Ouro do sol e dos trigais...
Ouro dos nossos laranjais...
Os dois versos que iniciam o Hino do Município de Ouro bem refletem o que ele sempre representou em termos de força trabalho e grande seleiro agropecuário do Vale do Rio do Peixe, onde se localiza, em território catarinense.
Ouro, que já no início do Século XX começou a receber corajosas famílias de descendentes de italianos que vinham da Serra Gaúcha, grande parte deles de Caxias do Sul e Farroupilha, foi-se constituindo num lugar próspero e que muito os atraía, mesmo porque é montanhoso, com topografia semelhante à de seus lugares de origem, tanto na Itália como no Rio Grande do Sul. Era uma paisagem que lhes trazia sempre as mais saudosas lembranças.
A vila que deu origem à cidade foi fundada em 20 de outubro de 1906, mas a ocupação das terras deu-se ainda antes, pois, segundo pessoas de idade avançada que ainda vivem, seus pais lhes relatavam sobre isso. Eles mesmos conheceram muitas famílias de caboclos, que eles chamavam de “brasileiros”, sendo que alguns deles chegaram a possuir grandes áreas de terras, como Veríssimo Américo Ribeiro, na região de Pinheiro Baixo; Severino Teixeira, em Linha Bonita; e Honório Cassiano, desde Nossa Senhora Saúde até as proximidades com o Município de Cruzeiro, hoje Joaçaba.
Ouro, antigo Distrito de Abelardo Luz
A vila de Ouro situada à margem direita do Rio do Peixe, foi fundada em 20 de outubro de 1906, juntamente com outras, à época em que a Ferrovia Paraná/Santa Catarina vinha sendo implantada.
Relatos desses moradores mais antigos indicam-nos que já havia habitantes em praticamente todas as regiões da colônia , quando os “italianos” aqui chegaram. Viviam em casas de madeira, cobertas com madeira mesmo e raramente telhas de barro.
A partir da inauguração da Estrada de Ferro ligando Marcelino Ramos a União da Vitória, que se deu em 20 de outubro de 1910, muitos dos trabalhadores da mesma foram comprando áreas de terras que pagavam com o que recebiam pela prestação de serviços na construção da mesma, com títulos que lhes eram vendidos e que continuavam a pagar em prestações a cada seis meses. Outros interessados, com procedência do Rio Grande do Sul, adquiriam-nas da mesma forma, assumindo compromisso contratual de coloniza-las gradativamente. Houve quem comprasse terras da Companhia de Estradas de Ferro São Paulo – Rio Grande, que chamavam de “rede” e que depois foram reclamadas pelos verdadeiros proprietários, tendo ocorrido, na comunidade de Linha Santa Bárbara, por exemplo, até o duplo pagamento de algumas, pois o verdadeiro dono, Honório Cassiano, obteve decisão judicial a seu favor, com reintegração de posse. Cassiano residiam na área rural do Distrito de Rio Capinzal. Segundo alguns moradores atuais, veio um “bando” de homens, todos armados, com uma ordem judicial, ficando uma situação de evidente confronto. A maioria dos colonos escondeu-se no mato, restando jovens e mulheres nas casas. As “autoridades” confiscavam armas que os agricultores tinham para sua segurança, quando não agrediam menores pressionando para que delatassem outros. Para evitar derramamento de sangue, alguns passaram a pagar as terras a estes, interrompendo o pagamento de prestações à rede.
O trecho entre União da Vitória e Marcelino Ramos, cortando o Vale do Rio do Peixe e seguindo paralelamente ao seu curso, era administrado pela Rede Viação Paraná-Santa Catarina, depois Rede Ferroviária Federal S/A, estatizada.
Nas primeiras duas décadas do Século XX Ouro era o 4º Distrito de Palmas, Paraná, sendo que suas terras eram contestadas pelo Governo daquela província. Em 1914 eclodiu a Guerra do Contestado, com muito derramamento de sangue pela disputa das terras contestadas. Depois a colônia passou a pertencer a Abelardo Luz, sendo que no ano de 1920 instalaram o primeiro Cartório do Registro Civil .
