Não, não estou falando da enchente de 1983, sobra a qual já me referi e que, nesta semana, fez seu trigésimo-segundo aniversário. Estarei falando de desventuras... no futebol. Voltarei ao inverno de 1984, mês de julho, mais precisamente no dia 22. Era o dia do batizado da Aquidauana Miqueloto, filha do compadre Neri e da Zanete. Hoje a "Quida" está no pós-doc de Agronomia. Aconteceu, lá no campo do Arabutã, no Ouro, na manhã mais fria do ano.
Jogávamos futebol. Os adversários eram bem mais jovens do que nós. Eu tinha 31 anos e jogava pelos "veteranos". Lateral direito de ofício, também atuava na quarta-zaga, com a número 4. Meu companheiro, o 3, era o Vilmar Franque, que agora mora aqui em Joaçaba e está em vias de se aposentar. Nesta semana, na terça, encontrei a esposa dele lá no Frigorífico dos D ´Agostini, em Lacerdópolis, onde as pessoas compram "torresmo de barriga". Lembramos que eu e ele jogávamos "por música", nos entendíamos perfeitamente. Eu marcava o centroavante e ele ficava na sobra.
O que me leva, hoje, a relembrar esse dia, o fato?
Pois hoje, cedo, fui ao Posto da Vila, aqui em Joaçaba, do amigo "Chique", que é filho do saudoso Osvaldo D ´Agostini (que foi Presidente da Câmara de Vereadores em Ouro logo depois da emancipação...). Lá havia um carro de Capinzal, havia um homem dentro que me parecia conhecido. Olhei bem, identifiquei-o: "Você não é o Mário Poier"?, perguntei! Era... Os "Poier, Poyer e Póggere" são, todos, da mesma raiz familiar.
Enchi-o de perguntas, como é de meu feitio. "Como está? Melhorou bem da perna? Joga bola ainda? Está aposentado? Quantos filhos tem?" E ele ia-me respondendo com aquele sotaque italianado, lacerdopolitês. E começamos a rememorar nossos infortúnios de 1984.
Naquela época, nos encontrávamos nos corredores do Hospital Santa Terezinha, aqui em Joaçaba. No dia de minha fratura de tíbia e perônio, fui trazido a Joaçaba com o Fuscão 1500 do Alvanir Mafra, meu companheiro de bola, e o Vilson Farias, hoje Vice-prefeito de Capinzal. Quando passávamos pelas ruas centrais de Joaçaba, quanta dor passei. No solavanco, sobre o calçamento de pedras irregulares, os ossos feriam os músculos. Eu me olhava pelo retrovisor central e via que estava pálido. Na época eu tinha cabelos bem compridos, estava muito suado, mesmo sendo o dia mais frio daquele ano... Mas, seis meses depois, eu estava jogando bola de novo, cheio de disposição e vitalidade.
O que acontecera com o Mário, morador de Lacerdópolis, jogador do Beija-flor, da comunidade de Santa Bárbara, na divisa deste município com Ouro? Bem, ele teve uma fratura semelhante à minha, mas com um agravante. Sua perna "fincou no barro e na grama" e, após o gesso, continuou com muita dor, por muito tempo. Sempre que o encontrava, ele se queixava, muito. Em seis meses, eu estava de volta ao meu futebol. Ele, sempre com muitas dores, não se recuperava.
Com o tempo, descobriram que, dentro da perna, ficara uma folhinha de grama... e isso não possibilitava a consolidação da fratura. Imagine quanto ele sofreu! Foram três anos de martírio. Hoje, falou-me que o acidente aconteceu em Nossa Senhora da Saúde, no Ouro. Ele jogava para o Beija-flor, era zagueiro e levou uma entrada forte de um adversário e teve a perna fraturada. O time adversário era o glorioso Noroeste, aquele mesmo que, na virada da década de 1960 para 1970, ganhou um torneio de futebol no Campo do Arabutã, com o Mandu (Nadir Gramázzio), e o Santinho (Santo Penso), respectivamente, chutando e defendendo penalidades. O Rui Toigo, seu companheiro, foi quem o levou ao Hospital. Naquele tempo, as coisas eram bem diferentes do que hoje, não havia ambulâncias, bombeiros, Samu...
Fiquei muito contente em reencontrar o Poier. Falou-me que, da perna, está muito bem. Mas está cuidando de outros problemas de saúde. Com boa aparência, nos seus 69 anos. Espero que o reencontre muitas vezes, ainda. E que goze de boa saúde e tenha longa vida.!
Euclides Riquetti
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