domingo, 26 de maio de 2024

Ações e reações nos pós-desastres – como estão nossas cidades após 1983?

 




Porto Alegre - Estuário do Guaíba -  Maior cheia da sua História


 

       Toda a vez que uma catástrofe se abate por algum lugar do Brasil, começa-se a evocar e invocar sobre  o que a teria ocasionado e quem seriam os culpados pelo que aconteceu. No caso presente, as fortes chuva e suas consequentes cheias no Rio Grande do Sul suscitam a emissão de opiniões, comentários, reclamações e até se apontam as soluções. No cenário triste e avassalador, uma constatação: o privado age rápido e o público nem tanto, para não dizer que a passos de elefante.

       Que o aquecimento global tem ocasionado desastres naturais em todo o mundo, é visível e notório. Que o evento climático adverso do Rio Grande do Sul é resultado disso, podemos dizer que há quem conteste,  e os fatos e análises têm alguma pertinência. As chuvas e as consequentes cheias de 1941, ocorridas no Rio Grande do Sul, teriam sido menores do que as atuais? O mundo estava em que nível de emissão de gases que provocassem o efeito estufa?

       Uma verdade incontestável,  e é ali que vem o descuido das autoridades e da própria população, é que a paisagem, a ocupação das áreas inundáveis se acentuou muito em 83 anos. Todos os municípios atingidos cometeram pecados, pelas suas autoridades e pela sua população. Porto Alegre, especificamente, que muito sofreu naquela enchente do Estuário do Guaíba, construiu sistemas e proteção de sua área urbana contra a elevação das águas. Mas não ocorreu a devida manutenção, nem se levaram em conta os alertas emitidos por estudiosos do sistema hidrológico riograndense e o resultado está ali. A pena para os pecados cometidos veio em dose fortíssima.



                                 Herval d´Oeste e Joaçaba - Rio do Peixe - 1983

       Vou mencionar aqui algumas ocorrências da Enchente de 1983, pois acompanhei a evolução urbana das cidades que foram atingidas pelos rios Iguaçu, do Peixe e Itajaí. Vejam que em Joaçaba e Herval d´Oeste e Luzerna a lição foi absorvida e pouca ocupação ocorreu nas margens do Rio do Peixe. Tampouco o Rio do Tigre teve suas margens invadidas. O município fiscalizou e as edificações que foram construídas não suplantaram o espaço das áreas consolidadas.  Prédios ocuparam os espaços das casas de poucos pavimentos e, quem não obteve os alvarás, os conseguiu em vitórias judiciais. Os loteamentos implantados à montante do Tigre não são muito grandes. Pode-se dizer que se somarmos os lotes de todos eles, não dá mais do que o de apenas um dos loteamentos implantados em Capinzal.

      


                               Rua XV de Novembro - Capinzal - SC - Águas do Rio do Peixe

       Em Capinzal, como efeito da enchente de 1983, o então Prefeito Celso Farina fundou a Cidade Alta, que compreende a Vila Sete de Julho e o Bairro São Cristóvão. Na sequência, a iniciativa privada implantou loteamentos em locais não inundáveis e com risco de deslizamentos de terras reduzidíssimos. Nas margens do Rio do Peixe, Farina implantou a área de lazer Doutor Arnaldo Favorito e, acima da ponte Irineu Bornhausen não permitiu que ocorressem construções. As administrações seguintes respeitaram a legislação e as áreas estão preservadas. Em Capinzal o problema é com o Rio Capinzal. Com bons projetos e muito dinheiro a situação da área central poderá ser contornada. O mesmo se pode dizer com relação a Joaçaba.

      Em Ouro, fui o sucessor de Domingos Bof.  Tanto em meu mandato e no segundo dele, após o meu,  não autorizamos construções nas áreas atingidas. Adiante, porém, a memória falhou e os terremos do Parque e Jardim Ouro estão 90 por cento ocupados, diante de 20 por cento que eram em 1983. Se ocorrerem as chuvas na milimetragem que aconteceram lá atrás, terão grandes problemas, embora que as edificações foram construídas com estruturas mais fortes. Mas não têm garantias de que poderão resistir à fúria da águas se elas ocorrerem de novo.


                                                     Porto União da Vitória - Rio Iguaçu

       Em União da Vitória, a área mais próxima ao Iguaçu foi transformada numa área ambiental e de lazer, com uma bela paisagem. Outras áreas continuam sendo um problema. Os bairros São Cristóvão, em União da Vitória, e Santa Rosa, em Porto União, tiveram significativo aumento de construções após 1983 e continuam sendo um problema.

       Em Ouro e Capinzal, à época, os municípios receberam casas doadas pela Itaipu Binacional, que foram desmontadas em seus canteiros de obras e eram ocupadas, antes, pelos operários da construção da grande barragem. Os municípios adquiriram terrenos em lugares seguros e, hoje, os proprietários acabaram por construírem, nos mesmos, residências confortáveis em alvenaria. No meu mandato, dei continuidade ao projeto do Bairro Alvorada, onde colocamos 50 famílias que passaram a ter sua casa própria. E os que tinham sido atingidos foram contemplados. As construções deram-se por regime de mutirão.

       Nós nunca ficaremos livres das enchentes e o mesmo acontecerá com as cidades do Rio Grande do Sul, e muitas das catarinenses e das paranaenses.  Nem dos vendavais, nem dos riscos de deslizamentos. Então, é preciso que todas as cidades tenham planos de resposta aos desastres e a população precisa conhecê-los. E todas as cidades e estados precisam ter seus planos de prevenção. O momento é propício para que ocorra o debate e as devidas providências. A omissão pode trazer resultados maléficos na eventual ocorrência de eventos naturais adversos.

Euclides Riquetti – Escritor – www.blogdoriquetti.blogspot.com


Publicado no Jornal Cidadela - Joaçaba - SC

Em 23-05-2024

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Amigos, peço-lhes a gentileza de assinar os comentários que fazem. Isso me permite saber a quem dirigir as respostas, ok? Obrigado!