terça-feira, 4 de abril de 2017

Décima Quinta Crônica do Antigamente (Mais sobre o seminarista Guerino Richetti...)

 

http://acervo.camilianos.org.br/files/original/E458.N0405.jpg

Edificações do Seminário São Camilo, na Vila Pompeia, em São Paulo, na década de 1930. Em meio ao arvoredo do jardim, meu pai costumava meditar, na sua juventude.


          Bem, já te  falei, leitora, que meu pai, Guerino Richetti, depois Riquetti, foi seminarista no São Camilo, na Vila Pompeia, em São Paulo. E, que por dar a marretada no dedão do colega noviço Albino, precisou fugir, vivendo clandestinamente, durante dois anos, na Segunda Guerra Mundial, no centro da Capital Paulista.

          Se gostas de Literatura, deves conhecer a história melodramática, com um final inafortunado para os personagens, Eugênio e Margarida, escrita em 1872 pelo mineiro Bernardo Guimarães. Gostavam-se, mas foram separados, ele mandado para um Seminário. Formado padre, volta para sua cidade natal, esperando  rezar sua primeira missa,  e reencontra Margarida, sua inesquecível paixão. Entregam-se, apaixonadamente, numa noite de amor, embora ela esteja com a saúde debilitada. Ao ser convocado para a celebração de sua primeira missa, a encomendação de um corpo, que verifica ser de sua amada. Sai correndo, em direção à porta da igreja, enlouquecido, louco, louco...

          Voltando à história de meu pai, ao fugir do noviciado, foi procurar sua madrinha. Todo o seminarista, em qualquer cidade, tem sua madrinha, que lhe lava as roupas, manda-lhe um bolo no aniversário, e que até o leva para almoçar em sua casa alguma vez por ano. Ela o recebeu, ouviu sua história e, com cumplicidade, acolheu-o e protegeu-o. Arrumou-lhe empregos, um de padeiro, entregador de pães, com cesta e bicicleta, e outro de ajudante de açougueiro, entregador de carnes com uma charrete. Não sei qual foi o primeiro, pois o perdi em 1977, quando ele tinha 55 anos e eu nem completara meus 25 ainda. Era a hora em que eu estava começando a aproximar-me mais dele, pois voltara da Faculdade, formado, com família, morando perto, em Duas Pontes, hoje município de Zortéa. Voltei em fevereiro, ele se foi em 18 de junho, nos vimos algumas vezes, ele muito debilidtado e passando a maior parte do tempo em Florianópolis, internado no Hospital de Caridade. Num momento favorável de minha vida ele nos deixou...

           Contara-me, em minha infância, algumas histórias fascinantes sobre o avô dele, Pachoal Richetti, que foi criado no orfanato de Veneza, onde foi parar aos dois anos de idade, em meados do Século XIX, após ter sua família dizimada em uma guerra. Contara-me sobre as malandragens no seminário, onde tinha que esconder alguma moeda que tivesse ganho, pois os padres não queriam que tivesse dinheiro. Uma vez jogara uma pela janela, no gramado, para que não lha tirassem, e nunca mais achou...Contara-me sobre a vez que, com sua bicicleta, atingiu uma senhora em meio às pernas, rasgando-lhe a saia, e teve que abandonar a bicicleta do patrão, para não ser preso, pois não se alistara para a Guerra, sendo os seminaristas e padres dispensados do serviço militar, mas que ele fora denunciado pelos padres, em razão da fuga. Não sendo mais seminarista, deveria alistar-se, e ele nem documentos tinha. Assim, viveu e trabalhou, clandestinamente, em São Paulo, por dois anos, após 9 de seminário.

          O seminário era localizado distante uma seis quadras do Palestra Itália, hoje Palmeiras, que era o time para o qual os padres italianos torciam. E os seminsristas assistiam jogos gratuitamente, pois até a dentista do seminário (mulher, naquele tempo, já era dentista, vejam...) e ela tinha dois irmãos, de sobrenome Mazzilli, que jogavam no Palestra. meu pai viu construírem o Palestra Itália, um jardim suspenso (pesquisem sobre isso), e o Estádio do Pacaembu, que, segundo ele, se situou sobre o rio Pacaembu, sei lá se canalizado ou aterrado.

          Eram vizinhos de um cidadão muito ilustre, o maior empreendedor brasileiro de todos os tempos, o Conde Francesco Matarazzo, dono de um império industrial fabuloso, que até mandara dólares americanos para que a Itália se sustentasse durante a Primeira Guerra Mundial. E que faleceu em 1937, quando meu pai tinha 14 anos. Mas a história do meu pai e seus amigos com o Comendador Matarazzo eu contarei numa crônica próxima, pois agora, neste momento, não posso, não conseguiria, porque estou com vontade de chorar...

