O Outono deste 2014, em razão das anormalidades climáticas, trouxe alguns dissabores a catarinenses e paranaenses, principalmente. Tivemos, primeiro, a elevação das águas do Rio Itajaí-Açu, que fez estragos incontáveis nas cidades do Vale do Itajaí, atingindo cidades populosas como Rio do Sul, Blumenau e a própria cidade portuária que, ainda, fica sempre sujeita aos riscos oferecidos pelas marés oceânicas. Há poucos dias, tivemos a ocorrência de precipitação de consideráveis volumes de chuva no Norte Catarinense e no Sul Paranaense. Porto União e União da Vitória, como nas ocasiões anteriores, sobfreram muito com a ação inclemente das águas.
Novas enchentes me fazem lembrar das anteriores: certamente que nenhuma delas suplantou, em danos e em nível elevado dos rios, as de 1983. Naquele ano, em julho, o Rio Itajaí, o Iguaçu e o Rio do Peixe tiveram seus níveis elevadíssimos. Agora, pela análise das informações que recebo através de telefone e internet, classifico as deste ano como de situação muito crítica, embora com menos agravos de que a de 1983. Aqui no Rio do Peixe, é possível dizer que tivemos outras maiores do que a de hoje, seguramente.
A ocorrência de eventos climáticos adversos já é previsível aqui no Sul. Sabemos que, em todas as décadas, as enchentes se repetem, com maior ou menor intensidade. Algumas cidades aperfeiçoaram suas leis no sentido de desestimular as construções próximas das margens dos rios. Outras, nem tanto... Mas cada calamidade nos deixa alguma lição. O problema é que nos esquecemos delas facilmente e rapidamente...
O melhor e mais positivo exemplo que conheço, seguramente, foi o de Capinzal. O saudoso Prefeito Celso Farina, em 1983, quando a cidade perdeu quase que uma centena de casas que se localizavam numa área baixa, após a ponte Pênsil Padre Mathias Michelizza, criou a "Cidade Alta", apelido dado ao Vila Sete de Julho (foi, no dia 7, a culminância da elevação das águas do Rio do Peixe), e o Bairro São Cristóvão. Atribuo ao locutor da Rádio Capinzal, à época, Aílton Viel, a paternidade deste aplido.
O Município adquiriu áreas e recebeu casas de madeira doadas pela Itaipu Binacional, prefabricadas, que estavam desativadas após o término de suas obras. A equipe de carpinteiros, pedreiros e operários da Prefeitura de Capinzal remontou as casas e formou-se a Vila Sete de Julho. Também as casas alinhadas entre a Estrada de Ferro e a Rua José Zortéa foram levadas para a parte alta da cidade.
Ambas as áreas, aquela acima da Ponte Irineu Bornhausen, e a abaixo da Ponte Pênsil, foram revitalizadas. Jardinagem na "Rua do Cemitério", com bela arborização. E implantação da Área de Lazer Doutor Arnaldo Favorito, paralelamente à Rua Ernesto Hachmann, entre esta e o Rio do Peixe. Nesta, a construção de pistas para caminhadas, quadras esportivas, implantação de gramados e árvores de sombra. Adiante, a construção do CTG pelos associados. Nenhuma residência foi reconstruída ali. Hoje, Capinzal tem uma certa vulnerabilidade em relação a enchentes, mas está mais afeta às casas comerciais. Os comerciantes, que foram surpreendidos em 1983, não esperam que o pior aconteça: melhor retirarem suas mercadorias, evitando maiores prejuízos. As edificações construídas nas áreas alagáveis (as mais valorizadas por ser a central da cidade), a maioria delas, foram construídas com nível do primeiro piso acima do nível do solo, ficando os subsolos, estes seim com risco de alagamentos, reservados para estacionamentos de carros ou serviços.
Com relação a Porto União e União da Vitória, não se viram providências muito significativas em relação ao Iguaçu e as áreas alagáveis. Estudos técnicos, dizem os entendidos, mostram que há como realizar intervenções que possam fazer com que as águas do Iguaçu tenham facilidade para escoarem. Hoje, a lentidão com que isso acontece, ocasiona elevação do seu nível e ainda a sua permanência por vários dias alagando as áreas. O mesmo se pode dizer em relação a Blumenau, Rio do Sul e Joaçaba. Sem se falar nas cidades menores... Não houve estímulo para que as cidades crescessem, efetivamente, nas áreas elevadas, pois continuaram a construir nas baixadas. E muito... É compreensível que as pessoas considerem que "os terrenos são seus" e que podem construir neles. Mas é preciso saber que há um preço a pagar por isso...
Outros problemas que nos ocorrem quando das chuvas em abundância, são as quedas de barreiras, que impedem a nornal mobilidade. Ainda, algumas ações que poderiam ter sido efetivadas, não aconteceram. Cito como exemplo o que aconteceu com a Rodovia SC 135 - antiga SC 303 - entre Lacerdópolis e Ouro: Estava prevista a "reconstrução" em nível mais alto, da ponte sobre o Rio Lajeado dos Porcos, na divida entre os dois municípios, e de uma parte da pista, localizada próximo da entreda para o Ramal Lovatel, em Santa Bárbara. Por medidas de "economia", tais obras foram abortadas do projeto. Agora, foi o primeiro impacto negativo de mobilidade: ainda na quinta-feira, 26, ao final do dia, as águas cobriram a pista e esta foi interditada. Coisas inadmissíveis para os tempos atuais...
(Nem vamos nos reportar à má qualidade e à falta de drenagem nas obras públicas que estão sendo executadas atualmente nas pavimentações aqui em algumas cidades, inclusive em Joaçaba. Risível, cômico, se não fosse trágico!)
Da enchente de 1983, resta-nos cuidar para outro ensinamento: Se, em julho, vierem novas chuvas, em volumes consideráveis, com solo encharcado e a perda da permeabilidade, poderemos ter o repeteco do que já nos aconteceu há 31 anos.... Mas que os ventos desviem as nuvens e que estas possam dissipar-se. Porque, em termos de ações preventivas, estamos "em recuperação".
Euclides Riquetti
27-06-2014
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