia. Eu lhe disse que não acreditava que isso fosse acontecer nos próximos 10 anos e que eu teria muito prazer em pagar a aposta se eu perdesse, pois assim seríamos contemplados com aquela antiga reivindicação, que já havia sido defendida pelos ex-Prefeitos Ivo Luiz Bazzo e Domingos Antônio Boff, além dos vereadores Ivo Brol, Severino Luiz Bernardt e Gabriel Penso. 

       A aposta consistia em que, se até o ano 2.000, ou em dez anos, a estrada fosse pavimentada, eu pagaria um churrasco para ele e a esposa, com convidados dele. Se não fosse executada, após os dez anos, ele pagaria um churrasco para mim e minha família, o qual seria preparado em Leãozozinho, minha comunidade natal. Pois passaram-se os dez anos e nada da obra. Falei a ele que daria mais 10 anos de prazo e que eu continuaria lutando para que nosso sonho se concretizasse, prorrogando o prazo para 20 anos. Passamos também pelos Governos de Paulo Afonso Vieira, Esperidião Amin Helou Filho, dois mandatos de Luiz Henrique da Silveira, Leonel Pavan, Eduardo Pinho Moreira, e nada! Somente no primeiro mandato de Raimundo Colombo é que a obra foi licitada e autorizada. Isso começou em 2012, eu mesmo fiz a locução e protocolo das audiências públicas que precederam à autorização de execução. No entanto, empresas vencedoras dos processos licitatórios foram sendo dispensadas por não cumprirem o objeto contatado ou mesmo por falência. 

       Em 2019 a obra estava andando, mas a passos lentos. O novo Governador, Carlos Moisés, fez sua equipe de assessores olhar com muita seriedade e dar a devida atenção ao andamento da execução da obra. Assim, no dia 23 de outubro de 2020, no Centro de Eventos de Nossa Senhora do Caravággio, em Ouro, a mesma foi  inaugurada inaugurada pelo Governador Carlos Moisés da Silva, com a presença de prefeitos da região, vereadores, imprensa e poucos convidados, em razão da pandemia do novo coronavírus. A Rodovia SC 467, ligando Jaborá a Ouro e Capinzal, recebeu no nome de Rodovia Prefeito Luiz Bazzo, que foi o politico histórico, duas vezes prefeito em Ouro, e que me introduziu na política partidária, nas fileiras do antigo PDS.

       No dia 17 de novembro, 25 dias depois, Dorival Antônio Grígolo faleceu no Hospital São Francisco, de Concórdia, aos 70 anos de idade, sendo sepultado na comunidade de Barra Fria, interior do município de Concórdia. Fiquei sabendo do acontecido pelo site da Rádio Capinzal-Jornal AS Semana, de Capinzal. Eu sempre imaginara que um dia nos encontraríamos para relembrar o assunto el quem sabe, comemorar a inauguração. Ao Grígolo, também conhecido por "Perozin", que tenha o descanso eterno bem merecido, com as honras de quem só fez o bem aqui na terra.


Euclides Riquetti

10-01-2021

   

   


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