Euclides Riquetti
02-04-2012

          Bem, já te  falei, leitora, que meu pai, Guerino Richetti, depois Riquetti, foi seminarista no São Camilo, na Vila Pompeia, em São Paulo. E, que por dar a marretada no dedão do colega noviço Albino, precisou fugir, vivendo clandestinamente, durante dois anos, na Segunda Guerra Mundial, no centro da Capital Paulista.

          Se gostas de Literatura, deves conhecer a história melodramática, com um final inafortunado para os personagens, Eugênio e Margarida, escrita em 1872 pelo mineiro Bernardo Guimarães. Gostavam-se, mas foram separados, ele mandado para um Seminário. Formado padre, volta para sua cidade natal, esperando  rezar sua primeira missa,  e reencontra Margarida, sua inesquecível paixão. Entregam-se, apaixonadamente, numa noite de amor, embora ela esteja com a saúde debilitada. Ao ser convocado para a celebração de sua primeira missa, a encomendação de um corpo, que verifica ser de sua amada. Sai correndo, em direção à porta da igreja, enlouquecido, louco, louco...

          Voltando à história de meu pai, ao fugir do noviciado, foi procurar sua madrinha. Todo o seminarista, em qualquer cidade, tem sua madrinha, que lhe lava as roupas, manda-lhe um bolo no aniversário, e que até o leva para almoçar em sua casa alguma vez por ano. Ela o recebeu, ouviu sua história e, com cumplicidade, acolheu-o e protegeu-o. Arrumou-lhe empregos, um de padeiro, entregador de pães, com cesta e bicicleta, e outro de ajudante de açougueiro, entregador de carnes com uma charrete. Não sei qual foi o primeiro, pois o perdi em 1977, quando ele tinha 55 anos e eu nem completara meus 25 ainda. Era a hora em que eu estava começando a aproximar-me mais dele, pois voltara da Faculdade, formado, com família, morando perto, em Duas Pontes, hoje município de Zortéa. Voltei em fevereiro, ele se foi em 18 de junho, nos vimos algumas vezes, ele muito debilidtado e passando a maior parte do tempo em Florianópolis, internado no Hospital de Caridade. Num momento favorável de minha vida ele nos deixou...

           Contara-me, em minha infância, algumas histórias fascinantes sobre o avô dele, Pachoal Richetti, que foi criado no orfanato de Veneza, onde foi parar aos dois anos de idade, em meados do Século XIX, após ter sua família dizimada em uma guerra. Contara-me sobre as malandragens no seminário, onde tinha que esconder alguma moeda que tivesse ganho, pois os padres não queriam que tivesse dinheiro. Uma vez jogara uma pela janela, no gramado, para que não lha tirassem, e nunca mais achou...Contara-me sobre a vez que, com sua bicicleta, atingiu uma senhora em meio às pernas, rasgando-lhe a saia, e teve que abandonar a bicicleta do patrão, para não ser preso, pois não se alistara para a Guerra, sendo os seminaristas e padres dispensados do serviço militar, mas que ele fora denunciado pelos padres, em razão da fuga. Não sendo mais seminarista, deveria alistar-se, e ele nem documentos tinha. Assim, viveu e trabalhou, clandestinamente, em São Paulo, por dois anos, após 9 de seminário.

          O seminário era localizado distante uma seis quadras do Palestra Itália, hoje Palmeiras, que era o time para o qual os padres italianos torciam. E os seminsristas assistiam jogos gratuitamente, pois até a dentista do seminário (mulher, naquele tempo, já era dentista, vejam...) e ela tinha dois irmãos, de sobrenome Mazzilli, que jogavam no Palestra. meu pai viu construírem o Palestra Itália, um jardim suspenso (pesquisem sobre isso), e o Estádio do Pacaembu, que, segundo ele, se situou sobre o rio Pacaembu, sei lá se canalizado ou aterrado.

          Eram vizinhos de um cidadão muito ilustre, o maior empreendedor brasileiro de todos os tempos, o Conde Francesco Matarazzo, dono de um império industrial fabuloso, que até mandara dólares americanos para que a Itália se sustentasse durante a Primeira Guerra Mundial. E que faleceu em 1937, quando meu pai tinha 14 anos. Mas a história do meu pai e seus amigos com o Comendador Matarazzo eu contarei numa crônica próxima, pois agora, neste momento, não posso, não conseguiria, porque estou com vontade de chorar...

