Ao cair da tarde, os passarinhos se escondem nas árvores. As galinhas, ocupam os puleiros ou mesmo se alojam nos galhos das árvores. Os animais maiores buscam o caminho dos galpões e estrebarias. As vacas se enfileiram para a ordenha. As pessoas chegam em casa depois de exaustivo dia de trabalho na roça. Na colheita do milho, encosta-se a carroça de bois no avanço do telhado do paiol. Se ainda houver energia e disposição, joga-se o milho pela janela. Adiante, será empilhado, debulhado, ou mesmo amontoado. Ou, então, se deixa para as primeiras horas da manhã seguinte.
Os bois da carreta são soltos no potreiro, ganham palhas ou pastos. Depois, deitam no chão e esperam pelo outro dia. Ovelham bale, cabras berram, porcos duroc dispitam as espigas de milho que lhes são atiradas por tratador.
Os homens cansados, buscam um tanque para se lavarem, ou um banheiro de bica d ´água vinda de algum morro. As mulheres também têm a opção de uma grande bacia de alumínio, com água aquecida no fogão à lenha. Ns mesa grande, revestida com sua toalha xadrez, uma bacia cheia de salada de radicci, doméstico ou de mato. Vinagre de vinho tinho, sal, um toicinho frito para dar à salada um gostoso sabor. Um pão grande, assado no forno de pedras e tijolos, em forma de latão. Algumas formas feitas com latas de óleo de caroço de algodão emendadas no Morosini ou no Segalin. Uma jarra de vinho tinto, retirada da pipa minutos antes. Outra de água freca, que veio do poço, lá de oito ou nove metros de profundidade. Pratos de louça branca, talheres de metal comum, copos de vidros,
Uma dúzia de cadeiras postas ao lado da mesa, lugar na cabeceira para o chefe da casa, e na outra ponta para o filho mais velho. Uma cesta com uma grande pedaço de queijo, um ou dois salames, tudo feito na propriedade e guardado no porão. No telo da sala de jantar, uma lanterna a querozene pendurada. Outras lamparinas dispostas em espaços regulares da mesa.
Todos vão sentando-se, a matriarca puxa uma oração e todos a secundam. A hora sagrada da refeição. Uma moça vem de lá da cozinha e traz uma grande panela cheia de sopa de feijão. Uma tigela com pedaços de polenta bristolada na chapa do fogão. Todos comem silenciosamente, mas, em alguns momentos, um moço solta uma piadinha, outro conta sobre algo que aconteceuu la na roça, quando tocava os bois no arado. Outro fala da necessidade de ajustar o breque da carreta, da de mandar rebater as chapas das rodas no ferreiro. Após a janta reparadora, na sala de descanso, uns deitam em pelegos, escutam o "Reporter Esso" no Rádio, outros jogam cartas na mesa redonda, divertem-se com o que têm de disponível. Jogam o "burro", o "roba mucho" (rouba monte), jogos simples. Jogar "cacheta" ou "nove", nem falar, isso é coisa para viciados que jogam nas bodegas.
Escutam-se as notícias da política, das guerras, de alguns roubos que ocorrem nas grandes cidades. Antes das nove horas da noite, todos buscaram seus quartos, dormem seus sonos profundos. Amanhã é outro dia...
Euclides Riquetti
28-03-2022
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