Toda a vez que uma catástrofe se abate
por algum lugar do Brasil, começa-se a evocar e invocar sobre o que a teria ocasionado e quem seriam os
culpados pelo que aconteceu. No caso presente, as fortes chuva e suas
consequentes cheias no Rio Grande do Sul suscitam a emissão de opiniões,
comentários, reclamações e até se apontam as soluções. No cenário triste e
avassalador, uma constatação: o privado age rápido e o público nem tanto, para
não dizer que a passos de elefante.
Que o aquecimento global tem ocasionado
desastres naturais em todo o mundo, é visível e notório. Que o evento climático
adverso do Rio Grande do Sul é resultado disso, podemos dizer que há quem
conteste, e os fatos e análises têm
alguma pertinência. As chuvas e as consequentes cheias de 1941, ocorridas no
Rio Grande do Sul, teriam sido menores do que as atuais? O mundo estava em que
nível de emissão de gases que provocassem o efeito estufa?
Uma verdade incontestável, e é ali que vem o descuido das autoridades e
da própria população, é que a paisagem, a ocupação das áreas inundáveis se
acentuou muito em 83 anos. Todos os municípios atingidos cometeram pecados,
pelas suas autoridades e pela sua população. Porto Alegre, especificamente, que
muito sofreu naquela enchente do Estuário do Guaíba, construiu sistemas e
proteção de sua área urbana contra a elevação das águas. Mas não ocorreu a
devida manutenção, nem se levaram em conta os alertas emitidos por estudiosos
do sistema hidrológico riograndense e o resultado está ali. A pena para os
pecados cometidos veio em dose fortíssima.
Herval d´Oeste e Joaçaba - Rio do Peixe - 1983
Vou mencionar aqui algumas ocorrências
da Enchente de 1983, pois acompanhei a evolução urbana das cidades que foram
atingidas pelos rios Iguaçu, do Peixe e Itajaí. Vejam que em Joaçaba e Herval
d´Oeste e Luzerna a lição foi absorvida e pouca ocupação ocorreu nas margens do
Rio do Peixe. Tampouco o Rio do Tigre teve suas margens invadidas. O município
fiscalizou e as edificações que foram construídas não suplantaram o espaço das
áreas consolidadas. Prédios ocuparam os
espaços das casas de poucos pavimentos e, quem não obteve os alvarás, os
conseguiu em vitórias judiciais. Os loteamentos implantados à montante do Tigre
não são muito grandes. Pode-se dizer que se somarmos os lotes de todos eles, não
dá mais do que o de apenas um dos loteamentos implantados em Capinzal.
Rua XV de Novembro - Capinzal - SC - Águas do Rio do Peixe
Em Capinzal, como efeito da enchente de
1983, o então Prefeito Celso Farina fundou a Cidade Alta, que compreende a Vila
Sete de Julho e o Bairro São Cristóvão. Na sequência, a iniciativa privada
implantou loteamentos em locais não inundáveis e com risco de deslizamentos de
terras reduzidíssimos. Nas margens do Rio do Peixe, Farina implantou a área de
lazer Doutor Arnaldo Favorito e, acima da ponte Irineu Bornhausen não permitiu
que ocorressem construções. As administrações seguintes respeitaram a legislação
e as áreas estão preservadas. Em Capinzal o problema é com o Rio Capinzal. Com
bons projetos e muito dinheiro a situação da área central poderá ser
contornada. O mesmo se pode dizer com relação a Joaçaba.
Em Ouro, fui o sucessor de Domingos
Bof. Tanto em meu mandato e no segundo
dele, após o meu, não autorizamos
construções nas áreas atingidas. Adiante, porém, a memória falhou e os terremos
do Parque e Jardim Ouro estão 90 por cento ocupados, diante de 20 por cento que
eram em 1983. Se ocorrerem as chuvas na milimetragem que aconteceram lá atrás,
terão grandes problemas, embora que as edificações foram construídas com
estruturas mais fortes. Mas não têm garantias de que poderão resistir à fúria
da águas se elas ocorrerem de novo.
Porto União da Vitória - Rio Iguaçu
Em União da Vitória, a área mais
próxima ao Iguaçu foi transformada numa área ambiental e de lazer, com uma bela
paisagem. Outras áreas continuam sendo um problema. Os bairros São Cristóvão,
em União da Vitória, e Santa Rosa, em Porto União, tiveram significativo
aumento de construções após 1983 e continuam sendo um problema.
Em Ouro e Capinzal, à época, os
municípios receberam casas doadas pela Itaipu Binacional, que foram desmontadas
em seus canteiros de obras e eram ocupadas, antes, pelos operários da
construção da grande barragem. Os municípios adquiriram terrenos em lugares
seguros e, hoje, os proprietários acabaram por construírem, nos mesmos,
residências confortáveis em alvenaria. No meu mandato, dei continuidade ao
projeto do Bairro Alvorada, onde colocamos 50 famílias que passaram a ter sua
casa própria. E os que tinham sido atingidos foram contemplados. As construções
deram-se por regime de mutirão.
Nós nunca ficaremos livres das enchentes
e o mesmo acontecerá com as cidades do Rio Grande do Sul, e muitas das
catarinenses e das paranaenses. Nem dos
vendavais, nem dos riscos de deslizamentos. Então, é preciso que todas as
cidades tenham planos de resposta aos desastres e a população precisa
conhecê-los. E todas as cidades e estados precisam ter seus planos de
prevenção. O momento é propício para que ocorra o debate e as devidas
providências. A omissão pode trazer resultados maléficos na eventual ocorrência
de eventos naturais adversos.
Euclides
Riquetti – Escritor – www.blogdoriquetti.blogspot.com
Publicado no Jornal Cidadela - Joaçaba - SC
Em 23-05-2024
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