Pessoas que fazem parte de um determinado grupo social ou profissional precisam pautar-se, em suas manifestações, pela ética e pelo bom-senso. O falar polido e elegante não faz mal pra ninguém, é coisa para gente educada. Porém, muitas vezes, a fala entre grupos pode tornar-se ridícula, quando há a presença do narcisismo coletivo, se é que a expressão possa ser usada para indicar o que eu quero dizer. No meio televisivo, isso é muito presente. É crítica contra todo mundo, e nada de autocrítica. Parecem semideuses que entendem de tudo, mas que fazem afirmações muitas vezes sem terem nenhuma certeza do que dizem, vão na toada do momento. Traduzindo: Jornalistas que fazem parte dos quadros de canais de notícias que dizem informar seus assinantes durante as 24 horas do dia, aos telespectadores que pagam para vê-los, em vez de informar melhor, repetem ou requentam os assuntos, fazem uso de práticas, além de apologia à fofocas, ao elogio mútuo. Isso é coisa muito antiga, que já teve reparos dentre os falantes de nossa Língua Mater, nossa “Flor do Lácio”, desde a segunda metade do Século XIX, em Portugal. Os meios mudaram, mas os métodos continuam os mesmos!
Em 1865, em Portugal, o poeta romântico Pinheiro Chagas publicou “Poema da Mocidade”, o qual foi contemplado com um posfácio extremamente elogioso, de outro poeta do mesmo gênero, Antônio Feliciano de Castilho. Ao mesmo tempo, Castilho alfinetava uma nova geração de poetas que estava surgindo, que integravam a “Escola de Coimbra”, aquela “Geração de 70”, de estudantes de Coimbra, mais realistas e naturalistas do que românticos. Ideias novas, modernas, eu diria progressistas. Feliciano de Castilho escreveu que os jovens poetas tentavam “subverter a noção de poesia e de falta de bom senso e de bom gosto”. Castilho ficou mais conhecido pelo apadrinhamento a outros escritores do que pelas suas obras medíocres. Um desses novatos, Antero de Quental, contrapôs-se a Castilho, que os conhecedores de literatura sabem que foi um poeta medíocre.
Quental escreveu, como resposta, a “Escola do Elogio Mútuo”, em que criticava Castilho e seus seguidores, pois este enaltecia os poetas mais conservadores e estes lhe retribuíam elogios. Na verdade, isso foi uma coisa muito vergonhosa que aconteceu na história da literatura de nossa Língua. Era só bajulação e elogios entre si! Esse episódio é conhecido como a “Questão Coimbrã”. A mesma prática veio se propagando através dos tempos e está muito presente entre os comentaristas das emissoras de televisão. É só prestar atenção na rasgação de seda entre eles: um elogia o penteado ou o corte do cabelo do outro (ou outra), a cor da gravata, o modelo do paletó, o corte do traje, a cor da blusinha, uma foto que foi por um deles postada numa rede social, e assim por diante. Isso foge muito do que seja jornalismo...
Por outro lado, estão prontos a criticar seus alvos ou proteger seus queridos. Já bajularam Fernando Henrique Cardoso e Lula, depois defenestraram este último, e sua sucessora Dilma Rousseff. Dividiram-se na proteção ou na crítica a Michel Temer e, agora, mostram os defeitos de Jair Bolsonaro. São os donos da verdade, todos muito auto-suficientes, principalmente os que integram as emissoras Globonews, CNN News e a Globo aberta. Outros canais, emissoras de transmissão aberta, por sua vez, bajulam o Poder e os poderosos. Uma prática que também pode ser desprezada. E, mesmo pregando o distanciamento social, ficam lá, muitas vezes recostados um no outro, nem meio metro de distância, uma elogiando os brincos da outra, arrogância presente, uma coisa muito feia e desprezível.
Com o Presidente Bolsonaro tendo que se resguardar em razão da Covid 19, parece que ele se acalmou um pouquinho, deve estar refletindo sobre sua conduta de comunicação inadequada e de comportamento pessoal diante da pandemia. E, quando há um consenso de que todos precisam atuar de forma homogênea, lá vem o Senhor Gilmar, o GM, a falar das Forças Armadas Brasileiras dando-lhes uma conotação de genocidas. Devia ter ficado quieto, a função dele e de seus pares deveria ser a de julgar se os atos das pessoas e dos governos estão dentro dos parâmetros da Constituição Brasileira. No STF, também a bajulação entre os ministros é muito frequente quando proferem algum voto nos processos que julgam. Gilmar Mendes é criticado por agir ora como juiz, ora como político. Deveria, pelo cargo que ganhou de graça, sem concurso, no mínimo comportar-se como juiz, que é o que se pressupõe que deva ser.
No Congresso Nacional, então, vimos duplas situações nos últimos 30 anos. A presença do elogio mútuo ou a agressão verbal exacerbada: “Vossa Excelência é um corrupto, um ladrão”! – Ora, se é corrupto ou ladrão não pode ser “Excelência”, não acham, amigos leitores? Isso quando não tentam um meter o braço no outro. O respeitar para ser respeitado, passa longe de Brasília!
Euclides Riquetti – Escritor – Minha coluna no Jornal Cidadela - Joaçaba - SC - em 17-07-2020
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