Veja as áreas de
localização do Guarani
Na década de 1960, acompanhei pelo menos duas perfurações de poços artesianos em Capinzal, uma próxima ao Cine Glória e outra aos fundos do Banco do Brasil, a primeira das agências instaladas no Baixo Vale do Rio do Peixe, ali na Rua XV de Novembro. Os operadores das perfuratrizes, as pica-paus, como eram chamadas, viraram amigos meus e moravam numa pensão ali no Ouro. Curioso, acompanhei os demorados trabalhos para atingirem o "lençol d´água", de onde retirariam o precioso líquido.
Em termos de abastecimento de água, era uma revolução para a época, uma vez que nossas cidades não tinham sistema de abastecimento de água tratado, o que só viria a acontecer na década seguinte, quando eram Prefeitos Apolônio Spadini e Adauto Colombo, respectivamente, de Capinzal e Ouro e, através da Fundação SESP, implantaram o SIMAE Capinzal/Ouro. Hoje, a coordenação dos SAMAEs em Santa Catarina é efetuada pela Funasa.
Foi, talvez, a maior conquista da história das duas cidades. Joaçaba, Herval D ´Oeste e Luzerna também têm as autarquias intermunicipais SIMAE.
Os primeiros poços tubulares abertos nas duas cidades anteriormente mencionadas, buscavam captar água do Aquífero Fraturtado da Serra Geral, que no Vale do Rio do Peixe pode estar até a 150 metros de profundidade. É possível obter-se água facilmente entre 80 e 100 metros, os poços rasos. O primeiro geólogo com quem passei a conviver a partir de 1988 foi o Custódio Crippa, que me passou muitas valiosas informações a partir de 1989, quando fomos, juntos, localizar ponto ideal para implantar um poço no Distrito de Santa Lúcia. Ele me deu as descrições de características de lugares onde se poderia encontrar fendas subterrâneas, em convergências de vales, e o levei para a Cascata de São Cristóvão. Achou que o lugar era o ideal e contratamos a abertura do poço, que deu água o suficiente para abastecer uma comunidade de mais de 100 famílias e está correspondendo positivamente há 23 anos.
Na época, dizia-me o geólogo que já existiam máquinas no Brasil, as roto-pneumáticas, que em apenas dois dias poderiam perfurar poços com 800 metros de profundidade, captando água do Aquífero Guarani, mas que custariam uma valor correspondente a um ano de arrecadação do Município de Ouro. E que poderia ser encontrada água igual à do Thermas de Piratuba, quentes e sulfurosas. E que até seria possível constuir-se um balneário em nossa cidade. Eu imaginava isso impossível, mas passei a ligar-me em assuntos relacionados ao Aquífero Guarani. Hoje, a situação mostra-se bem diferente. Obtém-se água com investimentos de menos de R$ 80.000,00 (atualmente 120.000,00).
Posso asseverar que, nos últimos 20 anos, ouvi todas as barbaridades possíveis a respeito de poços artesianos tubulares, rasos ou profundos. Os rasos, do Fraturado da Serra Geral, e os profundos, do Guarani. Mas também ouvi muitas preocupações verdadeiras e com lógica. Formei meu próprio senso e meu censo sobre isso. Em Ouro, onde mais acompanho, há quase que uma centena de poços razos já perfurados, muitos deles desativados. O perigo não é a abertura de um novo poço, que precisa estar licenciado junto à FATMA, ter ART assinada por Geólogo como responsável Técnico, e outras convenções necessárias. O perigo reside nos chamados "poços secos", que foram abertos e não lacrados devidamente. Os outros, como receberam o encamisamento à altura do subsolo e do solo, estão protegidos da invasão de águas contaminadas, dejetos de animais, ou venenos. Mas também há a preocupação com a contaminação das áreas de recarga, que é onde a água da chuva penetra na terra e desce até os lençóis. Os abertos nos últimos 10 ou 15 anos, foram bem monitorados, os secos lacrados. A preocupação deve recair sobre os anteriores, quando não havia licenciamento e acompanhamento. E o cuidado em não poluir as águas superficiais deve persistir sempre, para que só se utilizem as águas dos poços na falta das superficiais.
Mais recentemente, nos últimos 10 anos, o foco passou a ser a busca de captação no Aquífero Guarani, reserva que tem 45 trilhões de metros cúbicos de água e está localizado na América do Sul. No Brasil, atinge os estados de Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em termos de localização, o AG se distribui 70% em território brasileiro, 5% no Paraguai, 5% no Uruguai e 20% na Argentina. E, em Santa Catarina, a recarca inicia-se na região de Lages. A preocupação é tanta, e as autoridades e técnicos ambientais estão muito atentos, que até uma pedreira em Lages foi fechada, há uma década, para que não ocorresse a poluição na recarga do Guarani.
