sábado, 29 de junho de 2024

Desafios para os novos prefeitos a partir de 2025 – a séria questão do lixo.

 



       O tempo corre célere e as datas das convenções dos partidos para escolher seus candidatos a Prefeito, Vice e Vereadores se aproximam. As conversas de bastidores estão ativas e as especulações nas ruas, por quem gosta um pouco de política, acontecem direto. Tenho conversado com pessoas envolvidas diretamente nos partidos e com eleitores comuns, aqueles que não militam por candidatos, mas que gostam do assunto e têm opinião formada. Engana-se quem pensa que o povo não está nem aí para as eleições. Cada vez mais, a informação rápida que chega ao cidadão por muitos meios, acaba envolvendo até aqueles que não vinham acompanhando os últimos pleitos. As polêmicas em nível nacional ocuparam tanto espaço nas mídias, que os eleitores começaram a dar mais atenção à política partidária. Preferências por partidos, ideologias, interesses pessoais, religião, informação e contrainformação, tudo rema em favor do envolvimento das pessoas nas campanhas, diretamente, ou apenas na torcida.

       Lixo que não é lixo – um desafio enorme para as prefeituras - Na semana passada, participei de uma audiência pública realizada na ACIOC, em Joaçaba, onde nos foi mostrado um projeto de coleta e destinação do lixo urbano e mesmo do rural. Um projeto bem feito, com uma boa metodologia e bem apresentado por uma jovem dos quadros do Município. Algumas pessoas se manifestaram através de perguntas e emissão de opinião sobre o assunto apresentado, não foi um debate. Claro que cada um fala o que lhe convém, procura vender o seu peixe.

       Na oportunidade, fiz algumas observações e já alertei que terão a judicialização quando do trâmite do projeto no Legislativo ou mesmo fora dele. Os critérios usados para definir os valores das tarifas, embora sejam favoráveis à gestão, são cruéis aos contribuintes, pois não mudam do que vem sendo praticado hoje. Os cálculos obedecem critérios de tamanho de área residencial ou do empreendimento. O justo é que as pessoas paguem sobre o lixo que produzem. Nas contas de luz e de água são realizados cálculos sobre a quantia de consumo medida. Na questão do lixo urbano, não se terá uma métrica perfeita, mas o critério de consideração do número de pessoas que ocupam uma residência seria bem mais justo.

       O radialista Carlos Henrique Roncáglio também apresentou sugestões interessantes, inclusive que se buscasse informações sobre um consórcio intermunicipal de municípios mais próximos do litoral catarinense. Seria interessante que se fosse verificar aquele projeto.

       Foi-nos apresentado um quadro comparativo dos valores médios pagos em outras cidades, mas isso não pode servir de parâmetro, pois a amostragem foi ínfima e não se teve mostrado o critério de busca.

       Alguns casos de reutilização do material descartado - Conheço vários projetos de coleta e destinação do lixo sólido, rejeito e reciclável. Já há 30 anos, em Amparo, SP, os entulhos de construções e de vidros eram recolhidos por carroças com tração animal, transportados para um pátio onde eram triturados, resultado num material britado que podia ser utilizado em pavimentações e até na construção civil. E centenas  de pessoas tinham suas rendas com esse procedimento. Trabalho cooperativado. Em Curitiba, o projeto “Lixo que não é Lixo”, inspirou um que implantamos em Ouro no final do milênio anterior, pelo Prefeito Sérgio Durigon, com coleta seletiva, triagem e venda dos materiais. Adquiriu uma área de 242 mil metros quadrados, fora do quadro urbano, onde se implantaram equipamentos com dinheiro obtido junto ao Ministério do Meio Ambiente, “a fundo perdido”. O projeto não teve continuidade nas administrações seguintes e a coleta e destinação foi terceirizada.

       Participei, há duas décadas, de eventos na cidade de Marcelino Ramos, onde o prefeito da cidade de Leipzig, na Alemanha, e um Engenheiro, nos mostraram que, naquela cidade, o chorume era tratado de forma que resultava numa água tão limpa que, para ser reintroduzida nos mananciais, precisava ser remineralizada. E que os detritos orgânicos podiam ser transformados em fertilizantes para utilização em plantações de mamona, com o fito de produção de biodiesel.

       O lixo útil e as práticas justas - A questão do lixo de nossas cidades precisa ser encarada de maneira coletiva, pois quantos mais entes são agregados, menos se gastará por unidade geradora deste. E a coleta e a destinação, pura e simplesmente com a passagem para uma concessionária que dê conta dele, não garante que o lixo seja utilizado como elemento de economia, capaz de gerar energia, trabalho, melhoria do Meio Ambiente. Lixo é riqueza! Não se pode ir adiante num  projeto que não seja abrangente e sustentável. E, pelo lado das tarifas, uma senhora que faz compostagem, que até recicla os componentes, que produz mudas de plantas e distribui gratuitamente, como a professora aposentada Yara Turcatel, não pode pagar mais do que meia dúzia de pessoas abrigadas numa casa de menos de 100 metros quadrados. Nem uma loja que não produz lixo pague tanto quanto uma que, embora em instalações diminutas, a cada dia produza centenas de quilos de lixo. Eu também faço compostagens, cultivo águas hortaliças e faço minha parte. Tenho certeza de que os moradores de Joaçaba e das outras cidades têm ideias muito interessantes para contribuir com isso.

Euclides Riquetti  - Escritor – www.blogdoriquetti.blogspot.com

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