Distintivo e um dos uniformes do Arabutã FC - Capinzal - SC - com estádio na Baixada Rubra, em Ouro - SC. Tchule e Urco foram atletas e Mário o responsável pela conservação do gramado do seu campo de futebol.
De comum com eles, em alguma época de minha vida vesti a camisa do nosso glorioso Arabutã FC. Os dois primeiros como jogadores e o último como um aficcionado pelo Rubro da Baixada.
Conheci o Tchule ainda na infância, tinha um irmão, o Jânio, que chamávamos de "Chefo". O pai deles chegou a aposentar-se como funcionário da Prefeitura de Ouro. O Tchule era uma figuraça. Quando ria, seus dentes brancos eram bem realçados em sua tez morena. Muito simpático, inteligente, habilidoso com os pés, no futebol, e com as mãos e braços no repicar das baquetas em sua bateria no tempo de "Os Fraudsom". Gostava muito de samba, era muito fera. Trabalhei com ele no Posto Texaco, ali no Ouro, da Família Dambrós. Éramos lavadores e lubrificadores de carros e caminhões. Trabalhávamos muito.
Jogava no Arabutã, era zagueiro central habilidoso, mas sabia jogar nas outras posições. Quando voltei de União da Vitória e fui morar em Zortéa ele apareceu por lá, no tempo em que estive fora havia jogado no Grêmio Lírio. Na mesma época, a notícia de que foi acometido por uma hepatite que, mal curada, levou-o para o mundo dos mortos. Até hoje guardo seu sorriso bonito e sua maneira educada de resolver as coisas. Uma vez emprestei-lhe minha jaqueta branca e ele me emprestou um de cor gelo, ainda quando lavávamos carros. Era a maneira que tínhamos para ir aos bailinhos...
Com o Urco, jogamos bola nos veteranos do Arabutã. Além de lateral esquerdo vigoroso, era um bom marcador. Às vezes atuava na zaga. Era também árbitro da Liga e trabalhava no Serviço de Inspeção Federal na Perdigão, junto com o Bisteca, o Cheiroso e o Kojak. Levou azar o amigo, pois foi acometido de Leucemia. Fez transplante de medula óssea em Santa Maria, RS, mas com o tempo a mesma voltou e ceifou-lhe a vida, deixando os filhos, que foram meus alunos na Escola Sílvio Santos.
O Mário Ferro foi uma das figuras mais folclóricas que conheci. Só usava camisa de vermnelho encarnado, do Arabutã. Na falta de uma, podia ser do Internacional. Trabalhou na conservação do Estádio do Arabutã, era muito caprichoso. Mesmo depois de sair de lá, defendia o clube e o patriomônio como se dele fossem. Aos domingos, ia a pé pela rua de asfalto, meio cambaleando, e chegava ao campo, ficava torcendo de pé, junto ao alambrado. Mesmo não estando perfeitamente sóbrio, sabia tudo o que se passava no gramado. Reclamava do juiz, lamentava as derrotas e invadia o campo após as vitórias.
Muitas vezes, no frio do inverno, de madrugada, batia lá em casa. Não queria nada, não entrava, só queria me comprimentar. E perguntava: "Ondé que tão as geminha? Tão durmindo? E a zoinho preto?" Eu ficava um bom tempo lá com ele e ele pegava seu chapéu de aba larga e ia embora. A vizinhança gostava dele, as crianças gostavam dele. De vez em quando filava uma prato de comida na Dona Ézide Miqueloto e depois de brincar com as crianças, a Caroline, a Michele, o Fabrício, o Maxuel, o Felipe, o Júnior, a Evelyn, a Aquidauana e o Thiago, se mandava. na rua, ia abanando pra todo mundo, conhecia todos e todos o conheciam. Gostava de ir ao sítio do Nízio Dal Pivo, no Pinheiro do Meio, onde era bem tratado e até ajudava a fazer cachaça no alambique. Viveu a maior parte de sua vida sozinho e, quando foi a Joinville ver uma filha, ficou por lá e morreu. Acho que perdeu seu habitat natural...
Três pessoas boas, simples, que muito marcaram a vida de muita gente. Que angariaram a simpatia nossa e das pessoas que os conheceram. Então, no Dia Nacional da Consciência Negra, quero homenageá-los, bem como a todos nossos irmãos afrodescendentes. Estejam com Deus, Tchule, Urco e Ferro!
Euclides Riquetti
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