segunda-feira, 24 de julho de 2023

O Filho do Almiro e da Gessi - um reencontro emocionante!

 

0ntem passei pelo local onde a Gessi  repousa...



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          Há coisas que acontecem na vida das pessoas que só podem ser sinais da presença de Deus. Coisas que não têm uma explicação lógica: acho que acontecem porque têm que acontecer.
         
          Pois,  no último sábado, 24, de manhãzinha,  esperamos a vinda de um técnico que viria para instalar um aparelho de ar-condicionado em nossa casa. Tudo preparado, antes das nove horas chegou uma caminhonete com dois rapazes. Cumprimentamo-nos. Um deles, o Rafael,  já havia vindo para realizar um trabalho semelhante. Minha esposa lhes ofereceu café, que foi aceito por ambos. Já haviam tomado água, Nós os tratamos como gente da família. E, nessas ocasiões, falantes que somos, (mais eu do que a esposa...), fomos trocando ideias.

            Detalhista, costumo pedir sobre  o trabalho, a família, se estudam, o que fazem, o que gostam de fazer. Incentivo para que todos estudem, leiam, escrevam, progridam. Gosto de falar sobre música, política, letras, futebol, enfim, de tudo um pouco...

            Mas o sábado se conduzia para tornar-se um dia muito especial. Perguntei ao mais velho dos dois se era natural daqui mesmo, disse que morava em Herval d ´Oeste, que era irmão do Jaime Ditzel,  que é conhecido como o "Jaime do Mercado". Falei-lhe que já tinha ouvido falar do Jaime, que sabia que ele tinha um automóvel "Tigra" vermelho, muito bonito, que já fora meu sonho de consumo. Imaginava, há uns dez anos, que compraríamos um para o filho quando terminasse a Faculdade. Em poucos minutos, parecíamos velhos amigos..
          Não sei  como, mas ele acabou me dizendo que era da região de Capinzal, que nascera por lá...

ABRINDO PARÊNTESIS:
          Bem, muitos fatos que marcaram minha vida estão bem claros em minha mente. Durante muitos anos me perguntei onde estaria o Jakson, um menino que nascera no verão de 1979, quando morávamos no Distito de Zortéa, então pertencente a Campos Novos. Uns três meses antes de minhas filhas, gêmeas Michele e Caroline nascerem. Algumas vezes que encontrei parentes dele perguntei onde estava o menino. Diziam-me que estaria em Joaçaba...
         
         Naquele janeiro eu estava organizando o almoxarifado da Zortea Brancher, aproveitando minhas férias escolares. Num  determinado dia, um alvoroço ali perto de onde eu estava e a notícia: a Gessi Hack, esposa do Almiro Meloto, havia morrido no parto, num hospital em Capinzal. A Gessi era irmã do Omar Hack, cunhada da Dona Fanny, tia do Adalberto, Aimar e da Ledi. Morara com eles e, nesse tempo, casou-se com o Almiro Meloto. Toda a comunidade ficou chocada. Ela tinha vinte e poucos anos, uma loira de olhos claros, muito bonita, cheia de saúde...

          O Almiro era meu amigo. Antes de ir estudar em União da Vitória, eu o conhecera. Viera do "Rio Grande", fora morar com o tio, Zulmiro Meloto, em Capinzal. Sua irmã, a jovem Irone, estudava no Mater Dolorum, era namorada do Jaime Baratto, o fotógrafo. Nos domingos, vinha com uma Kombi azul claro até o Ouro, onde tinha um amigo que morava de pensão na casa de minha tia, Maria Lucietti, esposa do tio Victório Richetti, o Elvides Roque Zulianello da Silva, gaiteiro, gaúcho de Vacaria. Éramos companheiros de bailes,  de festas  e de serestas. Cinco anos depois, ao voltar, depois de formado, fui morar em Zortea e reencntrei o Almiro: bigode e cabelão. Foi uma alegria reencontrá-lo!

           Dezenove de janeiro de 1979. Este é o dia do nascimento do menino Jakson. Não conheceu a mãe. No dia da fatalidade, o Almiro estava viajando com o caminhão do Omar pelo Rio Grande do Sul. O Hermes Susin, zorteense,  meu amigo que agora mora em Joaçaba, contou-me, domingo, que nesse dia escutara pela Rádio Gaúcha,  que apelavam a quem pudesse avisar o Almiro sobre o triste acontecimento. A Polícia Rodoviára estava tentando localizá-lo.

          No dia seguinte, à tarde, celebramos a Missa de Corpo presente da Gessi, na Capela de Santa Catarina, em Zortéa. Fizemos uma celebração à altura do merecimento daquela jovem mãe, cristã, que perdera a vida ao dar seu filho, tão esperado, tão desejado, à luz do sol.  Todos estavam inconformados e incrédulos com o que havia acontecido... O Almiro chegou a tempo de acompanhar a esposa até sua última morada...

RETORNANDO À REALIDADE PRESENTE:

          Tão logo me falou que era "daquelas bandas", perguntei de que família era. Disse-me o nome: Jakson Hack Gomes Meloto. Bastou isso. Olhei para ele e percebi logo: era a cara do Almiro, só podia ser o filho dele. Falei: "Sua mãe era muito bonita. Gostava de usar vestido azul, tinha olhos azuis. Fiz o comentário da missa no dia em que ela foi sepultada"! Emocionei-me e percebi que ele também ficara mexido. Falou que até ficara curioso em saber sobre a mãe dele, que não chegou a conhecer.

          Foi um dia muito marcante para mim e minha esposa. Grávidas à mesma época, Gessi morava, antes de casar-se, na casa da  Dona Fanny era costureira e sua  cunhada. Costumava passar seus dias ali enquanto o marido viajava pelas estradas.  Muitas vezes se encontraram na casa dela e nas missas e cultos. Falavam da gravidez e das expectativas. Não se utilizavam ultrassom nas pequenas cidades, ainda não havia. Imaginavam de seria memino ou menina. E, naquele dia, veio-nos a triste notícia. A Mirian, grávida de nossas filhas, foi retirada do velório, pois as colegas professoras e a comadre Vitória achavam que ela não deveria ficar lá, que seria um abalo muito grande. Mas participou da missa.

          O Almiro estava abaladíssimo e nos dias que se seguiram veio a decisão: o menino, que ainda estava no hospital, ficaria com os tios Darci e Ladi Ditzel. O Darci trabalhava conosco na Zortéa Brancher, era representante comercial. O Jaime, trabalhava conosco na Administração.

          Agora, 35 anos depois, o Jakson aparece na nossa casa. Quando aceitou o café, disse a minha esposa, Miriam, que já a conhecia, que uma vez viera aqui fazer a entrega de um móvel que ela comprara. Eu olhava para aquele rapaz e um hiato de 35 anos nos dividiu. Eu sabia muito e também nada sabia sobre ele. Deus o mandou até nós. Senti a alegria dele em saber que a mãe dele era uma mulher bonita e que o esperava carinhosamente. Quanto ao Almiro, uns tempos depois, morreu vitimado por um acidente com seu caminhão. Rezo por ambos, Almiro e Gessi, ele meu amigo e ela amiga de minha esposa. Que Deus os tenha! E que possamos, muitas vezes, reencontrar o Jakson, moço dócil, educado. Herdou a maneira de ser dos pais...

Euclides Riquetti
29-05-2014

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