sábado, 15 de outubro de 2022

Luiz Faccioni - o colono inventor - Homenagem aos saudosos Vicenza e Deoclides Rech

 

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          Em outubro de 1910, quando inauguraram a estrada de Ferro da Rede Viação Paraná Santa Catarina, mais tarde RFFSA, já havia muitas famílias morando em Rio Capinzal e no então Distrito de Abelardo Luz. E, pela questão do Contestado, Abelardo Luz, hoje Ouro, não pertencia a Santa Catarina e sim à cidade de Palmas, Paraná.

          Ocorre que, pela conveniência da história, contada pela "classe dominante", sempre se omitiu dizer que havia, em Ouro, muitos caboclos e "brasileiros" antes da chegada dos descendentes de italianos. (Se buscarmos a literatura histórica do saudoso amigo Dr. vítor Almeida, vamos ver que é um pouco diferente do que se propagou durante os anos). Mas, em reuniões que realizei, há 10 anos, nas diversas comunidades do Ouro, com as pessoas mais idosas, levantei que antes de nossos italianos havia, por exemplo, os Teixeira Andrade, em Linha Bonita (1902), o Veríssimo Américo Ribeiro (viram d Vacaria em 1919, mas ainda não havia italianos ali), e outros em Pinheiro Baixo, e um "tal Francisco D ´amendoa e um Benedito", em Leãozinho, e os Silva, em Pinheiro Alto. Os Teixeira Andrade e os Américo Ribeiro adquiriram sua terras. Os outros eram considerados posseiros.

          Pois bem, em Pinheiro Alto até hoje é bom escutar as histórias contadas pelos Morés, Masson  Dambrós e  Borsatti. Quando se reunem para jogar baralho ou bochas, no pavilhão da comunidade, tomando um brodo no inverno,  ou umas birotas, é até bom só ficar ouvindo-os contarem as histórias. E eles riem até dos próprios infortúnios.

          Uma das histórias que mais me marcaram foi a sobre Sr. Luiz Faccioni, um dos primeiros a chegar. Contam os que ali ainda vivem que este senhor era um grande inventor. Tinha farta imaginação e tudo o que imaginava gostava de materializar. Enquanto carpia ou roçava, pensava. Pensava muito. E, nos dias de chuva, procurava dar forma às suas ideias. Gostava de inventar máquinas e equipamentos. Até  inventou uma máquina de costura, feita em madeira. fez as agulhas com espinhos de laranjeira, que quebravam facilmente e isso o deixava irritado, mas não desistia nunca.

          Agora, do que mais riem nossos amigos lá, é da história das asas. De certa feita, com madeiras leves e panos, confeccionou um par de asas. Queria voar. Se os pássaros voavam, era possível que ele também pudesse voar. Amarrava-as ao corpo, às costas, e corria pelo pátio, ali onde morou, até recentemente, o Mário Masson. Fica numa estradinha que dá acesso à estrada geral, indo-se do sentido da cidade para lá,  uns dois quilometros antes da Igreja, à direita.

          E chegou o grande dia. reuniu esposa e filhos e falou-lhes, em seu dialeto italiano, que tinha chegado a hora. ia fazer sua primeira viagem voando. Voaria até Caxias do Sul, onde rencontraria seus parentes. Depois voltaria para o Pinheiro Alto. E, se as asas fossem aprovadas, faria depois umas que lhe permitissem voar até a Itália...

           E, no dia escolhido, subiu ao sótão da casa  e  fixou, com a ajuda dos filhos seu par de asas. Despediu-se e planou... Seu voo breve deu-se até sobre os arames do parreiral, onde quebrou umas costelas. A notícia logo espalhou-se pelas redondezas.

          Conta-me o amigo Deoclides Rech que ele era bem criança ná época e foi com seus pais visitar o vizinho que, além de algumas costelas quebradas estava com muitos hematomas pelo corpo. Lá, ainda encontrou a Vicenza Masson, uma menina da comunidade.

          Agora, o Vovô Deoclides e a Dona Vicenza, bem idosos, moram na Vila Unidos, no mesmo local ainda. E, quando contam essa história, riem muito. E fazem a gente rir junto!

      

         Euclides Riquetti - 2012

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