Reeditando:
Rádio Semp
Clementino Anzolin tem 87 anos e mora em Erechim, no vizinho estado do Rio Grande do Sul. Valério Dal Cortivo tem 84 anos e mora em Joaçaba, aqui pertinho de casa. Quando estraga algum aparelho eletro-eletrônico, levo para ele, deixo lá e quando busco, está consertado. E funcionando perfeitamente.
Pessoas como o Tio Clementino e o Tio Valério, que na verdade é primo e não tio, mas o respeito me leva a tratá-lo como tio, são figuras em extinção por aqui. Aprenderam seus ofícios na adolescência, até hoje fazem seu trabalho com dedicação, mais por prazer do que por necessidade.
Clementino tem uma oficina de consertos de motosserras na Rua Sarandi, 500 metros longe da Avenida Maurício Cardoso, no centro de Erechim. É irmão de minha sogra. Perdeu os pais quando tinha 5 anos apenas (o pai com 34 e a mãe com 32 anos). Tinha um irmão, João Anzolin, dois anos mais velho, o qual faleceu há dois anos. Uma irmã, Anita, dois anos mais nova, minha sogra, que mora na Meia-Praia, em Itapema. E dois irmãos que são gêmeos, Francisco e Luiz, de Capo Erê. O Chico faleceu há menos de dois anos.
A oficina do Seu Clementino fica aos fundos de sua casa. Lá ele tem toda a sorte de ferramentas que foi comprando durante quase que sete décadas. Uma verdadeira coleção, de todos os tamanhos e para todos os serviços. Muitas vezes, começa a trabalhar às seis da manhã, pois tem muito serviço a fazer. Ele costuma me mostrar as peças das motosserras, opina sobre o material de cada uma. E, quando uma peça nova custa caro, ele mesmo fabrica as peças. Na última vez em que lá estive, estava fazendo uma peça utilizando nylon. Diz que é muito resistente e ele consegue passar para o cliente por metade do preço do que uma unidade importada. Mostra-me a falta de cuidado que as pessoas têm para com suas motosserras. A maioria das vezes, os danos vêm pela falta de prática no seu manuseio ou pelo desleixo com que é cuidada. Na juventude, era mecânico de motociclos, motocicletas. Era exímio piloto de motocicletas Jawa. Milhares de motociclos e motosserras passaram pelas mãos habilidosas dele.
Como seus filhos tomaram rumos diferentes do seu, não tem sucessores em vista. Diz que o Juliano, sobrinho dele, filho do Tio João, é o que tem mais interesse, mas que trabalha como matrizeiro numa fundição e que não teria tempo para trabalhar com ele. Acho que, merecidamente, todo aquele arsenal irá acabando, merecidamente, nas mãos do Juliano, que sabe dos ofícios quase que tanto quanto seu tio.
O Seu Valério, marido da Dona Terezinha, que costura fantasias para uma escola de samba aqui de Joaçaba, por sua vez, fez e tudo na vida. Foi colono em Nova Petrópolis, gaiteiro (tocou muitos bailes na região...), alfaiate, inventor, mecânico de máquinas de costura, aposentou-se como eletricista. Tem sua oficina num dos compartimentos de sua casa, aqui na Rua Albino Sganzerla. Menos de 100 metros de minha casa. Nas prateleiras, na mesa e, mesmo penduradas pelas paredes, têm ferramentas e objetos os mais diversos. Na última vez que estive lá, levei meu rádio Motorbras que ganhei há poucos meses. Fez testes, disse-me que havia algo de errado na condução da voz para o alto-falante. Quando lá retornei, recebeu-me sorrindo e disse que "o doente estava curado"! Liguei-o e estava tudo uma maravilha. Outra vez, levei uma furadeira que diziam, nas especializadas, que não tinha mais conserto. Ele fez uma peça para substituir a que estava com desgaste e deixou tudo funcionando.
Isso tudo me faz lembrar dos ferreiros, sapateiros, funileiros, latoeiros e açougueiros da antiga Rio Capinzal. Com exceção dos dois últimos, os demais pertencem a castas em extinção. Mas há poucas pessoas dispostas a aprenderem os citados ofícios. Tais profissionais, artesanalmente, consertaram utensílios calçados, máquinas e equipamentos durante sua vida. Hoje, altas tecnologias estão colocadas no mercado consumidor para serem descartadas intensamente. Ocasionando montes de lixo...
Aqui, minha homenagem ao Clementino Anzolin e ao Valério Dal Cortivo, verdadeiros artistas em suas funções!