Posso até estar errado, e aceito contestações e observações, mas minhas estimativas são de que, se a água do Guarani sob o território nacional fosse utilizada apenas para o consumo dos lares brasileiros, à razão de 10 metros cúbicos por mês, que é o que eu gasto em minha casa, teríamos reservas para 5.250 anos aproximadamente, sem considerar a recarga ou reposição. Então, é muita água. Basta que cuidemos bem dela, não causemos contaminações nessas recargas e estaremos adequadamente servidos, bem como as 250 gerações que nos sucederem. E, com a reposição, infinitos tempos. É nosso grande capital. Temos águas superficiais em abundância, chuvas suficientes e luminosidade capazes de gerar alimentos como em nenhum lugar do mundo.
Nas conversas que tenho tido com os geólogos Custodio Crippa e Jorge Augusto da Silva, meus amigos e ambos residentes em Ouro, tenho conseguido informações que me permitiram formar meus conceitos sobre isso. E, acompanhando as prospecções, constatei que as águas são localizadas sempre a cerca de 100 metros acima do nível do mar. Ou seja, se a altitude for de 400 metros, o lençol poderá ser alcançado uma profundidade de 300 metros. E pelo menos três poços existem em Ouro em que foi obtida a água do Guarani a menos de 300 metros. É um norte aproximado, não uma conclusão definitiva. Como Guarani é um platô inclionado e a composição geológica é irregular, é possível que se tenha que ir alguns metros mais ao fundo para encontrar o líquido. E, quanto mais você for para o Oeste, mais profundo será, sendo que em São Miguel D ´Oeste encontrou-se água com 1.410 metros de profundidade.
No Balneário Thermas Leonense, da Barra do Leão, aqui próximo, com 280 metros chegou-se a ele num dos poços. Encontrados vestígios de petróleo, com mais uma pequena intervenção foi possível chegar-se a uma água límpida e com temperatura maior. E o poço foi revestido com tubos, isolando-se a área onde haveria o petróleo.
Então, estão certos aqueles que têm preocupação com a grande quantidade de poços já perfurados. Mas a perfuração, em si, não é o problema. O problema reside em não se cuidar das águas superficiais e da erradicação dos possíveis locais de contaminação.
Lembro a todos os leitores (as) que é nosso dever sugerir e exigir medidas e contenção da poluição em todas as suas modalidades de geração. E que nós, potenciais poluidores, façamos nossa parte, não esperando que sejamos cobrados, pela natureza, a fazer isso. Quando ela cobra de nós, o seu preço é sempre muito alto. Preservemos!
Euclides Riquetti
20-12-2012
Em termos de abastecimento de água, era uma revolução para a época, uma vez que nossas cidades não tinham sistema de abastecimento de água tratado, o que só viria a acontecer na década seguinte, quando eram Prefeitos Apolônio Spadini e Adauto Colombo, respectivamente, de Capinzal e Ouro e, através da Fundação SESP, implantaram o SIMAE Capinzal/Ouro. Hoje, a coordenação dos SAMAEs em Santa Catarina é efetuada pela Funasa.
Foi, talvez, a maior conquista da história das duas cidades. Joaçaba, Herval D ´Oeste e Luzerna também têm as autarquias intermunicipais SIMAE.
Os primeiros poços tubulares abertos nas duas cidades anteriormente mencionadas, buscavam captar água do Aquífero Fraturtado da Serra Geral, que no Vale do Rio do Peixe pode estar até a 150 metros de profundidade. É possível obter-se água facilmente entre 80 e 100 metros, os poços rasos. O primeiro geólogo com quem passei a conviver a partir de 1988 foi o Custódio Crippa, que me passou muitas valiosas informações a partir de 1989, quando fomos, juntos, localizar ponto ideal para implantar um poço no Distrito de Santa Lúcia. Ele me deu as descrições de características de lugares onde se poderia encontrar fendas subterrâneas, em convergências de vales, e o levei para a Cascata de São Cristóvão. Achou que o lugar era o ideal e contratamos a abertura do poço, que deu água o suficiente para abastecer uma comunidade de mais de 100 famílias e está correspondendo positivamente há 23 anos.
Na época, dizia-me o geólogo que já existiam máquinas no Brasil, as roto-pneumáticas, que em apenas dois dias poderiam perfurar poços com 800 metros de profundidade, captando água do Aquífero Guarani, mas que custariam uma valor correspondente a um ano de arrecadação do Município de Ouro. E que poderia ser encontrada água igual à do Thermas de Piratuba, quentes e sulfurosas. E que até seria possível constuir-se um balneário em nossa cidade. Eu imaginava isso impossível, mas passei a ligar-me em assuntos relacionados ao Aquífero Guarani. Hoje, a situação mostra-se bem diferente. Obtém-se água com investimentos de menos de R$ 80.000,00 (atualmente 120.000,00).