Euclides Riquetti
02-04-2012

 De minha série de reprises...
          Bem, já te  falei, leitora, que meu pai, Guerino Richetti, depois Riquetti, foi seminarista no São Camilo, na Vila Pompeia, em São Paulo. E, que por dar a marretada no dedão do colega noviço Albino, precisou fugir, vivendo clandestinamente, durante dois anos, na Segunda Guerra Mundial, no centro da Capital Paulista.

          Se gostas de Literatura, deves conhecer a história melodramática, com um final inafortunado para os personagens, Eugênio e Margarida, escrita em 1872 pelo mineiro Bernardo Guimarães. Gostavam-se, mas foram separados, ele mandado para um Seminário. Formado padre, volta para sua cidade natal, esperando  rezar sua primeira missa,  e reencontra Margarida, sua inesquecível paixão. Entregam-se, apaixonadamente, numa noite de amor, embora ela esteja com a saúde debilitada. Ao ser convocado para a celebração de sua primeira missa, a encomendação de um corpo, que verifica ser de sua amada. Sai correndo, em direção à porta da igreja, enlouquecido, louco, louco...

          Voltando à história de meu pai, ao fugir do noviciado, foi procurar sua madrinha. Todo o seminarista, em qualquer cidade, tem sua madrinha, que lhe lava as roupas, manda-lhe um bolo no aniversário, e que até o leva para almoçar em sua casa alguma vez por ano. Ela o recebeu, ouviu sua história e, com cumplicidade, acolheu-o e protegeu-o. Arrumou-lhe empregos, um de padeiro, entregador de pães, com cesta e bicicleta, e outro de ajudante de açougueiro, entregador de carnes com uma charrete. Não sei qual foi o primeiro, pois o perdi em 1977, quando ele tinha 55 anos e eu nem completara meus 25 ainda. Era a hora em que eu estava começando a aproximar-me mais dele, pois voltara da Faculdade, formado, com família, morando perto, em Duas Pontes, hoje município de Zortéa. Voltei em fevereiro, ele se foi em 18 de junho, nos vimos algumas vezes, ele muito debilidtado e passando a maior parte do tempo em Florianópolis, internado no Hospital de Caridade. Num momento favorável de minha vida ele nos deixou...

           Contara-me, em minha infância, algumas histórias fascinantes sobre o avô dele, Pachoal Richetti, que foi criado no orfanato de Veneza, onde foi parar aos dois anos de idade, em meados do Século XIX, após ter sua família dizimada em uma guerra. Contara-me sobre as malandragens no seminário, onde tinha que esconder alguma moeda que tivesse ganho, pois os padres não queriam que tivesse dinheiro. Uma vez jogara uma pela janela, no gramado, para que não lha tirassem, e nunca mais achou...Contara-me sobre a vez que, com sua bicicleta, atingiu uma senhora em meio às pernas, rasgando-lhe a saia, e teve que abandonar a bicicleta do patrão, para não ser preso, pois não se alistara para a Guerra, sendo os seminaristas e padres dispensados do serviço militar, mas que ele fora denunciado pelos padres, em razão da fuga. Não sendo mais seminarista, deveria alistar-se, e ele nem documentos tinha. Assim, viveu e trabalhou, clandestinamente, em São Paulo, por dois anos, após 9 de seminário.

          O seminário era localizado distante uma seis quadras do Palestra Itália, hoje Palmeiras, que era o time para o qual os padres italianos torciam. E os seminsristas assistiam jogos gratuitamente, pois até a dentista do seminário (mulher, naquele tempo, já era dentista, vejam...) e ela tinha dois irmãos, de sobrenome Mazzilli, que jogavam no Palestra. meu pai viu construírem o Palestra Itália, um jardim suspenso (pesquisem sobre isso), e o Estádio do Pacaembu, que, segundo ele, se situou sobre o rio Pacaembu, sei lá se canalizado ou aterrado.

          Eram vizinhos de um cidadão muito ilustre, o maior empreendedor brasileiro de todos os tempos, o Conde Francesco Matarazzo, dono de um império industrial fabuloso, que até mandara dólares americanos para que a Itália se sustentasse durante a Primeira Guerra Mundial. E que faleceu em 1937, quando meu pai tinha 14 anos. Mas a história do meu pai e seus amigos com o Comendador Matarazzo eu contarei numa crônica próxima, pois agora, neste momento, não posso, não conseguiria, porque estou com vontade de chorar...

