Mas, sabemos, é sempre mais fácil aprender a costurar com "uma estranha", que tem mais paciência para ensinar, do que com a mãe ou a irmã mais velha. E as jovens buscavam aprender com alguma vizinha. Outras, até procuravam as melhores costureiras de sua comunidade ou cidade e pagavam para aprender. Os aprendizes de alfaiate faziam o mesmo. Tinham que pagar para aprender.
Quando noiva, a moça recebia como dote, para seu casamento, uma máquina de costura, uma vaca de leite e um baú cheio de peças enxoval. Uma bela colcha para cama de casal, lençóis e sobre-lençóis, travesseiros e fronhas. Toalhas de banho, feitas com sacos de algodão alvejados e com franjas e bordados. Toalhas de mesa e toalhas de pratos impecavelmente trabalhados. A preparação do enxoval era um ritual sagrado...
As mães compravam tecidos com o dinheiro da venda de queijos e ovos. Compravam peças inteiras de tecidos de algodão, um tricolines para camisas para o serviço, normalmente xadrez. Com o mesmo tecido faziam fronhas, lençóis e até toalhas de mesa. Para o serviço pesado dos homens, peças de brim Diamantino, de fibras mais grossas de algodão, com entrelaces de fios brancos, cinzas e pretos. Para forros de roupas compravam o Morim. Mas também usavam a cambraia, tecidos em crepe de lã, seda ou algodão, cretones, e casimiras. Estas, só os alfaiates ou as boas costureiras sabiam utilizar. Os alfaiates faziam ternos. As costureiras, tailleurs.
A História nos conta que as vestimentas mais antigas no mundo eram constituídas de peles de animais. A lã das ovelhas e outros animais, o algodão, o linho e a seda são materiais utilizados na confecção de tecidos dentre 2.500 e 3.000 anos aC. A partir da revolução industrial, começaram a desenvolver tecidos a partir de moléculas, os fios sintéticos. Hoje estes estão presentes abundantemente no mercado, através do nylon e do poliéster.
A necessidade de as pessoas se protegerem e, mais ainda, esconderem seu corpo, ou mesmo para "aparecer bem no meio social", fizeram com que os tecidos fossem inventados e reinventados em toda a história da Humanidade. Hoje temos uma grande variedades disponível, de todas as qualidades, cores, estampas, origens e padrões.
Na década de 1960 , nas alfaiatarias, começaram a aparecer, em nossas cidades, os tecidos denominados "Tropical ou "Tergal", sintéticos, uma revolução na região, pois eram tecidos que não se amassavam, fáceis de serem passados a ferro. E os alfaiates fizeram sucesso e alimentaram nossa vaidade masculina. Era o sonho de todos ter uma roupa que não amassasse.
Mas, e as mulheres, que opções tinham, quando precisassem comprar algo pronto, bem produzido, bem acabado?
Bem, ou tinham suas costureiras ou buscavam comprar algo da moda nas casas de comércio então existentes. E, em minha memória, voltam-me as casas comerciais que atendiam minha mãe sempre que precisava de algo: O Bazar da Dona Maria Fávero e a Casa Marilu, na antiga Capinzal, e a Loja da Dona Serafina Andrioni, pelas bandas do Distrito de Ouro.
Minha mãe comprava o que precisava para vestir-nos nessas lojas. Ela gostava de blusas de bouclê, que comprava da Dona Carmen Bridi, na Marilu Modas. Dizia que gostava do atendimento e da simplicidade daquela mulher que, mesmo numa "loja chique", atendia a todas com muito carinho e distinção. Sua loja ficava ali na XV de Novembro, um pouco acima do "Bananeiro", Augusto Hoch, defronte à casa da Dona Tosca Viecelli, por ali.
E, para nós, na loja da Dona Maria Girardi Fávero, (a amiga e vizinha da Tia Clarinda), um bazar com produtos diversificados, em que também vendia "roupas prontas". Ali comprava para si blusinhas de Bon-lon. E, depois, para nós, as camisas "Volta ao Mundo". E, na Dona Serafina Andrioni, as blusas de lã. Eu lembro que, aos 15 anos, fui na Dona Maria, ali logo abaixo do cinema, comprar uma camisa para mim: de cor marfim, com detalhes em azul xadrez. Fiz sucesso com ela... E, na Dona Serafina, precisei de uma blusa, e fui sábado à tarde à casa dela, e ela saiu da cozinha para ir vender-me um blusa cor canela, de gola olímpica. A prestação...
Hoje, os tempos mudaram, os costumes mudaram, há grande ofertas de produtos do vestuário já prontos, para todos os gostos, todas as preferências, todos os bolsos... As famílias de Dona Maria e de Dona Carmen foram embora. A primeira está em Ponta Grossa, a outra em Curitiba. Os filhos saíram para as universidades e não voltaram. As mães foram atrás deles. E a sucessão familiar acabou acontecendo apenas na loja da Dona Serafina Andrioni. Quando faleceu, deixou seu comércio para uma das filhas, a Miraci. Ela a transformou na "Boutique das Lãs". E continua ali, no mesmo lugar, na Felip Schmidt, em Ouro. Construiu uma sala em separado, atrás de seu casarão, entrada pelo lado de uma loja existente.
E a filha de Dona Serafina, a Miraci, continua ali, atendendo, colocando novelos de lã e outros fios nas mãos de nossas trIcoteiras e crocheteiras, que produzem peças maravilhosas. Sempre amável, educada, discreta. Uma pessoa confiável que herdou a simplicidade e a honestidade de sua mãe. Perdeu o marido ainda jovem e encaminhou muito bem a vida de seus filhos, está honrando a memória de sua mãe.
De todas as personagens, ficam-me as lembranças. Foram senhoras que ajudaram muitas mulheres a se apresentarem bonitas, elegantes. Talvez que o resultado de terem-se vestido bem tenha ajudado muitas jovens a chamar a atenção dos rapazes, que acabaram encantando seus namorados, que viraram maridos, e hoje são os avôs que estão por aí, colocando as fotos dos netos no facebook. Essas senhoras ajudaram a fazer a história e, quem sabe, a felicidades de muitas outras. Por isso, minha homenagem a elas. Que Deus guarde bem a Dona Serafina, lá no céu, e dê saúde a longevidade à Dona Maria e à Dona Carmem.
Minha homenagem a elas!
Euclides Riquetti
04-05-2013
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