Verdadeiramente, os descendentes de italianos e até italianos natos, começaram a chegar a partir da inauguração da estrada de ferro, sendo que, de 1915 e 1930, é que ocorreu o grande afluxo para Ouro.
Abelardo Luz, Sede do Distrito de Ouro.
Em razão da facilidade de acesso à água, pelas razões de proximidade com o Rio do Peixe, e por ser cortado pelo Riacho Coxilha Seca, o lugar onde atualmente se situa a sede municipal, foi sendo habitado gradativamente, reduzindo-se a atividade e o número de residências em Coxilha Seca.
Assim, foi-se formando ali um aglomerado de residências e estabelecimentos comerciais, com casas construídas em madeiras. A atividade principal era o comércio e a prestação de serviços. Empresas importadoras e exportadoras foram-se instalando ao logo da Rua da Praia, hoje Governador Jorge Lacerda, que se prolongou com a atual Avenida Felip Schmidt. Esses estabelecimentos compravam a produção agropecuária, transferindo-a para São Paulo, principalmente, favorecida que a região era pela existência da estrada de ferro.
As “casas de pasto” e os hotéis eram os estabelecimentos onde as caravanas de carroças, cavalos ou cargueiros de burros e mulas paravam para o pernoite. Eram oferecidas refeições aos homens e alfafa ou milho para os animais.
Através de contatos e reuniões com antigos moradores que ainda vivem e que estão já com mais de 80 anos, foi possível levantarmos um rol de nomes dos primeiros moradores da Vila de Ouro, a saber:
Afonsinho da Silva, casado com Eleonora, era balseiro e padeiro, morando no sul da cidadezinha, no local onde hoje se situa a Unidade Clínica de Saúde; Teodoro, um senhor de origem germânica; Afonso Ribeiro, casado com Maria, e seu pai, que era chamado de “Velho Espiritista Ribeiro”; um cidadão de nome Messias, casado com Maria; Ernesto Toaldo, que comprava porcos e exportava para São Paulo; Eugênio Lunardi; Demétrio Calliari, casado com Ângela, possuía comércio geral, comprando cereais e vendendo inclusive tecidos, ferragens e louças; Bonalume, era comerciante; Ângelo Montanari, possuía uma “casa de pasto”, que era uma espécie de restaurante; Família Ampessan, com os irmãos Marcelino, Domingos e Joana, foram balseiros, tendo comprado a balsa de Afonsinho da Silva; Leonarda Zavaski Gonçalves, possuía uma escola onde hoje é a esquina entre a Rua Presidente Kennedy e a Júlio de Castilhos; Francisco Casagrande, com ferraria e carpintaria, onde hoje se localiza a Prefeitura; Abramo Pizeta, possuía uma funilaria; Euclides Scaiarol, era relojoeiro; Petry, era representante a Companhia de Colonização do Rio do Peixe; Júlio Maestri, comprava porcos; Jacom Maestri, em 1928 era comerciante geral; Análio Vargas, comprava produtos coloniais e os exportava para São Paulo; Raimundo Formighieri e Catarina Zóccoli; Palmiro Germani , era contador e comerciante, casado com Meneghina de Souza; José Scott, Severino Baretta; Baltazer Brambila, casado com Oliva Broll, veio um pouco depois que os demais e fez uma fábrica de bebidas e refrigerantes, na Rua Júlio de Castilhos; Cabo Antônio, era responsável pela cadeia; Alcindo Vicente da Silva, era carroceiro; João Nepomuceno da Silveira, era pescador; Alberto Viero, alfaiate; Manoel da Silva, pintor; Abíliio Cercal, era comprador de alfafa; Antônio cadore, casado com Irene; Domingos Gerra, morava na subida para a Cixilha Seca; Pasqualin Andrioni, era proprietário de um hotel com “casa de pasto”; Fritz, era dentista; Eugênio Cozer, era comerciante; Eugênio Lunardi, era carpinteiro e bodegueiro; Pedro Baretta e Carlos Baretta, tinham comércio onde é a Praça Pio XII; Honorato Nepomuceno e outros.
Euclides Riquetti
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