segunda-feira, 27 de março de 2017

Evita Perón - A História de um Mito (primeira parte)



          Quatro décadas após sua morte, Maria Eva Duarte de Perón, a Evita (07-05-1919 - 26-07-1952), ainda fascina poetas, escritores e diretores do cinema mundial. O fato de ela ter morrido de câncer, aos 33 anos, quando era a Primeira Dama da Argentina e estava no auge de sua popularidade,  muito contribuiu para a propagação de seu nome. Evita foi tema recorrente nos noticiários radiofônicos e televisivos do mundo pelo menos por duas décadas após a sua morte. E, até hoje, seus fãs, como eu, lembram dela com emoção.

          Em minha infância e juventude, muito ouvia falar de "Evita", a "Santa Evita", protetora dos descamisados e das mulheres da Argentina. Evita, que fora esposa do Presidente Juan Domingo Perón, tornou-se um mito, mais pelo seu carisma e talento político do que por seus dotes artísticos. Mas, até hoje, o povo argentino chora sua morte... Meu primeiro contato efetivo com sua história ocorreu em 1979, quando recebi a incumbência de um amigo e patrão, Lourenço Brancher,  de traduzir a ópera-rock que foi produzida em sua homenagem. Era um álbum com disco de vinil e a letra impressa de "Evita". Encantei-me com sua história, comecei a pesquisar sobre sua vida e fui lendo tudo o que pude encontrar sobre ela. Mais adiante, com o sucesso de uma música em sua homenagem, passei a emocionar-me em todos os momentos que a ouvi. Evita era bonita, mas muito mais bonita era sua história...

          Eva Duarte era filha de Juana Ibarguren, a bela amante de um fazendeiro do povoado de Los Toldos, localizado ao sul de Junin, Província de Buenos Aires. Juana fora adquirida pelo estancieiro, a troco de uma carroça e um jumento...Ela e mais quatro irmãos, um menino e três meninas,  foram criados na fazenda, ao mesmo tempo que seu pai, Juan Duarte, vivia com sua família e seus outros seis filhos legítimos, em Junin. O pai dava assistência aos filhos que teve com Juana, até que ele morreu. E os filhos de Juana eram constantemente humilhados por serem bastardos. Depois, a família, desprotegida, quando Eva tinha 11 anos, foi morar em Junin.

          Evita era obstinada em tornar-se atriz famosa e,  aos 15, com seu irmão Juancito, a  sonhadora foi trabalhar em Buenos Aires, levada pelo cantor de tangos Agustín Magaldi, onde pretendia fazer carreira como atriz de teatro e cinema.
          Desde criança, Eva sonhava em ser atriz, inspirando-se em Norma Shearer, americana. Queria ser igual a ela, ter as mesmas coisas belas que ela tinha, morar em casas como ela morava. Evita era uma sonhadora, tando que, ainda menina, dizia: "Só me casarei com um príncipe ou um presidente!"

          Conseguiu um papel no filme "Segundos Afuera", em 1937, e passou a integrar elencos de radionovelas, fazendo com que, aos poucos, fosse tornando-se conhecida em Buenos Aires.

          Seu conto de fadas, no entanto, começou a ganhar corpo em 1944, quando o então Coronel Juan Domingo Perón, Vice-presidente da República da Argentina, e Ministro do Trabalho e da Guerra, promoveu um evento artístico no Ginásio Luna Park, em, Buenos Aires,  para angariar fundos para as vítimas de um terremoto. Eva aproveitou-se da situação em que uma atriz que acompanhava o Coronel levantou-se e sentou-se em seu lugar, ao seu lado. Encantada que era com seu ídolo, disse-lhe, francamente, e do fundo de seu coração: "Coronel, obrigada por existir!"

          Dali para seu casamento com ele, no ano seguinte, foi apenas uma questão de tempo. Apaixonaram-se e, aos 25 anos, tornara-se esposa do político de grande influência em seu país, por defender as classes operárias. Ela, igualmente, defendia os pobres e as mulheres. Sofrera humilhações na infância e não queria o mesmo para seus compatriotas. Perón, em razão de suas posições fortes em favor dos operários, foi preso pelos militares conservadores. No entanto, a luz de Evita começa a brilhar mais fortemente, liderando comícios e manifestações em favor do amado, e ele é libertado.  E, em 1946, é eleito Presidente da Argentina, com o incondicional apoio de sua Evita.

          Evita consegue o direito de voto às mulheres e luta pelos seus "descamisados". Torna-se um mito. É idoltrada e venerada pelos argentinos,  e suas aparições na sacada da Casa Rosada atraem uma grande massa de seguidores. O sonho de mocinha que queria ser atriz é substituído pelo carisma e habilidade política. Suas palavras alentam e dão esperança de dias melhores para todos os que a admiram e ouvem. E, em apenas sete anos, a menina de Los Toldos transforma-se numa poderosa líder, a Líder Espiritual dos Argentinos, tornando-se parte integrante de sua vida e de sua história...



Euclides Riquetti
17-11-2012

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