quarta-feira, 10 de junho de 2015

Jujubinha: "Vovô, faz um mirináiti pra mim?"

          Você sabe o que é um "mirináiti"? Nem eu sei, mas... A história começa na minha adolescência, quando morávamos em Ouro, que ainda pertencia a Capinzal. Morávamos ali na Avenida Felip Schmidt, centro da cidade, perto da "ponte nova", a Ponte Irineu Bornhausen, magnífica e imponente estrutura de  concreto que resiste ao tempo e ao movimento. Movimento acentuado de pesados caminhões!

          Na época, as casas ainda não eram servidas por água tratada. E nossa família, privilegiada, tinha seu poço com "moliner", aquela manivela que acionava um rolete de madeira que era envolvido por uma corda para se tirar água do poço com baldes. Baldes de madeira ou de zinco. Está bem, todos tinham isso! Mas nós tínhamos um motor elétrico que nos ajudava a captar a água de nosso poço e propulsava até a caixa, um daqueles tonéis de 200 litros, bem pintado a óleo. Por isso mesmo éramos privilegiados. Nossa casa, como as demais, tinha sua horta.

           Lembro-me muito bem da horta. Hortas ficam boas e produtivas quando ficam velhas. Isso porque a gente vai enterrando os restos de frutas e comidas pelos canteiros e compostando tudo, tornando-se um material orgânico de alto poder de fertilização. Em nossa horta havia um pé e guajuvira. Isso era um orgulho para nós. Equivalia a ter uma "árvore de estimação". A guajuvira nos permitia fazer excelentes cabos para enxadas, foices, machados, restelos, pás e todas as ferramentas de eu precisávamos. Na minha concepção, ter uma  guajuvira era um baita de um status. Tínhamos também um caquizeiro café, que alguns chamam seus frutos de caqui chocolate. Acho que é caqui café. Meu pai Guerino que plantou.

          Meus pais eram caprichosos com nossa horta, fechada com tela de arame. E nos ensinavam  a cultivar o almeirão, alfaces, repolhos, cebolas, rabanetes, chuchus, maracujás, beterrabas, ervilhas, temperos e chás. E belos tomates! Nunca tivemos muita sorte com cenouras. Tínhamos galinheiro e chiqueirinho. E as galinhas punham ovos caipiras.

          Pois minha mãe, aproveitando que tínhamos ovos e tomates, fazia-nos uma comida de que gostávamos muito. Numa grande frigideira, colocava um pouco de gordura, algumas rodelas de cebolas e levava ao fogão a lenha. Quando as cebolas estivessem amolecidas, acrescentava cerca de uma dúzia de tomates bem graúdos e deixava refogando. Quando estivessem bem cozidos, acrescentava sal e meia dúzia de ovos. Mexia tudo até que os ovos ficassem ao ponto. Isso resultava numa massa de um delicioso amarelo-avermelhado. Misturávamos com o arroz ou com pão. Era uma delícia.

         Fiquei adulto, saí para estudar, constituí família e,  quando as filhas Michele e Caroline estavam por tornar-se adolescentes, lembrei-me daquela deliciosa comida. Minha mãe, Dorvalina, que muitas vezes vinha para ficar com elas quando saíamos para lecionar, me apoiava e passei a fazer para elas. Mas nossa deliciosa comida não tinha um nome. O Fabrício também cresceu comendo-a. E, com o tempo, minhas filhas deram um nome à mesma: "mirináiti". Não sei de onde tiraram a ideia, mas pegou. E continuamos comendo mirináiti até hoje.

          Aliás, tendo voltado de viagem, convidamos a Jujubinha para tomar café conosco hoje de manhã. Ela chegou, olhou-me e lascou: "Vovô, faz um mirináiti pra mim?"

          Ela foi à geladeira e  tirou quatro tomates bem maduros, dois ovos, uma cebola e lavou-os. Eu ajeitei a panela, o sal temperado, a colher de pau e, em poucos minutos, estávamos tomando café com pão recheado de mirináiti. Ela adora! E eu adoro ver como ela se delicia com isso!

Euclides Riquetti
10-06-2015

          

         

Um comentário:

  1. Que legal! Aprendi um prato novo... Obrigada pela receita... Abraço

    Márcia

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