Passados os
primeiros dias após a volta da circulação dos caminhões nas rodovias, vê-se a
escalada de preços de alguns produtos, principalmente nos hortigranjeiros. Mas,
também, pude observar o critério com que as pessoas procuram os produtos nos mercados,
selecionando o que lhes é conveniente comprar. Olham os preços, fazem cara
feia, não levam os produtos, ou compram bem menos do que são acostumadas,
buscam alternativas, substituindo um produto por outro.
Conversando com
essas pessoas, é possível ver o quanto entendem de economia. Mais do que muitos
economistas teóricos. Compreendem a Lei da Oferta e da Procura como poucos. Há
a oferta já, normal, mas os preços estão acima dos que conheciam antes da
crise. Então, compram menos do que costumavam, escolhem produtos que estão já
há alguns meses nas prateleiras. Pequenas mudanças de hábito que lhes farão bem
ao bolso.
Ainda, é
possível ver que há bem menos carros andando nas ruas. O preço alto da
gasolina, para os postos onde abasteço quarenta centavos a maior, nos indicam
aumento de 10%. Isso é muito. E, num ano, a gasolina ficou 50% mais cara. Se o
dólar subiu 10 12 por cento, se o petróleo subiu 20 ou 25%, o reajuste do preço
dos combustíveis foi desproporcional.
O Brasil, segundo
o ex-ministro Delfin Neto, incentivou, a partir de 2009, o crescimento da frota
dos caminhões, facilitando os financiamentos com juros baixos e isentando
impostos, prevendo um crescimento da economia em 4% ao ano, o que não
aconteceu. Então, a oferta de fretes aumentou acima do que foi a necessidade de
caminhões para transportar os produtos, fazendo com que houvesse a queda dos
preços dos fretes. Agora, o Governo tenta ajustar a economia com intervenção
legal, não de acordo com o comportamento do mercado. E isso poderá ser fatal
para o Brasil.
Em 1972,
participei de palestras com um superintendente da Petrobras de São Mateus do
Sul, onde se implantava a industrialização do xisto. Eu tinha vários colegas de
classe, na faculdade, que trabalhavam na usina, tanto na operação quanto na
administração. O Brasil buscava ser auto-suficiente, o planejamento era nesse
sentido. Depois vieram os programas de produção de álcool, e a melhoria do
padrão do transporte ferroviário e do de cabotagem. Mas houve um descuido
governamental e o transporte rodoviário de cargas, consumindo o óleo diesel,
passou para mais de 65%. Fala-se em até 80%. Erros de planejamento, decisões
políticas erradas, má gestão da Petrobrás, corrupção, etc.
Além da
complexidade de todo o sistema de prospecção, retirada e produção do petróleo,
há a logística da distribuição dos combustíveis, a alta tributação, os lucros e
uma série de interesses contabilizáveis. Certas, estão as donas de casa que
estão comprando com muito critério. Certos estão os que estão andando um pouco
mais a é ou de ônibus, para comprar menos combustível. E o Governo que faça sua
parte, replanejando a produção de energia, cuidando dos programas de
implantação de usinas hidrelétricas, abrindo a possibilidade de implantação de
ferrovias através de PPPs, repactuando os contratos de concessão de rodovias
pedagiadas, e as montadoras produzindo caminhões o em número adequado às
necessidades brasileiras. Há outras medidas que você, leitor, deve conhecer e
que sabe que podem a ajudar. Estamos presenciando uma severa mudança de
comportamento da sociedade.
Euclides Riquetti – Escritor – Membro da ALB/SC
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