Euclides Riquetti
31-05-2016
Motociclo Jawa
Rádio Semp
Clementino Anzolin tem 87 anos e mora em Erechim, no vizinho estado do Rio Grande do Sul. Valério Dal Cortivo tem 84 anos e mora em Joaçaba, aqui pertinho de casa. Quando estraga algum aparelho eletro-eletrônico, levo para ele, deixo lá e quando busco, está consertado. E funcionando perfeitamente.
Pessoas como o Tio Clementino e o Tio Valério, que na verdade é primo e não tio, mas o respeito me leva a tratá-lo como tio, são figuras em extinção por aqui. Aprenderam seus ofícios na adolescência, até hoje fazem seu trabalho com dedicação, mais por prazer do que por necessidade.
Clementino tem uma oficina de consertos de motosserras na Rua Sarandi, 500 metros longe da Avenida Maurício Cardoso, no centro de Erechim. É irmão de minha sogra. Perdeu os pais quando tinha 5 anos apenas (o pai com 34 e a mãe com 32 anos). Tinha um irmão, João Anzolin, dois anos mais velho, o qual faleceu há dois anos. Uma irmã, Anita, dois anos mais nova, minha sogra, que mora na Meia-Praia, em Itapema. E dois irmãos que são gêmeos, Francisco e Luiz, de Capo Erê. O Chico faleceu há menos de dois anos.
A oficina do Seu Clementino fica aos fundos de sua casa. Lá ele tem toda a sorte de ferramentas que foi comprando durante quase que sete décadas. Uma verdadeira coleção, de todos os tamanhos e para todos os serviços. Muitas vezes, começa a trabalhar às seis da manhã, pois tem muito serviço a fazer. Ele costuma me mostrar as peças das motosserras, opina sobre o material de cada uma. E, quando uma peça nova custa caro, ele mesmo fabrica as peças. Na última vez em que lá estive, estava fazendo uma peça utilizando nylon. Diz que é muito resistente e ele consegue passar para o cliente por metade do preço do que uma unidade importada. Mostra-me a falta de cuidado que as pessoas têm para com suas motosserras. A maioria das vezes, os danos vêm pela falta de prática no seu manuseio ou pelo desleixo com que é cuidada. Na juventude, era mecânico de motociclos, motocicletas. Era exímio piloto de motocicletas Jawa. Milhares de motociclos e motosserras passaram pelas mãos habilidosas dele.
Como seus filhos tomaram rumos diferentes do seu, não tem sucessores em vista. Diz que o Juliano, sobrinho dele, filho do Tio João, é o que tem mais interesse, mas que trabalha como matrizeiro numa fundição e que não teria tempo para trabalhar com ele. Acho que, merecidamente, todo aquele arsenal irá acabando, merecidamente, nas mãos do Juliano, que sabe dos ofícios quase que tanto quanto seu tio.
O Seu Valério, marido da Dona Terezinha, que costura fantasias para uma escola de samba aqui de Joaçaba, por sua vez, fez e tudo na vida. Foi colono em Nova Petrópolis, gaiteiro (tocou muitos bailes na região...), alfaiate, inventor, mecânico de máquinas de costura, aposentou-se como eletricista. Tem sua oficina num dos compartimentos de sua casa, aqui na Rua Albino Sganzerla. Menos de 100 metros de minha casa. Nas prateleiras, na mesa e, mesmo penduradas pelas paredes, têm ferramentas e objetos os mais diversos. Na última vez que estive lá, levei meu rádio Motorbras que ganhei há poucos meses. Fez testes, disse-me que havia algo de errado na condução da voz para o alto-falante. Quando lá retornei, recebeu-me sorrindo e disse que "o doente estava curado"! Liguei-o e estava tudo uma maravilha. Outra vez, levei uma furadeira que diziam, nas especializadas, que não tinha mais conserto. Ele fez uma peça para substituir a que estava com desgaste e deixou tudo funcionando.
Isso tudo me faz lembrar dos ferreiros, sapateiros, funileiros, latoeiros e açougueiros da antiga Rio Capinzal. Com exceção dos dois últimos, os demais pertencem a castas em extinção. Mas há poucas pessoas dispostas a aprenderem os citados ofícios. Tais profissionais, artesanalmente, consertaram utensílios calçados, máquinas e equipamentos durante sua vida. Hoje, altas tecnologias estão colocadas no mercado consumidor para serem descartadas intensamente. Ocasionando montes de lixo...
Aqui, minha homenagem ao Clementino Anzolin e ao Valério Dal Cortivo, verdadeiros artistas em suas funções!
Euclides Riquetti
31-05-2016
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