Não sei por que chamam os barbeiros de barbeiros. Ora, poucos são os que vão às barbearias para cortar a barba. Vão, sim, para cortar o cabelo. Antigamente havia preconceitos contra cabeleireiros, acho que era por isso. E a maioria dos homens, hoje, prefere cortar seus cabelos com as cabeleireiras. Muitas mulheres preferem cabeleireiros. Então tudo está empate. Eu pouco me importo, corto o meu pelo menos duas vezes por semana, sagradinho, eu mesmo, enquanto tomo banho. Às vezes três, é uma questão de hábito...
Antigamente, e eu sou bem antigo, eu não gostava de ir ao barbeiro por alguns motivos: primeiro, porque cortavam os cabelos com aquelas máquinas metálicas, e doía. Pouco usavam as tesouras. Tesoura era mais para quem tinha cabelão de galã. Nós, crianças, tínhamos que nos contentar com um corte bem raso. E deixavam um topete na frente, este sim moldado pela tesoura. Era um corte militar, como o dos soldados. Os italianos, lá da roça, chamávamos esse topete de "sthufet. Para mim, um sthufet é um montinho de cabelos na frente, na testa. E também porque eu tinha medo da navalha que usavam para o acabamento, os aparos finais. Parecia que iriam cortar meu pescoço fora. Eu tinha medo.
O mais famoso topete de que se ouviu falar foi o do Presidente Itamar Franco. Uma vez o topete dele ficou muito comentado porque, junto com o topete, esticou os olhos para olhar para uma certa modelo que estava com ele num camarote de carnaval, acho que no Rio de Janeiro. (Ele não faria isso em Juiz de Fora...) Um fotógrafo, esperto, flagrou uma pontinha, só uma pontinha bem tiquitinha de uma peça da roupa de baixo da "peça", e foi uma azaração só. Zoaram muito daquela situação, mas a moça teve seus minutos de fama. E não foram apenas quinze, porque, adiante ela tirou umas fotos para uma revista...e ficou famosa até que ele deixou o cargo.
Lembro com saudades dos meus barbeiros: O Estefenito, no Leãozinho. Meu pai, na Linha Bonita e na cidade, cortava os cabelos dos amigos por puro amadorismo, não cobrava nada. Quando cresci, fui cliente do Alcides Spielmann e do Surdi, que atendia lá no "redondo", perto da Igreja de Capinzal. Na Barbearia do Spielmann, ele tinha um quadrinho na parede com uma gravura em que aparecia o "Amigo da Onça", personagem assinada pelo Stanislaw Ponte Preta. O Amigo da Onça era um barbeiro e estava com a navalha na mão, cortando a barba de um cliente, que olhava asustado. Pudera, ele olhava para um totó e dizia: "Calma, Totó, vai sobrar um pedaço de orelhinha pra você também"! Era mais ou menos isso. O Spielmann nos contava belas histórias, entretinha os que estavam na espera da vez.
Em Capinzal, ali na esquina da XV com a Ernesto Hachmann, havia a Barbearia do Eurides Gomes da Silva. Era um barbeiro muito gentil também. Dava conselho para nós, jovens e sempre tinha uma filosofia nova para incutir. Seu auxiliar era o Maneco. Mais tarde, o Schwantes, que era nosso inquilino, foi trabalhar com eles. Aos fundos havia uma sala de jogos de mesa. O melhor jogador era o Roque Manfredini. Visitei ele aqui em Porto União nesta tarde. Está vizinho de seu irmão Alvadi e do Fernando Martini, meu colega de chapa no Diretório da Fafi. Sua alma está lá em cima. Mas eles agora são vizinhos aqui. A Barbearia do Eurides era um lugar simples, mas muito bom para passar o tempo. Os anos passaram e essas pessoas também passaram, foram morar lá em cima. Que pena!
Quando vim morar em União da Vitória, meus colegas da República Esquadrão da Vida já foram me orientando: Melhor lugar para cortar cabelo, aqui, é no Salão dos Estudantes, perto do Hotel Flórida. Recebi trote atrasado na Faculdade e no outro dia, cedo, fui raspar o cabelo naquele salão. Virei cliente. Foi bom porque meu cabelo deixou de ser liso e ficou encaracolado. Eu me sentia o tal! Até arrumei uma namorada e casei com ela. Passei por lá hoje e conversei com um barbeiro. Está trabalhando do Salão do Estudante desde 1977, justamente o ano que saí da cidade.
Quando o Spielmann morreu, seu salãozinho passou a ser atendido pelo Sr. Calgaro, que veio de Curitiba. O Calgaro também era muito calmo e tinha boas histórias para nos contar. Ficamos amigos. Quando ele partiu, jovem, seu filho Neguito, o Adriano, o sucedeu. Ele e a sua mãe atendem até hoje.
Uma das características indispensáveis para um barbeiro ou uma cabelereira é ser um bom papo. Estar atualizado (a) ajuda a manter uma boa conversa. Mas não é só isso, tem ser muito bom em seu serviço. Precisa ser um bom exemplo, estar bem cuidado, elegante. Quem os procura vai porque quer ser sentir mais atraente, mais bonito. Isso vale tanto para ele quanto para ela.
As mulheres sabem que um lugar para ficar sabendo "o que vai pela cidade" é nos salões de estética. Lá se sabe de tudo. O que elas não sabem é que nos salões para os homens ou barbearias os assuntos são os mesmos! Nós também ficamos sabendo muito sobre elas...
Euclides Riquetti
Redigido em União da Vitória, PR, em
07-02-2013
07-02-2013
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