Tenho toda a sorte de possíveis lembranças dos dias de Sexta-feira Santa, ou Sexta-feira da Paixão. Vivi entre famílias muito religiosas: a de meu padrinho, João Franck, em Leãozinho, na época pertencente ao município de Capinzal, hoje Ouro; na de meu avô, o nono Victório Baretta, na Linha Bonita; e na de meus pais, Guerino e Dorvalina, primeiro em Linha Bonita e depois em Capinzal, e no então distrito de Ouro. Imagino que você também, leitor, leitora, neste dia muito especial, esteja revolvendo seu passado e com sua mente navegando até pontos que estão registrados em sua saudosa memória.
No Leãozinho, costumávamos ir à capela de Santa Catarina, onde as imagens dos santos encontravam-se cobertas por panos roxos e brilhosos. Ali, cidadãos como Victório Gusso, Danilo Pissoli, Primo Biarzi, os Tonini, Reina, Seganfredo, Andrioni, Santini, e outros, oganizavam a adoração ao senhor morto a via sacra e as rezas. Na Linha Bonita, na Capela de São José, Joaquim Casara era nosso capitão dos ofícios, auxiliado pelos Bressan, Baretta, Maziero, Dambrós, Viganó, Bazzo e outros.
Mas é de quando passei a me entender como "gente', a partir dos oito anos, e voltei a morar com meus pais, ali em Ouro, que tenho as lembranças mais vivas. Passei a frequentar a catequese na Igreja Matriz, onde fiz meus primeiros amigos. Além das catequistas, venerandas criaturas, havia o temível Frei Lourenço, que nos metia muito medo. Frei Gilberto (Giovanni Tolu), era muito bem quisto por todos e Frei Tido o mais paizão e amigão de todos. Mas, quem mandava, era o terrível Frei Lourenço. Com este, tive uma grande decepção, uma vez que, na catequese, nos ensinaram que, quando encontrássemos um sacerdote na rua, devíamos dizer: "Viva Cristo!", ao que ele responderia "Rei". Pois que um dia encontrei-o ali na atual Rua Ernesto Hachman, em Capinzal, ele e sua batina marrom que combinava com a cor de sua barba castanha, falei o "Viva Cristo!", e ele nem me deu bola. Fiquei me punindo: "Será que fiz algo errado?!".
Não, era apenas minha ingenuidade, minha infantil capacidade de perceber que as pessoas são diferentes uma das outras. Assim como os médicos são diferentes, os médicos, os engenheiros, os policiais, os estivadores, os professores e as professoras, os políticos, os motoristas, as enfermeiras, as freiras, as putanas, as pessoas, enfim, são muito diferentes umas das outras, os sacerdotes também o são. Não há como classificar igualmente, todos os seres, masculinos ou femininos. E esse Frei Lourenço era osso duro de roer. Mas sobrevivemos...
Hoje, volvi-me a refletir e a lembrar... lembrei-me, com certa tristeza, do último feriadão de Páscoa, o de 1972, que se iniciou na quinta-feira, dia 30, e findou no domingo, dia 02. Na quinta, saí às 6 horas da manhã de Porto União, em trem, e cheguei em Capinzal ao anoitecer. Fiquei ali três dias e, na segunda pela manhã, tomei o trem de volta para ir para ir à Faculdade, em União da Vitória. São 44 anos já passados. Foi-se a juventude, foram-se os cabelos longos, veio o conhecimento, a família, a maturidade. Aquele feriadão foi um profundo divisor de águas em minha vida. Tive que tomar decisões importantes, nem sei se as melhores ou as mais certas, mas tive que tomar. Precisava trabalhar, não teria mais como dar-me ao luxo de ir passear na casa dos meus pais quando em bem quisesse, dar um rumo definitivo na vida...
Então, nesta sexta-feira maior, muita reflexão... para mim, para vocês, para todos. E muitas orações também!
Euclides Riquetti
No Leãozinho, costumávamos ir à capela de Santa Catarina, onde as imagens dos santos encontravam-se cobertas por panos roxos e brilhosos. Ali, cidadãos como Victório Gusso, Danilo Pissoli, Primo Biarzi, os Tonini, Reina, Seganfredo, Andrioni, Santini, e outros, oganizavam a adoração ao senhor morto a via sacra e as rezas. Na Linha Bonita, na Capela de São José, Joaquim Casara era nosso capitão dos ofícios, auxiliado pelos Bressan, Baretta, Maziero, Dambrós, Viganó, Bazzo e outros.
Mas é de quando passei a me entender como "gente', a partir dos oito anos, e voltei a morar com meus pais, ali em Ouro, que tenho as lembranças mais vivas. Passei a frequentar a catequese na Igreja Matriz, onde fiz meus primeiros amigos. Além das catequistas, venerandas criaturas, havia o temível Frei Lourenço, que nos metia muito medo. Frei Gilberto (Giovanni Tolu), era muito bem quisto por todos e Frei Tido o mais paizão e amigão de todos. Mas, quem mandava, era o terrível Frei Lourenço. Com este, tive uma grande decepção, uma vez que, na catequese, nos ensinaram que, quando encontrássemos um sacerdote na rua, devíamos dizer: "Viva Cristo!", ao que ele responderia "Rei". Pois que um dia encontrei-o ali na atual Rua Ernesto Hachman, em Capinzal, ele e sua batina marrom que combinava com a cor de sua barba castanha, falei o "Viva Cristo!", e ele nem me deu bola. Fiquei me punindo: "Será que fiz algo errado?!".
Não, era apenas minha ingenuidade, minha infantil capacidade de perceber que as pessoas são diferentes uma das outras. Assim como os médicos são diferentes, os médicos, os engenheiros, os policiais, os estivadores, os professores e as professoras, os políticos, os motoristas, as enfermeiras, as freiras, as putanas, as pessoas, enfim, são muito diferentes umas das outras, os sacerdotes também o são. Não há como classificar igualmente, todos os seres, masculinos ou femininos. E esse Frei Lourenço era osso duro de roer. Mas sobrevivemos...
Hoje, volvi-me a refletir e a lembrar... lembrei-me, com certa tristeza, do último feriadão de Páscoa, o de 1972, que se iniciou na quinta-feira, dia 30, e findou no domingo, dia 02. Na quinta, saí às 6 horas da manhã de Porto União, em trem, e cheguei em Capinzal ao anoitecer. Fiquei ali três dias e, na segunda pela manhã, tomei o trem de volta para ir para ir à Faculdade, em União da Vitória. São 44 anos já passados. Foi-se a juventude, foram-se os cabelos longos, veio o conhecimento, a família, a maturidade. Aquele feriadão foi um profundo divisor de águas em minha vida. Tive que tomar decisões importantes, nem sei se as melhores ou as mais certas, mas tive que tomar. Precisava trabalhar, não teria mais como dar-me ao luxo de ir passear na casa dos meus pais quando em bem quisesse, dar um rumo definitivo na vida...
Então, nesta sexta-feira maior, muita reflexão... para mim, para vocês, para todos. E muitas orações também!
Euclides Riquetti
A propósito, vale a pena conferir no jornal O TEMPO, a crônica do professor Evandro Ricardo Ghindani da Unipampa (12/4/2022).
ResponderExcluirSeus comentários sobre a PÁSCOA são muito pertinentes - e nos convidam a pensar...
Eu, também, como você, fui criado num ambiente muito religioso e confesso: desde guri, já me questionava sobre tudo aquilo que, por obrigação, tínhamos que cumprir.
O questionamento de Guindani vai na mosca.