Euclides Riquetti
02-04-2012
   

Décima Quinta Crônica do Antigamente (O Seminarista...)

 De minha série de reprises...
          Bem, já te  falei, leitora, que meu pai, Guerino Richetti, depois Riquetti, foi seminarista no São Camilo, na Vila Pompeia, em São Paulo. E, que por dar a marretada no dedão do colega noviço Albino, precisou fugir, vivendo clandestinamente, durante dois anos, na Segunda Guerra Mundial, no centro da Capital Paulista.

          Se gostas de Literatura, deves conhecer a história melodramática, com um final inafortunado para os personagens, Eugênio e Margarida, escrita em 1872 pelo mineiro Bernardo Guimarães. Gostavam-se, mas foram separados, ele mandado para um Seminário. Formado padre, volta para sua cidade natal, esperando  rezar sua primeira missa,  e reencontra Margarida, sua inesquecível paixão. Entregam-se, apaixonadamente, numa noite de amor, embora ela esteja com a saúde debilitada. Ao ser convocado para a celebração de sua primeira missa, a encomendação de um corpo, que verifica ser de sua amada. Sai correndo, em direção à porta da igreja, enlouquecido, louco, louco...

          Voltando à história de meu pai, ao fugir do noviciado, foi procurar sua madrinha. Todo o seminarista, em qualquer cidade, tem sua madrinha, que lhe lava as roupas, manda-lhe um bolo no aniversário, e que até o leva para almoçar em sua casa alguma vez por ano. Ela o recebeu, ouviu sua história e, com cumplicidade, acolheu-o e protegeu-o. Arrumou-lhe empregos, um de padeiro, entregador de pães, com cesta e bicicleta, e outro de ajudante de açougueiro, entregador de carnes com uma charrete. Não sei qual foi o primeiro, pois o perdi em 1977, quando ele tinha 55 anos e eu nem completara meus 25 ainda. Era a hora em que eu estava começando a aproximar-me mais dele, pois voltara da Faculdade, formado, com família, morando perto, em Duas Pontes, hoje município de Zortéa. Voltei em fevereiro, ele se foi em 18 de junho, nos vimos algumas vezes, ele muito debilidtado e passando a maior parte do tempo em Florianópolis, internado no Hospital de Caridade. Num momento favorável de minha vida ele nos deixou...

           Contara-me, em minha infância, algumas histórias fascinantes sobre o avô dele, Pachoal Richetti, que foi criado no orfanato de Veneza, onde foi parar aos dois anos de idade, em meados do Século XIX, após ter sua família dizimada em uma guerra. Contara-me sobre as malandragens no seminário, onde tinha que esconder alguma moeda que tivesse ganho, pois os padres não queriam que tivesse dinheiro. Uma vez jogara uma pela janela, no gramado, para que não lha tirassem, e nunca mais achou...Contara-me sobre a vez que, com sua bicicleta, atingiu uma senhora em meio às pernas, rasgando-lhe a saia, e teve que abandonar a bicicleta do patrão, para não ser preso, pois não se alistara para a Guerra, sendo os seminaristas e padres dispensados do serviço militar, mas que ele fora denunciado pelos padres, em razão da fuga. Não sendo mais seminarista, deveria alistar-se, e ele nem documentos tinha. Assim, viveu e trabalhou, clandestinamente, em São Paulo, por dois anos, após 9 de seminário.

          O seminário era localizado distante uma seis quadras do Palestra Itália, hoje Palmeiras, que era o time para o qual os padres italianos torciam. E os seminsristas assistiam jogos gratuitamente, pois até a dentista do seminário (mulher, naquele tempo, já era dentista, vejam...) e ela tinha dois irmãos, de sobrenome Mazzilli, que jogavam no Palestra. meu pai viu construírem o Palestra Itália, um jardim suspenso (pesquisem sobre isso), e o Estádio do Pacaembu, que, segundo ele, se situou sobre o rio Pacaembu, sei lá se canalizado ou aterrado.

          Eram vizinhos de um cidadão muito ilustre, o maior empreendedor brasileiro de todos os tempos, o Conde Francesco Matarazzo, dono de um império industrial fabuloso, que até mandara dólares americanos para que a Itália se sustentasse durante a Primeira Guerra Mundial. E que faleceu em 1937, quando meu pai tinha 14 anos. Mas a história do meu pai e seus amigos com o Comendador Matarazzo eu contarei numa crônica próxima, pois agora, neste momento, não posso, não conseguiria, porque estou com vontade de chorar...

