domingo, 4 de maio de 2025

Pão quente! Saudosas lembranças

 


 


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Foto meramente ilustrativa
     
          O dia  não vira, ainda, os primeiros claros do sol que deveria vir de Leste. As pessoas já andavam pelas ruas em sua ida para o trabalho, quando a fábrica da Pagnoncelli Hachmann abria sua estrondosa buzina a vapor, anunciando à cidade e a seus funcionários a hora do início de seu trabalho. Algumas senhoras emoldurando a cabeça com uma fita vermelha ao pescoço, que pertenciam ao "Apostolado da Oração", dirigiam-se à Matriz São Paulo Apóstolo para a Missa das Seis que seria celebrada pelo Frei Gilberto. As crianças nem tinham saído de suas casas para tomarem o caminho de suas escolas.. O frio da noite inibira até os animais de emitirem seus uivos, piados, grasnados  e mugidos. Apenas um ou outro galo liberava o canto na garganta. Era ainda madrugada...

         O silêncio era quebrado apenas pelo toque-toque das ferraduras nos cascos de um cavalo zaino que vinha em marcha bem ritmada pela "ponte nova", tracionando uma charrete. E algumas senhoras desciam até as proximidades da ponte, ali defronte a Indústria de Bebidas Prima,  portando suas cestinhas ou esportas confecionadas com palha de trigo. Objetivo: comprar pão sovado, da Padaria do  Cadorim, a única existente no primeiro quarto da década de 1960.

          Lembro da época como se fosse hoje. Fiz até amizade com o padeiro, que depois virou meu colega de aula na Escola Técnica de Comércio Capinzal: Artêmio Tonial, o Padeiro. Adiante, foi sucedido pelo Alcebides Soccol. A cidade se habituava a essas pessoas que traziam alegria em forma de pão quentinho...

          E lembrar do pão que vinha na  caixa de madeira portada pela charrete faz-me volver  o pensamento para aquela cidade bucólica de nosso Vale do Rio do Peixe, com a praticamente ausência de veículos nas ruas naquelas horas da manhã. Apenas um ou outro caminhão carregado de toras de madeira para alimentar as serrarias. Quando acabava nossa fornada de pão caseiro meu pai ia,  às sextas-feiras, esperar pelo pão de padeiro. Era uma alegria comer aquele "sovadinho". Depois,meu pai e eu tomávamos o mesmo rumo naquelas saudosas manhãs: o Colégio Mater Dolórum, onde eu frequentava o Terceiro Ano Primário, tendo como professora a Dona Marli Sartori. E meu pai o Normal, em nível do atual Ensino Médio, que naquela tempo chamavam de Segundo Ciclo Secundário.

       E ele era o único dentre duas dezenas de mulheres. Ainda lembro de seu quadro de formatura e de algumas pessoas que tinham sua foto nele: Vanda Faggion Bazzo, Dr. Nelson de Souza Infeld e algumas freiras. E, como colegas, Luinês Soares, Inês Dalpisol, Estela Flâmia, Lourdes Eide Fronza, Doraci Infeld, dentre outras.

          Os anos foram passando, as coisas mudaram muito. As cidades entopetaram-se de carros, multiplicaram-se as padarias, mercearias, mercados. Inventaram mil e uma receitas, todas muito deliciosas. A cada dia inventam maravilhosos novos produtos nas confeitarias e padarias.  Mas há duas coisas insubstituíveis em minha cabeça e meu coração: O cheirinho do pão quente saído do forno a lenha que minha mãe fazia  e a maciez do pão sovado do Cadorim, que o Artêmio e o Bide nos traziam na charreta do cavalo zaino. Isso é impagável...

Euclides Riquetti
22-05-2013

Um comentário:

  1. Lendo sua crônica lembro-me com muita saudade desse tempo. Nunca me esqueço, o ano era 1962 quando, da singela escolinha da turma do Avaí, vim para capinzal e ingressei no terceiro ano primário, no Grupo Escolar Belisário Pena.
    A diferença foi brutal, levei um susto, até porque tinha um grupinho, os mais fortes, que gostavam de judiar os mais fracos do qual eu fazia parte.
    A professora era dona Carmem Almeida - muito boa professora.
    Estudava comigo na época, José Luiz Cadorin, filho de Ilivo e Lúcia, donos da padaria a que você se referre .
    Frequentei muito a casa do meu amigo José Luiz e a dona Lúcia, quando eu ia lá, sempre nos oferecia biscoitos fresquinhos e um pãozinho quente, Era uma delícia.
    Quem entregava o pão pela cidade era um parente nosso, o Santo Bonadiman, que morava nos fundos do Belisário Pena. Ele trabalhou muitos anos com os cadorin,
    Tenho muitas lembranças boas desse tempo, mas o cheiro de pão quente da padaria dos Cadorin ficou impregnado em minha alma.

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