Posso asseverar que, nos últimos 20 anos, ouvi todas as barbaridades possíveis a respeito de poços artesianos tubulares, rasos ou profundos. Os rasos, do Fraturado da Serra Geral, e os profundos, do Guarani. Mas também ouvi muitas preocupações verdadeiras e com lógica. Formei meu próprio senso e meu censo sobre isso. Em Ouro, onde mais acompanho, há quase que uma centena de poços razos já perfurados, muitos deles desativados. O perigo não é a abertura de um novo poço, que precisa estar licenciado junto à FATMA, ter ART assinada por Geólogo como responsável Técnico, e outras convenções necessárias. O perigo reside nos chamados "poços secos", que foram abertos e não lacrados devidamente. Os outros, como receberam o encamisamento à altura do subsolo e do solo, estão protegidos da invasão de águas contaminadas, dejetos de animais, ou venenos. Mas também há a preocupação com a contaminação das áreas de recarga, que é onde a água da chuva penetra na terra e desce até os lençóis. Os abertos nos últimos 10 ou 15 anos, foram bem monitorados, os secos lacrados. A preocupação deve recair sobre os anteriores, quando não havia licenciamento e acompanhamento. E o cuidado em não poluir as águas superficiais deve persistir sempre, para que só se utilizem as águas dos poços na falta das superficiais.
Mais recentemente, nos últimos 10 anos, o foco passou a ser a busca de captação no Aquífero Guarani, reserva que tem 45 trilhões de metros cúbicos de água e está localizado na América do Sul. No Brasil, atinge os estados de Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em termos de localização, o AG se distribui 70% em território brasileiro, 5% no Paraguai, 5% no Uruguai e 20% na Argentina. E, em Santa Catarina, a recarca inicia-se na região de Lages. A preocupação é tanta, e as autoridades e técnicos ambientais estão muito atentos, que até uma pedreira em Lages foi fechada, há uma década, para que não ocorresse a poluição na recarga do Guarani.
Posso até estar errado, e aceito contestações e observações, mas minhas estimativas são de que, se a água do Guarani sob o território nacional fosse utilizada apenas para o consumo dos lares brasileiros, à razão de 10 metros cúbicos por mês, que é o que eu gasto em minha casa, teríamos reservas para 5.250 anos aproximadamente, sem considerar a recarga ou reposição. Então, é muita água. Basta que cuidemos bem dela, não causemos contaminações nessas recargas e estaremos adequadamente servidos, bem como as 250 gerações que nos sucederem. E, com a reposição, infinitos tempos. É nosso grande capital. Temos águas superficiais em abundância, chuvas suficientes e luminosidade capazes de gerar alimentos como em nenhum lugar do mundo.
Nas conversas que tenho tido com os geólogos Custodio Crippa e Jorge Augusto da Silva, meus amigos e ambos residentes em Ouro, tenho conseguido informações que me permitiram formar meus conceitos sobre isso. E, acompanhando as prospecções, constatei que as águas são localizadas sempre a cerca de 100 metros acima do nível do mar. Ou seja, se a altitude for de 400 metros, o lençol poderá ser alcançado uma profundidade de 300 metros. E pelo menos três poços existem em Ouro em que foi obtida a água do Guarani a menos de 300 metros. É um norte aproximado, não uma conclusão definitiva. Como Guarani é um platô inclionado e a composição geológica é irregular, é possível que se tenha que ir alguns metros mais ao fundo para encontrar o líquido. E, quanto mais você for para o Oeste, mais profundo será, sendo que em São Miguel D ´Oeste encontrou-se água com 1.410 metros de profundidade.
No Balneário Thermas Leonense, da Barra do Leão, aqui próximo, com 280 metros chegou-se a ele num dos poços. Encontrados vestígios de petróleo, com mais uma pequena intervenção foi possível chegar-se a uma água límpida e com temperatura maior. E o poço foi revestido com tubos, isolando-se a área onde haveria o petróleo.
Então, estão certos aqueles que têm preocupação com a grande quantidade de poços já perfurados. Mas a perfuração, em si, não é o problema. O problema reside em não se cuidar das águas superficiais e da erradicação dos possíveis locais de contaminação.
Lembro a todos os leitores (as) que é nosso dever sugerir e exigir medidas e contenção da poluição em todas as suas modalidades de geração. E que nós, potenciais poluidores, façamos nossa parte, não esperando que sejamos cobrados, pela natureza, a fazer isso. Quando ela cobra de nós, o seu preço é sempre muito alto. Preservemos!
Euclides Riquetti
20-12-2012
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