Numa observação mais detalhada, o visitante verá que a edificação não é apenas um casarão antigo, que está sendo ocupado para projetos de finalidade cultural. Estará visitando a casa onde vivei, a partir de 1778, o jurista Tomás Antônio Gonzaga, nomeado como Ouvidor Geral da Comarca de Vila Rica, hoje Ouro Preto, que nasceu em 11 de agosto de 1744. Além de seus conhecimentos jurídicos e de administrador, Gonzaga, de 40 anos, escrevia poesias. Dedicava-as a uma bela moça que conhecera. Da Ouvidoria, olhando para o Noroeste, podia avistar a casa de Maria Doroteia Joaquina de Seixas, de apenas 17 anos, e lhe escrevia poesias que viriam a fazer parte do livro "Marília de Dirceu". A família da moça, muito tradicional, não aprovava o romance, mas aos poucos a resistência foi-se dissipando e chegaram a marcar a data para o seu casamento. Eram apaixonadíssimos um pelo outro.
Acusado de participar da Inconfidência Mineira, foi degredado para Moçambique, onde, por conveniência, acabou casando-se com Juliana de Sousa Mascarenhas, filha de um rico comerciante de escravos, e teve um casal de filhos. É tique que ali faleceu no mês de fevereiro de 1810, sem se precisar o dia. Adotou o nome arcádico "Dirceu" para escrever os poemas, que dedicava à amada Maria Dorotéia, a quem chamava de Marília. "Marília de Dirceu" é considerado o melhor poema árcade brasileiro e seu autor o melhor poeta do gênero por aqui. Antes da prisão, seus versos apresentam a ventura do amor e a satisfação com o momento presente. Depois, no degredo, trazem o infortúnio, a justiça e o destino.
Estar na casa onde o poeta viveu e dirigir o olhar para o local onde morava sua Marília, para quem gosta de literatura, é emocionante. Remeti meus pensamentos ao tempo em que os professores Filipak e Nivaldo, na FAFI, em União da Vitória, nas disciplinas de Teoria Literária e Literatura Brasileira, nos faziam viajar pelo mundo poético. E eu, sonhador, mergulhava na literatura, devorando livro de romances e de poemas, com muita paixão.
Os moradores de Ouro Preto contam, aos visitantes, a bela história do poeta que se apaixonou pela bela moça, cuja família, muito bem situada economicamente, não aprovava o romance porque, sendo ele funcionário público, provavelmente seria transferido para outra cidade, e não queriam afastar-se da filha. Porém, o envolvimento dele com um grupo de escritores e intelectuais, que usavam pseudônimos para escrever cartas e documentos contra o Império, despertou a ira do Governo Português e ele foi deportado.
De linguagem simples e descrevendo o ambiente bucólico, escolho extrair de "Marília de Dirceu!:
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- Lira I
- Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
- Que viva de guardar alheio gado;
- De tosco trato, d’ expressões grosseiro,
- Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
- Tenho próprio casal, e nele assisto;
- Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
- Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
- E mais as finas lãs, de que me visto.
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- Graças, Marília bela,
- Graças à minha Estrela!
- Valeu a pena conhecer uma cidade de tantos encantos, arte, e berço do arcadismo no Brasil.
- Euclides Riquetti
- 14-02-2016
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