Há exatamente um ano, ocorria a maior greve da história do Brasil, com a paralisação dos caminhoneiros e, como consequência da falta de combustíveis, pararam as indústrias, os aviões ficaram desabastecidos em poucos dias, com sensível redução do numero de voos, com os alimentos perecíveis sendo consumidos vorazmente e, com isso, a insuficiência de sua reposição elevou os preços de hortigranjeiros, indo parar nas alturas. Estávamos "na estrada", rumando para o Maranhão, depois de termos passado uns dias em Ponta Grossa na casa da Michele e do Daniel, e outros na casa do Fabrício e da Luana, em São José dos Pinhais.
Pois bem! Já nos primeiros dias de confusão nos aeroportos, tomamos avião no Aeroporto Afonso Penna, em São José dos Pinhais e saímos com uma hora de atraso, por volta das 20 horas. Quando aterrissamos em Guarulhos, São Paulo, o avião que nos levaria a Brasília, com conexão para São Luís, no Maranhão, já estava decolando. Informaram-nos, os funcionários da Gol, que nos levariam até um portão de embarque da Latan, e que esta nos levaria adiante. Foi de estranhar que o funcionário da Gol nos deixou na fila da Latan e sumiu. Bem no momento que chegou a minha vez de embarcar, e eu era o primeiro da fila, um funcionário desta nos disse que nós não poderíamos embarcar, pois eles não tinham compromisso conosco. E o funcionário da Gol simplesmente estava desaparecido. Percebemos que os funcionários da Latan estavam iniciando uma greve oportuna exatamente naquele momento. Sem nenhuma vontade de nos darem qualquer informação ou nos prestarem qualquer esclarecimento.
Falei para as pessoas que nós deveríamos ir para um balcão da Gol, afinal eles eram responsáveis pela nossa viagem. Andamos, muito depressa, cerca de 15 minutos até chegarmos ao balcão da Gol. Lá, nossos companheiros de viagem estavam nervosos por não receberem informações. Um funcionário nos dizia que iriam nos acomodar no primeiro voo que partisse para o Nordeste, que faríamos conexões e que chegaríamos em São Luís com algum atraso. Percebi que as informações eram desencontradas e que as pessoas estavam sendo enganadas. Conversei com os companheiros de infortúnio e senti que estavam muito estressados. Uma senhora tinha realizado há poucos dias um transplante de córneas e estava inquieta. Havia pelo menos dois casais, pessoas avulsas e ainda uma jovem senhora com uma filhinha de 4 anos, a quem passei a chamar de Princesinha, pois ela era muito graciosa.
Na esteira das bagagens, a jovem senhora não conseguiu localizar sua mala preta. No seu lugar havia uma outra, de algum outro passageiro, que levou a dela trocada. Então bateu o desespero naquela jovem, pois na mala estava seu vestido de noiva. Ia a São Luís para casar-se em dois dias. O noivo fora uns dias antes, pois a família dele era de lá, embora tivesse conhecido a jovem em São José dos Pinhais, de onde ela era originária.
Havia muita reclamação, confusão e desentendimento. Conversei com todos e lhes perguntei se concordavam em que eu os liderasse nas negociações com a Gol. Deram-me carta branca e o grupo ficou reunido comigo. Em vez de cada um conversar com um funcionário, solicitei que se apresentasse que era o chefe deles, o responsável para resolver a situação. Relatei-lhe brevemente sobre as angústias e os compromissos de cada um. Primeiro, havia a situação da senhora que teve a cirurgia nos olhos, que precisava de uma atenção especial. Depois, a situação da mala extraviada, restando a jovem e sua filhinha sem sequer roupas para se trocarem.
O atendente da Gol propôs que nos mandaria a hotéis por conta da empresa, vouchers para alimentação, táxi para nos levar e buscar, mas que só viajaríamos exatamente 24 horas depois, ou seja, na noite seguinte. Não tínhamos outra alternativa, e as pessoas começaram a ligar para seus familiares e patrões para cientificar da situação. Liguei para a recepção do Hotel Stop Way, em São Luís, e informei do atraso e de que chegaríamos somente na noite seguinte. Cada família teve disponibilizado um táxi e foram dispersos para vários hotéis. Dois homens, nós e a jovem com a filhinha fomos encaminhados para o Hotel Hilton, da cidade de Santo André. Exatamente 75 Km longe do terminal aeroportuário. Tínhamos que apanhar os táxis num setor onde havia uma cooperativa de taxistas. E lá fomos nós, por volta da meia-noite, para uma aventura insólita e temerária.
O motorista, muito gentil e experiente, falou-nos que não iria pelo Rodoanel, pois por ali era muito perigoso, havia alto índice de assaltos. Cortou caminho por um local inóspito, umas ruelas estreitas e mal iluminadas, uma extensa favela. Tudo me parecia muito assustador!
Depois de uns 40 minutos de andanças, num local assustador, falei para o motorista que ele deveria parar sempre uns 30 metros antes do semáforo, pois, assim, correríamos menos risco de sermos assaltados. Ele disse que ia furar todos os sinais, que era assim que eles faziam durante a noite, que não havia monitoramento eletrônico e que a polícia orientava para que assim fosse, desde que tivessem cuidado para não provocarem acidentes.
Uma hora e meia depois chegamos à recepção do hotel. O Hilton Garden Inn é um suntuoso 4 estrelas, uma torre espelhada moderna, que permite, de suas janelas, uma vista para o horizonte plano de Santo André. Tinham feito a reserva. Havia pessoa que não obtiveram vagas porque havia muitos hospedes que, em razão da greve, não puderam deslocar-se para suas cidades. Não havia mais jantar, então nos serviram lanches e refrigerantes.
Já de manhã, solicitamos a vinda de um táxi para nos apanhar. Veio outro da cooperativa credenciada, de lá do aeroporto. Não esperamos pelo almoço, embora estivesse autorizado por conta da Gol, pois não queríamos correr o risco de termos piquetes no rodoanel e não chegarmos ao aeroporto a tempo de tomarmos o avião desejado. Tivemos alguns contratempos, mas em menos de duas horas o percurso foi feito, pois os caminhões parados ao longo da Rodovia não impediam a passagem dos automóveis e dos ônibus. Tivemos que esperar mais umas 9 horas até sermos chamados para a área de embarque. Lá, reencontramos os demais. A jovem e sua filha ainda não tinham tido notícias de sua mala. Até lhes deram um dinheiro para comprarem uma roupas básicas, mas a preocupação, mesmo, era com o vestido de noiva.
Chegamos em São Luís próximo da meia-noite, tomamos um táxi conduzido por uma jovem muito simpático. Adentramos o hotel com um dia de atraso e as expectativas de passarmos uma belíssima semana conhecendo os principais atrativos turísticos e cultural dali, de Alcântara, Raposa e de São José do Ribamar.
Euclides Riquetti
31-05-2019
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