Euclides Riquetti
02-04-2012
           Bem, já te  falei, leitora, que meu pai, Guerino Richetti, depois Riquetti, foi seminarista no São Camilo, na Vila Pompeia, em São Paulo. E, que por dar a marretada no dedão do colega noviço Albino, precisou fugir, vivendo clandestinamente, durante dois anos, na Segunda Guerra Mundial, no centro da Capital Paulista.

          Se gostas de Literatura, deves conhecer a história melodramática, com um final inafortunado para os personagens, Eugênio e Margarida, escrita em 1872 pelo mineiro Bernardo Guimarães. Gostavam-se, mas foram separados, ele mandado para um Seminário. Formado padre, volta para sua cidade natal, esperando  rezar sua primeira missa,  e reencontra Margarida, sua inesquecível paixão. Entregam-se, apaixonadamente, numa noite de amor, embora ela esteja com a saúde debilitada. Ao ser convocado para a celebração de sua primeira missa, a encomendação de um corpo, que verifica ser de sua amada. Sai correndo, em direção à porta da igreja, enlouquecido, louco, louco...

          Voltando à história de meu pai, ao fugir do noviciado, foi procurar sua madrinha. Todo o seminarista, em qualquer cidade, tem sua madrinha, que lhe lava as roupas, manda-lhe um bolo no aniversário, e que até o leva para almoçar em sua casa alguma vez por ano. Ela o recebeu, ouviu sua história e, com cumplicidade, acolheu-o e protegeu-o. Arrumou-lhe empregos, um de padeiro, entregador de pães, com cesta e bicicleta, e outro de ajudante de açougueiro, entregador de carnes com uma charrete. Não sei qual foi o primeiro, pois o perdi em 1977, quando ele tinha 55 anos e eu nem completara meus 25 ainda. Era a hora em que eu estava começando a aproximar-me mais dele, pois voltara da Faculdade, formado, com família, morando perto, em Duas Pontes, hoje município de Zortéa. Voltei em fevereiro, ele se foi em 18 de junho, nos vimos algumas vezes, ele muito debilidtado e passando a maior parte do tempo em Florianópolis, internado no Hospital de Caridade. Num momento favorável de minha vida ele nos deixou...

           Contara-me, em minha infância, algumas histórias fascinantes sobre o avô dele, Pachoal Richetti, que foi criado no orfanato de Veneza, onde foi parar aos dois anos de idade, em meados do Século XIX, após ter sua família dizimada em uma guerra. Contara-me sobre as malandragens no seminário, onde tinha que esconder alguma moeda que tivesse ganho, pois os padres não queriam que tivesse dinheiro. Uma vez jogara uma pela janela, no gramado, para que não lha tirassem, e nunca mais achou...Contara-me sobre a vez que, com sua bicicleta, atingiu uma senhora em meio às pernas, rasgando-lhe a saia, e teve que abandonar a bicicleta do patrão, para não ser preso, pois não se alistara para a Guerra, sendo os seminaristas e padres dispensados do serviço militar, mas que ele fora denunciado pelos padres, em razão da fuga. Não sendo mais seminarista, deveria alistar-se, e ele nem documentos tinha. Assim, viveu e trabalhou, clandestinamente, em São Paulo, por dois anos, após 9 de seminário.

          O seminário era localizado distante uma seis quadras do Palestra Itália, hoje Palmeiras, que era o time para o qual os padres italianos torciam. E os seminsristas assistiam jogos gratuitamente, pois até a dentista do seminário (mulher, naquele tempo, já era dentista, vejam...) e ela tinha dois irmãos, de sobrenome Mazzilli, que jogavam no Palestra. meu pai viu construírem o Palestra Itália, um jardim suspenso (pesquisem sobre isso), e o Estádio do Pacaembu, que, segundo ele, se situou sobre o rio Pacaembu, sei lá se canalizado ou aterrado.

          Eram vizinhos de um cidadão muito ilustre, o maior empreendedor brasileiro de todos os tempos, o Conde Francesco Matarazzo, dono de um império industrial fabuloso, que até mandara dólares americanos para que a Itália se sustentasse durante a Primeira Guerra Mundial. E que faleceu em 1937, quando meu pai tinha 14 anos. Mas a história do meu pai e seus amigos com o Comendador Matarazzo eu contarei numa crônica próxima, pois agora, neste momento, não posso, não conseguiria, porque estou com vontade de chorar...

Euclides Riquetti
02-04-2012

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