terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

As lembranças de Dona Noila

 
          Conheci a Dona Noeli Lorenzetti Gabriel num jogo de "voleibol câmbio", na Colônia de Férias do Hotel SESC do Cacupé, em Florianópolis, na tarde do dia 07 de novembro deste ano. Estava ali, ao lado da quadra, vendo o jogo. Convidei-a a entrar no jogo, pelo nosso time. Justificou-se, disse que não estava acostumada a jogar. Era educada, demonstrava ser uma pessoa muito respeitosa e sensível. Acabou aceitando o convite e participou das brincadeiras que nos eram oferecidas pelos recreadores do SESC. No seu crachá, o nome: Noeli. As amigas a chamavam de Noila!

          No dia 9, sábado,  nos encontramos na fila do Restaurante, na hora do almoço. Já havíamos retirado as bagagens dos alojamentos, deveríamos voltar a Joaçaba logo depois.  E, nessas ocasiões, costumamos fazer amizades com pessoas que trazem si  seus segredos, suas histórias, seus dramas.  E, assim, nem me lembro como, começamos a conversar, eu e a Noila,  como se fôssemos amigos de longa data. Foi imediata empatia. Falamos de família, de filhos. Ela é de Concórdia, eu disse que morava em Joaçaba, então  passou a me relatar sobre um filho que morara em Joaçaba quando ele tinha 22 anos, era piloto de aviões e instrutor de voo. Viera para Joaçaba para dar aulas de voo no Aeroclube.

          Dona Noila falava-me com alegria do filho, com muito orgulho. Disse-me que aqui ele viera jovem e surpreendeu os Srs. Beló e Avelino Dorini Primo, pois estes não imaginavam que alguém tão jovem pudesse vir ensiná-los a pilotar aviões.

          Perguntei-lhe onde ele estava e seu rosto serenou, mas sem perder o brilho do semblante de uma mãe que fala com orgulho do filho: "Meu filho morreu, foi em 23 de dezembro de 2009, no Maranhão. Ele estava pilotando um helicóptero, que caiu numa mata. Ele e o co-piloto morreram  só foram achados quatro dias depois... "

          Fiquei enternecido. Aquela senhora bondosa, que deixava simpatia transbordar de seu coração, falava com alegria do filho que perdera. Contou-me sobre o drama de esperar, por quatro dias,  notícias sobre a localização do filho desaparecido nos céus de Carolina, uma cidade do Maranhão, para onde fora pilotar depois que foi embora de Joaçaba.  E, quando a notícia veio, apenas a confirmação de que ele, Enndel Gabriel, e seu co-piloto Aloysio, havia perdido a vida, seus corpos foram encontrados carbonizados.

          Imaginei o sofrimento daquela mãe, que tudo fez para que seu filho tivesse uma boa educação, apoiando-o na realização de seus sonhos. E ela me dizia que não estava triste, pois sabia que ele estava fazendo aquilo de que gostava. Disse que ele estava num grande momento da vida, muito feliz com o relacionamento que mantinha com a noiva, Daniele Leite, e com o seu trabalho. Pediu-me que quando encontrasse o Primo lhe falasse que a conhecera, perguntasse sobre a vida o  Enndel Gabriel aqui em Joaçaba.

          Pois tive contato com o Primo, meu amigo dos tempos de adolescência, lá de Capinzal. Encontrei-o nesta semana numa loja no centro de Joaçaba, ele mora e trabalha aqui.  Disse-me que o piloto era formidável, que foi o melhor instrutor que conhecera. Que o rapaz morou no centro de Joaçaba, tinha muitos amigos por aqui. Aprendera muito sobre aviões com ele. Fez seu serviço e depois foi embora..,

          Uma das coisas que muito me marcou foi o reconhecimento de Dona Noeli com relação ao pessoal aqui de Joaçaba. Disse que, mesmo depois de mais de uma década, foram lá confortar a família quando da tragédia. E reafirmava-me que, mesmo tendo perdido o filho, aos 36 anos, tinha saudades, mas estava feliz, pois sabia que ele fora um piloto feliz e realizado.

          Na viagem de volta, conversamos sobre outros assuntos, sobre "viver a vida", sobre ter família, sobre gostar das pessoas, admirá-las. Pois, que este Natal seja para ela e seus familiares um belo momento, o de celebrar as lembranças boas que lhe ficaram no coração.

Abraço bem afetuoso, Noila!

Euclides Riquetti
23-12-2013

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